sexta-feira, 26 de junho de 2015

Nova ameaça da “ideologia de gênero”



Cardeal Orani João Tempesta


“A ideologia de gênero é uma tentativa de afirmar para todas as pessoas que não existe uma identidade biológica em relação à sexualidade. Quer dizer que o sujeito, quando nasce, não é homem nem mulher, não possui um sexo masculino ou feminino definido, pois, segundo os ideólogos do gênero, isto é uma construção social” (Dr. Christian Schnake, médico chileno e especialista em Bioética, Ideologia de gênero: conheça seus perigos e alcances. Destrave. Canção Nova, acessado em 2/6/15), conforme expus em Nota Pastoral recém-publicada.
Ora, essa ideia, que vem sendo difundida como palavra de ordem nos últimos tempos, apareceu no Plano Nacional de Educação (PNE), mas, graças à mobilização das forças vivas e atuantes do Brasil, contando, inclusive, com alguns Bispos, foi banida. Agora, porém, volta ao Plano Municipal de Educação (PME). No mínimo isso é uma incoerência: colocar no plano municipal o que não consta no federal! Cada município ficará, pois, por meio de seus vereadores, responsável, diante de Deus e de seus munícipes, de excluir (se, obviamente, já estiver no texto), até o fim de junho, a revolucionária ideologia de gênero para as crianças e adolescentes em fase escolar atendidas pela rede municipal de ensino. Arbitrariamente, algumas atitudes federais já inserem alguns tipos dessa ideologia em nossas escolas, mesmo através de livros e outras decisões por decreto. Querem transferir para a orientação da escola aquilo que as famílias são chamadas da passar aos seus filhos.
De um modo amplo, ideologia é um termo que se origina dos filósofos franceses do século XVIII, conhecidos como ideólogos (Destutt de Tracy, Cabanis etc.) por estudarem a formação das ideias. Logo depois, passou a designar um conjunto de ideias, princípios e valores que refletem uma determinada visão de mundo, orientando uma forma de ação, sobretudo uma prática política.
Hoje, o termo ideologia parece ser amplamente utilizado, sobretudo por influência do pensamento de Karl Marx, na filosofia e nas ciências humanas e sociais em geral, significando o processo de racionalização – um autêntico mecanismo de defesa – dos interesses de uma classe ou grupo dominante para se manter no poder (cf. H. Japiassú e D. Marcondes. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999, verbete ideologia).
Ora, esta base é que sustenta a ideologia de gênero, cujas raízes merecem ser, em suas várias vertentes, conhecidas pelo povo brasileiro.
Pois bem, no período entre as duas grandes guerras mundiais (1918-1939), estudiosos de diversas áreas – Filosofia, Sociologia, História, Economia, Psicologia etc. – ligados à chamada Escola de Frankfurt, se puseram a criticar tanto a burguesia capitalista quanto o comunismo extremado, ou seja, aquele de fundo marxista-leninista dogmático. Em seu lugar, propunham um marxismo sorridente, capaz de se difundir no Ocidente dado que aqui se faziam muitas ressalvas ou críticas ao modelo comunista russo implantado no governo desde novembro de 1917.
Esse comunismo, mais aberto para enganar os ingênuos, trazia em seu bojo a filosofia marxista da luta de classes, na qual, segundo o filósofo alemão Frederick Engels, em sua obra “A Origem da Família, da Propriedade e do Estado”, escrita em 1884, “o primeiro antagonismo de classes da história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher unidos em matrimônio monogâmico; e a primeira opressão de uma classe por outra, com a do sexo feminino pelo masculino” (New York, 1972, p. 65-66).
Pois bem, essa luta de classes no modelo tratado por Engels foi unida às teorias de Sigmund Freud (1856-1939) e transformada também em luta de sexos, na qual a mulher seria a classe oprimida e o homem a classe opressora. A libertação viria no momento em que as mulheres se soltassem sexualmente, praticando a genitalidade sem barreira alguma. Mesmo o “incômodo” do filho teria solução: a Rússia legalizou o aborto já no ano de 1920, visto que ainda não se conhecia a pílula anticoncepcional e muito menos os fármacos abortivos.
Infelizmente, tudo isso não foi libertador, mas tornou muitas mulheres, sempre tão queridas por Deus, novas escravas, não mais apenas vítimas dos homens, mas de si mesmas, dado que, talvez na ânsia de se libertarem, acabaram pagando o alto preço dos efeitos colaterais da libertinagem, especialmente com o aumento da prostituição, do consumo de álcool e de outras drogas, das pílulas anticoncepcionais, das pílulas do dia seguinte (abortivas) e do aborto cirúrgico, cujas sequelas no corpo e na mente podem ser danosas para sempre. Afinal, nenhuma mulher com uma boa formação humana e cristã, por sua natureza materna inata, dormirá em paz depois de pensar que assassinou o próprio fruto do seu ventre.
Logo depois se assomou a isso tudo o construtivismo social. Que ensina essa escola? – Ensina a desconstrução da realidade, e, com Jaques Derrida e Michel de Foucault, foi também aplicada à sexualidade. Para eles não existe a realidade (objeto) nem o homem que descobre a realidade (sujeito), mas apenas a linguagem que produz os objetos ao lhe dar os nomes que os classifica e caracteriza. 
