Uma das maiores disputas entre católicos e
evangélicos está, sem dúvida, na questão do uso das imagens na Igreja. A Igreja
Católica defendeu o seu uso desde o princípio, e também as igrejas cristãs
ortodoxas, ao contrário de certas novas comunidades, em terras brasileiras
denominadas "evangélicas". Ocorre que, a partir de Lutero, as novas congregações
cristãs passaram a encarar a questão como um insulto ao mandamento divino que
proíbe a confecção de imagens: "Não terás outros deuses diante de mim. Não
farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu nem
em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra." (Êxodo, 20,
4-5)
Muitos pastores frequentemente atacam aos católicos,
chamando-os de "idólatras", nome que na antiguidade era dado aos pagãos
adoradores de ídolos, como se as imagens usadas nos templos católicos
representassem ídolos; ou - ainda pior - dando a entender que a Igreja ensina a
adorar essas imagens. Basta uma breve e simples averiguação para se constatar
que nada disso corresponde à verdade: em primeiro lugar, as imagens que se
encontram nas igrejas católicas não são "ídolos", isto é, não representam deuses
estranhos (é a isso que o termo se refere). Segundo, a Igreja jamais ensinou a
“adorar” essas imagens, mas sim que se tratam de representações artísticas, com
função de homenagem à memória dos santos e anjos e do próprio Jesus Cristo.
Muito simples.
Para começar a entender a questão, convém antes
explicar o que é uma "imagem". Para cumprir o mandamento bíblico ao pé da letra,
isto é, fora do seu contexto, e não usar imagem de modo algum, nós teríamos que
derrubar todas as estátuas e monumentos das praças e museus; queimar as obras
clássicas das galerias de arte; não poderíamos possuir qualquer objeto
figurativo, nem algum livro com figuras ou deixar uma filha brincar de boneca;
não se poderia fixar em parede alguma poster ou cartaz; não assistir TV (imagens
em movimento) nem ter um porta-retratos, nem nada parecido com isso! Em última
análise, o registro e porte de documentos oficiais estaria proibido, pois exigem
fotografia, que se trata de um tipo de imagem gravada em papel...
Desde a origem da humanidade, já na época das cavernas,
o homem sempre se utilizou de pinturas, desenhos e esculturas para dar a
entender ou explicar suas idéias. Esses meios serviram e ainda servem para
auxiliar a visualizar e compartilhar conceitos abstratos de uma mente para
outra; isto é, para explicar o que não poderia ser definido em palavras. E
sabemos que foi exatamente daí que surgiu a escrita. - Portanto, se não fosse
pelo costume ancestral de se representar o mundo e a vida através de imagens,
primeiramente gravadas na pedra, que depois se tornariam símbolos e sinais, nós
não teríamos a escrita; - consequentemente, não teríamos a própria Bíblia
Sagrada...
Para que se possa entender e observar qualquer
proibição, regra ou preceito (seja ou não de cunho religioso), é preciso
entender a quê se refere. - Neste caso específico, não é difícil entender, acima
de qualquer dúvida, que a proibição do Antigo Testamento da Bíblia se refere,
explicitamente, à adoração e não ao simples uso cultual: "Não terás
outros deuses diante de mim..." - Claro que a proibição se refere às imagens dos
deuses dos povos pagãos que rodeavam a terra de Israel naquela época, que tinham
muitas vezes a forma de pássaros, répteis e outros animais terrestres, seres
marinhos e outros (por isso a especificação 'nem do que há em cima no céu nem em
baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra'). A proibição se refere a um
tipo específico de imagem (falsos deuses pagãos), para um uso específo (adoração
ao falso deus na imagem), e não a todo e qualquer tipo de imagem, em toda
e qualquer situação. Qualquer estudioso ou pesquisador, que possua o mínimo
de conhecimento a respeito do contexto histórico do Antigo Testamento, isso é
mais do que óbvio.
Mesmo nas igrejas protestantes mais antigas e
tradicionais da Europa (berço do protestantismo) e dos Estados Unidos, é comum e
frequente o uso de pinturas, crucifixos, vitrais, imagens de anjos e símbolos
religiosos. Entretanto, algumas seitas cristãs derivadas do protestantismo
original (que são fudamentalistas e adotam uma interpretação totalmente literal
da Bíblia), que se proliferam especialmente nos países subdesenvolvidos da
América Latina (destaque para o Brasil), insistem no ensino equivocado de que o
texto bíblico proíbe irrestritamente o uso de todo e qualquer tipo de imagem no
culto religioso. Como entender tal fenômeno? A análise do problema nos força a
escolher entre uma de duas explicações:
a) Os líderes de tais seitas agem de
má-fé. Infelizmente é fato histórico que as novas seitas heréticas, para
se estabelecer e aumentar o número dos seus adeptos em países de maioria
católica, sempre optoaram por desestabilizar a fé da população, utilizando-se,
entre outras táticas, de artifícios caluniosos;
b) Ignorância. É bastante provável que ao
menos uma parte dos "pastores" de algumas dessas seitas realmente acreditem no
que ensinam. Nesse caso, fica evidente o seu total despreparo como líderes
religiosos, pois demonstram completo desconhecimento do contexto histórico e
filológico em que surgiram as leis do Antigo Testamento. Evidentemente, não
basta ler a Bíblia: é preciso entender o que ela realmente diz. Exatamente por
isso, Jesus Cristo deu autoridade aos seus Apóstolos. Se fosse para cada um ler
os textos sagrados e interpretá-los do 'seu jeito', baseados apenas em sua
inteligência e suas sensações, não haveria como não acontecer o que está
acontecendo agora: milhares de "igrejas" que não param de surgir todos os dias,
cada uma ensinando coisas diferentes... Tem até "bispo" defendendo o aborto(!!),
quando toda a Bíblia ensina que somos formados e escolhidos por Deus "desde o
ventre materno" (conf. Salmo 22, 10 / Jeremias 1, 5 / Jó 31, 15 / Salmo 139, 13)
. Um absurdo teológico, entre muitos outros absurdos...
Muita gente também não sabe que a origem do uso das
imagens cristãs remonta aos períodos primitivos do cristianismo. - Quando a
maior parte dos membros da Igreja era composta por iletrados analfabetos, a
compreensão das histórias bíblicas se fazia por meio de desenhos e esculturas.
As primeiras comunidades cristãs já se identificavam com símbolos e imagens,
como a cruz, o peixe, o cálice, o cordeiro e outros, e logo passaram a
representar o Cristo como Bom Pastor. - Que no começo era a figura de um jovem
sem barba, de cabelos frisados, carregando uma ovelha nos ombros. - Logo a
seguir surgiram as representações do Cordeiro Pascal e os ícones (esculturas)
alusivas aos acontecimentos da vida de Cristo.
A tradição do uso das imagens, portanto, vem dos
primeiros cristãos, como um meio para dar a conhecer e transmitir a fé e o amor
a Cristo e preservar a memória dos santos. Entre as muitas provas, estão as
catacumbas dos primeiros cristãos - a maioria localizada em Roma - onde ainda se
conservam imagens, como as de Santa Priscila, anteriores ao séc.
III.
Fonte: Voz
da Igreja
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