Essa linguagem, porém, é fruto de mera construção social que atribui a ela o valor semântico que quiser. Daí serem esses valores mutáveis como a sociedade, de modo que o modelo cultural atual é responsável por destruir o anterior, e assim sucessivamente, inclusive no campo moral. Reina, portanto, o relativismo, e, para Foucald o pansexualismo: tudo giraria em torno da sexualidade.
Com o existencialismo ateu, dá-se um passo além, especialmente por obra de Simone de Beauvoir. Esta ensina que “não se nasce mulher, mas você se torna uma mulher; não se nasce um homem, mas você se torna um homem”. O gênero seria uma construção sociocultural sustentada pela experiência. Ora, se a experiência da mulher foi a de ser dominada pelo homem ao longo da história, na visão de Beauvoir, toda hierarquia deveria ser eliminada da vida pública e privada para dar lugar a relações de igualitarismo marxista (não de igualdade cristã) entre os seres humanos.
Chega-se, assim, ao feminismo de gênero como uma espécie de síntese de todas essas correntes que, brevemente, apresentei acima. Esse tipo de feminismo supera o anterior que o preparou, ou seja, aquele feminismo inicial desejoso de que a mulher fosse equiparada aos homens. Descreve bem essa evolução feminista a seguinte declaração de Shulamith Firestone: “Para organizar a eliminação das classes sexuais é necessário que a classe oprimida se rebele e assuma o controle da função reprodutiva..., pelo que o objetivo final do movimento feminista; isto é, não apenas a eliminação dos privilégios masculinos, mas da própria diferença entre os sexos; assim, as diferenças genitais entre os seres humanos nunca mais teriam nenhuma importância” (The dialectcsof Sex. Nova York: Bantam Books, 1970, p. 12).
Tudo isso leva-nos ao cerne do gênero, que é a permissão para que sejam eliminadas (como se isso fosse possível) todas as diferenças entre os sexos, complementando desse modo o que propusera o feminismo anterior ao pregar o seguinte: “a raiz da opressão da mulher está em seu papel de mãe e educadora dos filhos. Por isso deve ser liberada de ambas as tarefas, através da contracepção e do aborto e da transferência da responsabilidade da educação dos filhos para o Estado” (J. Scala. Ideologia de gênero. São Paulo: Katechesis/Artpress, 2011, p. 21). Estejamos atentos a algumas leis que já existem em que o Estado interfere na família e educação dos filhos.
A partir dos anos de 1980, todos esses ideólogos do feminismo antigo ou de gênero se uniram a outros lobbies e passaram a combater a família monogâmica e estável como um estorvo para a liberdade sexual imaginada desde os anos de 1960 para todos, a fim de destruir os planos perfeitos de Deus e, em seu lugar, impor os planos falhos da criatura. 
O ser humano, como pessoa, nunca pode ser usado como um instrumento ou um objeto, mas deve ser contemplado e amado como tal, sendo dotado de dignidade e valores. A negação da transcendência afeta diretamente a dignidade da criatura humana. Pois como disse São João Paulo II: "a divindade da pessoa humana é um valor transcendente, como tal sempre reconhecido por aqueles que se entregam sinceramente à busca da verdade" (cf. Mensagem de sua santidade João Paulo II para a celebração do XXXII Dia Mundial da Paz: 1 de janeiro de 1999).
Analisando essas ideologias supracitadas, percebemos que elas são expressão de autoritarismos que visam a valorizar seus próprios interesses, fazendo com isso que a sociedade acabe negando a transcendência do ser humano e, consequentemente, rebaixando a dignidade do homem, acarretando graves implicações no campo dos direitos humanos.
Por fim, podemos concluir que a ideologia do gênero tornou-se um instrumento utilizado para atacar a dignidade da pessoa e também a família, pois esta representa para eles um tipo de 'dominação'. Ao contrário, nós dizemos que é pela família que conseguiremos restaurar tal dignidade; pois é por ela que somos educados e formamos verdadeiros valores e ideais.
As perguntas que ficam são: uma sociedade com indivíduos que cultivam ódio a Deus e tentam destruir valores intrinsecamente sagrados como a vida e a família poderão ter um futuro promissor? Os seres humanos são mais felizes ou mais frustrados com tudo isso? Não estaria, em parte ao menos, atrelado a essa degenerescência dos valores o alto índice de adolescentes e jovens que tentam buscar escapes nos entorpecentes ou mesmo nas tentativas ou na consumação de suicídios? As perguntas atuais sobre os rumos da humanidade e as dificuldades de respostas da sociedade estão a comprovar os descaminhos que a sociedade hodierna está tomando.
Já não passou da hora de nos voltarmos mais à misericórdia de Deus e confessarmos confiantes: Senhor, só Tu tens palavras de vida eterna! (cf. Jo 6,68)? Sim, pois só Ele é a verdadeira e definitiva libertação de toda opressão que o ser humano possa sofrer. E ao acolhermos a “palavra de Deus” iremos ver que encontraremos o verdadeiro “ser humano” criado à imagem e semelhança d’Ele. E veremos que mesmo os estudiosos e cientistas sérios chegarão à mesma verdade através de suas reflexões e raciocínios. Cabe a nós, cidadãos de hoje, levarmos avante os verdadeiros valores desta pátria que amamos e aonde habitamos como cidadãos que têm direitos e deveres e que se responsabilizam pelo futuro.

* Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist. - Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Patrística - Carta sobre a caridade, humildade e fidelidade à fé católica



 
Efrém da Síria ou Efrém, o Sírio foi um prolífico compositor de hinos e teólogo do século IV, 
venerado por cristãos do mundo inteiro.



Santo Efrém da Síria (Ano de 306-373 d.C. aproximadamente), Padre da Igreja, expõe nesta epístola uma série de questões espirituais referentes à vida monástica, entre elas a humildade, a vivência da caridade e a exortação para que o cristão seja sempre fiel à fé que recebeu da Igreja Católica.
 
Meu bem-amado no Senhor,

Quando desejardes dar alguma resposta, deves por em tua boca, antes de mais nada, a humildade uma vez que sabes muito bem que, por ela, todo o poder do inimigo se reduz a nada. Tu conheces a bondade do teu Mestre, que foi blasfemado, e como Ele se fez humilde e obediente inclusive até a morte. Filho meu, trabalha por ti mesmo para firmar a humildade em tua boca, em teu coração e em teu colo, pois há um mandamento que a exige. Lembra-te de Davi, que vangloriava-se por sua humildade e disse:? Porque me humilho, o Senhor me libertou e me abençoou? (Sal 29 [30], 8-12). Filho meu, apega-te à humildade e farás com que as virtudes de Deus te acompanhem. E se permanecerdes no estado de humildade, nenhuma paixão, qualquer que seja, poderá dominar-te. Não existe medida para a beleza do homem que é humilde. Não há paixão, qualquer que seja, capaz de dominar o homem humilde; e não há medida para a sua beleza. O homem humilde é um sacrifício a Deus. O coração de Deus e de seus anjos descansam naquele que é humilde. Mais ainda: quando os anjos o glorificam, é porque houve uma razão para ele obter todas as virtudes; porém, aquele que se revestiu da humildade não necessita de nenhuma razão além de se Ter feito humilde.

Filho meu, estas são as virtudes da humildade. Filho meu, conserva a paz, pois está escrito: ?Aquele que é sábio, nesse momento conservará a paz? (Am 5, 13). Mantém a paz até que te questionem. E quando te questionarem, fale usando palavras humildes; comporta-te também de maneira humilde. Não lamentes. Se a pergunta exigir extensa resposta, senta-te. Nunca fales enquanto os outros estiverem usando palavras de desprezo; mas, alegremente, não esqueças que teus pensamentos devem ser estes:? não escutei [as palavras de desprezo]?. Prestai tua máxima atenção, porém, à toda palavra valiosa, pois está escrito:? Se tu deixas passar a palavra e não a escuta, te enganas a ti mesmo, filho meu no Senhor? Te dei mandamentos desde o princípio; guarda-os desde a juventude. Examina o que diz Paulo; disse: ?Desde o tempo em que eras um menino, conhecias a Santa Escritura, que tem o poder para te salvar? (2Tim 3,15). Aprende toda regra dos preceitos do monge, e faz-te querido em todos os teus trabalhos. Se tu, que sois jovem, vais para o deserto e te estabeleces em um local muito grande para ti e vês que Deus ali está, não deixes esse lugar para ir para outro, porque estais descontente. Deixa que o deserto em que te estabeleceste te seja suficiente, não deixeis que Ele se ofenda, pois está escrito:? Não é uma pequena coisa contrária que provocará a ira nos homens?

No deserto em que te estabeleceste mantém esta maneira de agir e não fujas de um lugar para outro. Não te dirija à morada de ninguém para lamentar no que crês, muito menos por causa dos desejos do teu estômago. Não estejas em companhia do homem agitado e problemático, mas assegura-te em continuar com tua vida silenciosa; não estejas também na boca dos teus irmãos. Te suplico, meu amado no Senhor, que deixeis que tua meta principal seja aprender; escutar com atenção (ou obedecer) te dará a paz, pois está escrito:? O proveito da instrução não é a prata?. Cuida-te para jamais deixar de escutar (ou desobedecer). Que a palavra de Saul não se realize em ti, nem em tua geração, pois Deus é mais facilmente persuadido pela obediência do que pelo sacrifício (cf. 1 Sam 15, 22).

Estas são, então, as regras do ofício do monge: deves comer com os irmãos; não levantes a cabeça enquanto não tiver terminado de comer; come com a roupa que te deixas ver em público; se acontecer de serdes o último a ser servido, não digas: ?Traga-me logo, pois aqui está sentado alguém maior que tu?; quando desejares beber da garrafa de água, não deixes que tua garganta cause confusão como um homem comum; quando estiverdes sentado no meio dos irmãos e desejares cuspir, não o faça no meio deles, mas afasta-te a certa distância e então cospe.

Quando estiverdes dormindo em algum lugar com os irmãos, não permitas que pessoa alguma se aproxime a menos de um cotovelo de distância. Se o trabalho for tranquilo, não durmas sobre a esteira, mas dobra-a pois sois um homem jovem. Não durmas estendido, nem tampouco de costas, para que teus sonhos não te molestem.
Quando estiverdes caminhando com os irmãos, mantém-te sempre a alguma distância deles, pois quando caminhas com um irmão fazes com que teu coração esteja ocioso. Se estiverdes usando sandálias nos pés e o que caminha contigo não as têm, desata-as e caminha como ele, pois está escrito:? Sofrereis?
Faz o trabalho do pregador. Faça-o cuidadosamente enquanto estiverdes em tua habitação. Não comas enquanto o sol estiver brilhando. Não acendas a fogueira para ti apenas, ou te transformarás num homem exibido. Quando for necessário aquecer-se, chama algum homem pobre e miserável que está contigo no deserto, e serás elogiado, ao dizer:? Não posso comer sozinho o meu pão?

Se estiverdes numa montanha ou em um lugar onde há algum irmão doente, visita-o duas vezes ao dia: de manhã, antes de começardes a trabalhar com tuas mãos, e à tarde; pois está escrito, meu amado no Senhor: ?Estive doente e tu me visitaste? (Mt 25, 36. 43). Quando um irmão morre na montanha onde estás, não te sentes na cela onde consegues ouvir a notícia, mas vai sentar-te com ele e chora sobre ele; pois está escrito:? Chora pelo homem falecido e caminha com ele até que seja enterrado?, pois esta é a última coisa que se pode fazer por seu irmão. Saúda seu corpo com compaixão, dizendo:? Lembra-te de mim diante do Senhor?

Filho meu, faz tudo o possível para observar as coisas que escrevi para ti, pois elas são as regras do ofício do monge. Deixa que a morte se aproxime de ti de dia e de noite, pois tu sabes que conheces ela e te dirá: ?Eu nunca a pus em meu coração. Meus pés estão no umbral e viverei até cruzar o umbral da porta?. Filho meu, põe sempre toda a tua mente diante de Deus e não deixes que todos estes pensamentos instáveis te desviem do caminho. Tem sempre em vista os castigos que vêm. Enquanto estiverdes em tua habitação, faz-te semelhante a Deus.

Se um irmão vem até ti, regozija-te com ele. Saúda-o. Prepara água para seus pés. Não esqueça isto. Que ele reze. Ficai sentado. Saúda suas mãos e seus pés. Não o incomodes com perguntas como: ?De onde vens??; pois está escrito: ?Desta maneira, alguns, sem saber, têm recebido anjos em sua morada? (Heb 12, 2). Crê naquele que veio a ti da mesma forma como crerias em Deus. Se ele for um homem mais virtuoso que tu, diga-lhe humildemente: ?Que teu favor esteja sobre mim?, o que equivale a dizer: ?Tu és meu mestre?. Guarda tua comida e come com ele. E se tiverdes algum compromisso, desmarca-o; pois está escrito: ?Filho meu, sempre me traz prazer acompanhar o homem que quer caminhar?. Deves regozijar-te com ele e estar feliz. Fazei o máximo que puder para que te bendiga três vezes, para que a bênção do anjo que entrou com ele venha sobre ti.

E como exige a mesma fé da Igreja Católica, não te desvies dela, nem te ponhas fora dela. Cremos em só Deus, Pai todo-poderoso, e em seu Filho único, Jesus Cristo, nosso Senhor, por quem foi feito o universo, e no Espírito Santo, ou seja, [cremos] na Santíssima Trindade, a divindade plena. Ele [Jesus] é Deus, Ele estava com Deus, Ele é a Luz que vem da Luz, Ele é o Senhor que vem do Senhor. Ele foi gerado, não criado. Foi gerado como homem. Ele não é uma criatura, é Deus. Foi gerado pela Santíssima Virgem Maria, a mulher que levou Deus em seu seio. Ele tomou a carne do homem para o nosso bem, [veio] à terra e dela ascendeu. Escolheu pregadores, os Santos Apóstolos, cujas vozes, conforme o que está escrito, têm sido ouvidas em toda a terra (Sal 18 [19],4). Fui crucificado e traspassado com uma lança. Daí veio a nossa salvação, Água e Sangue, isto é, o Batismo e o glorioso Sangue; quem não recebeu o Sangue, não foi batizado.

Faz isto, filho meu. Mantém esta fé e o Deus da paz estará contigo, e te salvará, e te libertará, e estarás em paz pelo resto dos teus dias. A salvação está no Senhor, filho querido, no Senhor. Lembra-te de mim, amado no Senhor, por Jesus, o Cristo, nosso Senhor, a quem pertencem a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Saindo de Sodoma

Testemunho de ativista homossexual convertido à fé católica: “Não há nenhuma felicidade fora da ordem moral”

         Depois de uma vida desregrada, Eric Hess, ativista gay de Wisconsin, Estados Unidos, encontrou-se com um homem de fé - o Cardeal Raymond Burke - e com a misericórdia divina. Em agosto de 1998, ele decidiu abandonar o pecado do homossexualismo e viver a castidade. É o que Eric conta em um testemunho publicado na revista Celebrate Life Magazine, no ano de 2011. “Enquanto alguns criticam o arcebispo Burke por sua fidelidade a Deus, à Igreja e às almas, eu digo que ele é um verdadeiro pastor dos fiéis e um Atanásio dos nossos dias".
Por Eric Hess 

Minha atração homossexual começou, para ser sincero, como reação ao meu pai, que era um alcoólatra violento. Ele bebia com frequência, chegava para espalhar coisas pela casae abusar da minha mãe, além de ameaçar a mim e a meu irmão. Eu achava que ele nos odiava. Em consequência, não queria ser nenhum pouco parecido com ele. 

Na minha mágoa, comecei a procurar pelo amor do meu pai nos braços de outros homens. Aos 17 anos, um predador se aproveitou de mim sob a dinâmica professor/aluno e eu fiquei completamente confuso em relação à sexualidade humana. Com o passar dos anos, uma coisa levou a outra até que eu fui morar com um homem 20 anos mais velho que eu. 

Antes de ir mais longe, é importante entender uma das principais causasda desordem da atração por pessoas do mesmo sexo. Como um ex-membroda comunidade, eu posso dizer que os chamados direitos homossexuais – e o direito ao aborto – são um resultado imediato da mentalidade contraceptiva predita há 40 anos pelo Papa Paulo VI, na Humanae Vitae. Pessoas abusando umas das outras como objetos sexuais trouxeram à tona uma cultura de morte que tolera e defende todos os tipos de adultério e abuso infantil, incluindo o aborto. Essa mentalidade egoísta levou também às pesquisas com células-tronco embrionárias e à eutanásia. 

Retorno ao meu Pai 

De 1990 a 1994, eu ia à Missa de vez em quando. Em 1995, eu disse ao meu “parceiro" que não podia ir mais porque estava muito bravo com a Igreja. Eu coloquei todos os meus crucifixos e Bíblias em caixas e deixei-os no escritório do bispo de La Crosse, Wisconsin, com uma carta renunciando à fé católica. 

Para minha surpresa, o bispo Raymond Burke respondeu com uma carta amigável, expressando sua tristeza. Ele escreveu que respeitava minha decisão e notificaria a paróquia onde eu havia sido batizado. Sempre muito gentil, Burke disse que rezaria por mim e esperava ansiosamente pelo dia em que eu me reconciliaria com a Igreja.

Como um dos mais francos ativistas “gays" de Wisconsin, eu pensei: “Que arrogância!" Então eu respondi ao bispo Burke com uma carta acusando-o de preconceito. Eu disse a ele que suas cartas eram desagradáveise perguntava como ele se atrevia a escrever-me. 
Meus esforços de pará-lo foram em vão. Burke enviou-me mais uma carta, assegurando-me que não escreveria de novo – mas que se eu quisesse reconciliar-me com a Igreja, ele me acolheria de volta de braços abertos. 

De fato, o Pai, o Filho e o Espírito Santo nunca desistiram de mim. Dentro dealguns anos, eu conversei com um bom padre, que se uniu intensamente às orações do bispo Burke em agosto de 1998. 

Em 14 de agosto, festa de São Maximiliano Maria Kolbe e vigília da Assunção de nossa Bem-aventurada Mãe, a misericórdia divina penetrou a minha alma, em um restaurante chinês – de todos e entre tantos lugares. Eu mal sabia, ao entrar naquele restaurante com o meu companheiro de mais de oito anos, que o Senhor me tomaria para Si naquela mesma tarde e me levaria a outro lugar, fora de Sodoma, para o juízo de Sua misericórdia, o santo Sacramento da Penitência. 

O padre que eu tinha consultado estava lá. Assim que eu olhei do outro lado da sala para ele, uma voz interiorfalou ao meu coração. Era suave, radiantee clara em minha alma. A voz me disse: “O padre é uma imagem do que você ainda pode tornar-se, se voltar para Mim." 

No caminho para casa, euseriamente disse ao meu companheiro: “Eu preciso voltar à Igreja Católica". Mesmo em lágrimas, ele amavelmente respondeu: “Eric, eu sabia disso há muito tempo. Faça o que você precisa fazer para ser feliz. Eu sempre soubeque esse dia chegaria." 

Depois, eu liguei para o escritório do bispo Burke. A sua secretária já me conhecia bem, então eu lhe disse que queria que o bispo Burke fosse o primeiro a saber que eu estava voltando para a Igreja e me preparando para o Sacramento da Penitência. Ela me pediu para esperar. Quando voltou, anunciou que o bispo Burke queria agendar uma conversa. 

Mais tarde, eu confessei meus pecados a um devoto e humilde pastor de almas local e recebi a absolvição. Como parte essencial de meu restabelecimento, uma boa família católica deu-me proteção até que eu pudesse encontrar minha própria casa. 

Um mês depois de minha reconciliação com Deus e com a Igreja, eu fui ao escritório do bispo Burke, onde ele me abraçou. Ele perguntou se eu me lembrava dos pertences que havia deixado com ele junto com minha carta de renúncia. É claro que eu me lembrava e o bispo Burke os tinha guardado nos arquivos da diocese porque acreditava que eu retornaria. 

Por dois anos eu me pergunteise a mensagem mística significava que eu deveria me tornar padre. Finalmente, eu percebi que não era chamado ao sacerdócio. Afinal, o Vaticano determina que homens que têm uma inclinação homossexual bem estabelecida não podem ser admitidos às Ordens Sagradas ou às comunidades monásticas. Mais do que isso, o padre que eu vi no restaurante era uma imagem de que eu poderia me tornar santo e fiel através dos Sacramentos. Como todas as pessoas – solteiras, casadas e religiosas –, eu sou chamado à castidade. Para mim, é o bastante tentar e chegar ao Céu. Por isso, eu me esforço para viver fielmente minha vocação de solteiro. 

Desde a minha experiência mística, eu me alegro por Raymond Burke, agora prelado de Saint Louis, Missouri. Enquanto alguns criticam o arcebispo Burke por sua fidelidade a Deus, à Igreja e às almas, eu digo que ele é um verdadeiro pastor dos fiéis e um Atanásio dos nossos dias. Eu digo a vocês que ele continua sendo um conselheiro e uma inspiração para mim. Embora meu pai biológico tenha me rejeitado, o arcebispo Burke se tornou meu pai espiritual, representando amorosamente nosso Pai dos céus. Como as Pessoas Divinas da Santíssima Trindade, o arcebispo Burke foi e é absolutamente fiel a mim. 

A chave para a felicidade 

Apesar da bênção do arcebispo Burke e de padres como ele, eu quero salientar que há outros que tiram as almas da vida eterna e da felicidade. 

Por exemplo, quando eu recentemente fui à Confissão, um padre me disse algo contraditório à verdade que o arcebispo Burke me ensinou. 
O padre apóstata me disse: Você é gay e a Igreja nos chama a aceitar nossa sexualidade. Eu sou um professor de ética – um estudioso. (...) Se você é atraído por pessoas do mesmo sexo, isso é natural para você. E, para você, negar isso e resistir é ir contra a lei natural. Eu acredito, como professor de ética, que você pode ter um colega de quarto homem e ser íntimo dele – sem contato genital, é claro. Mas se você escorregar, não seria um pecado mortal. 

Esse é o tipo de conselho que me convenceu a deixar a Igreja. Eu o escutava muito frequentemente de protestantes e de vários padres católicos durante os anos 1980. Eu escutei todo tipo de heresia sobre a sexualidade e Nosso Senhor. Hoje, que já estou separado da “comunidade gay", eu escuto essas heresias apenas de padres mais velhos, em seus cinquenta e sessenta anos, mas não de padres com quarenta anos ou menos. Maus bispos e maus padres sozinhos desviaram muitas pessoas em relação à atração homossexual. Não há nenhum “novo evangelho" ou estudo, e essa negligência espiritual deve parar. 

Como alguém que sofreu no estado de pecado mortal por vários anos, eu asseguro a vocês que não há nenhuma felicidade fora da ordem moral. A única resposta autêntica ao desafio da atração homossexual e do pecado é a verdade contida no Catecismo da Igreja Católica.
Fonte: Celebrate Life Magazine | Tradução: Christo Nihil Praeponere

sábado, 6 de junho de 2015

Como me tornei católico e deixei o protestantismo

Ex protestante Erick Augusto
Ef 4,5 – Um só Senhor, uma só fé, um só batismo.
       Graça e paz da parte de Jesus Cristo nosso Senhor!
       Sou Érick Augusto Gomes e gostaria de partilhar com todos vocês como sucederam os acontecimentos que culminaram em minha conversão a Igreja Católica. Todo processo de mudança é duro e na maioria das vezes difícil, porém, se cremos e confiamos que é o Cristo que nos dá o dom da vida e nos preenche com a sua sabedoria, temos a certeza que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8,28).
    E é esse Deus que trabalhou em minha vida de diversas formas e todas elas contribuíram para que eu chegasse a Igreja do Senhor.
     Costumo dizer que “nasci Cristão”: me converti ainda no seio da minha família e fui batizado na Igreja de São João Batista em Jundiaí/SP já que meus pais, embora desconhecendo a própria fé, iniciaram-me na Igreja Católica. Minha mãe costuma dizer-me que quando eu era criança e ela levava-me ao centro da cidade, era normal que chorasse. Eu era muito pequeno, porém, a única forma que fizesse com que eu parasse, era entrar no Mosteiro de São Bento. Ali, dizia ela, meus olhos inocentes olhavam para todos os lados do templo, para todos os vitrais, todas as imagens e assim, eu me acalmava. Depois de muitos anos, verdadeiramente eu iria entender o que esse sinal seria em minha vida.
     Até os meus sete anos de idade, cresci dentro da Igreja católica. Meus pais eram assíduos nas missas, porém, em 1996 por influencia de uma vizinha, minha mãe passou a frequentar uma comunidade chamada “quadrangular” e embora meu pai inicialmente tivesse repudiado a ideia, depois de algum tempo, passou a frequentar e assim, “converteu-se” e dessa forma, eu, como criança, passei a ingressar dentro da comunidade protestante. Minha infância foi vivida dentro das “igrejas evangélicas”. Apesar da Quadrangular ser a primeira comunidade que meus pais passaram a frequentar, um ano após o descobrimento da “nova fé”, os mesmos foram para o CCC (Centro comunitário Cristão) e por fim a Igreja Presbiteriana do Brasil. Quando digo que nasci cristão, é porque de fato, desde o início da minha vida aprendi a amar, adorar e entender o mistério da gloriosa salvação de Jesus Cristo através de sua piedosa cruz. Embora, não me desse conta que o fator da verdadeira Igreja fosse primordial para que entendesse a história cristã, sendo assim, cresci repudiando tudo aquilo que pensava ser o catolicismo, pois, as pessoas que convivia foram ensinadas a não gostar da fé cristã católica.Dentro da Igreja Presbiteriana, era um membro ativo: participava do grupo dos jovens, ia a encontros presbiteriais e participava do ministério de louvor da Igreja. Estudava a Bíblia, admirava Calvino e a todo custo tentava converter aqueles que não participavam da mesma fé que a minha. Mesmo sendo muito novo, eu já possuía uma opinião própria, de fato, eu tinha aversão ao catolicismo. Suas imagens e a devoção a Virgem faziam com que eu anunciasse sua idolatria.
     Em 2005 tive a oportunidade do primeiro emprego. Na época, foi o primeiro auge da minha vida profissional e pessoal. Estava na igreja, tinha comunhão com a fé “verdadeira” e ainda por cima desfrutava do primeiro trabalho. Com 16 anos, entrei em uma empresa que fabricava portas — era um serviço de carpintaria. Um trabalho digno, afinal, era o mesmo ofício de Nosso Senhor.
    Lembro-me do primeiro dia no emprego novo e da minha felicidade em saber que praticamente todos os trabalhadores dali eram protestantes. Fiquei muito feliz porque ali seria um local de aprendizado e crescimento na fé, porém, eu nem imaginava que essa convivência afetaria drasticamente a minha opinião e me tiraria da minha zona de conforto. Eu era presbiteriano, logo, tradicionalista, isto é, tinha problemas com pentecostais. Tinha certeza daquilo que acreditava, mas, isso nem sempre era igual ao que os outros pensavam.
     No meu setor trabalhavam dois membros da congregação cristã do Brasil, quatro assembleianos, um adventista, dois batistas e outros dois que frequentavam uma comunidade chamada “fogo divino” e um testemunha de Jeová e ali, no meio de tantas denominações diferentes, passei a me confrontar com alguns problemas ao ponto dos assembleianos pensarem que a Presbiteriana era uma seita por acreditar na predestinação e por batizar crianças. Confesso que, ao deparar-me com tantas crenças diferentes, passei a ter certa dor de cabeça já que nem sempre falávamos a mesma coisa. Os “assembleianos” e o pessoal do “fogo divino” defendiam a oração em línguas, mas tanto eu quando os batistas diziam que se não houvesse a devida interpretação, não poderia se falar o amém. Os congregacionais e assembleianos diziam que para você ser “aceito” verdadeiramente, o crente deveria sem batizado no espírito santo, mas, o restante dizia que apenas ser batizado nas águas, com a fórmula necessária (Pai, filho e espírito Santo) era válido, contudo, os congregacionais afirmavam que o batismo deveria ser primeiro em nome de Jesus Cristo. O adventista vivia dizendo que não comia carne de porco porque o animal era impuro, que o sábado era o dia do Senhor e que depois da morte a alma “morria”, mas, o restante discordava da sua posição. Eu sempre dizia que o livre arbítrio não existia, apenas a livre agência, mas, a maioria pensava que a minha doutrina era errada, assim como sempre dizia que batizávamos crianças e os pentecostais achavam isso um absurdo, ou talvez por saber que os protestantes históricos batizam por aspersão e pensarem que a verdadeira conversão deveria ser concretizada de corpo inteiro dentro das águas. Isso ainda somava-se a crença do testemunha de Jeová em dizer que Jesus Cristo não era Deus.
      Tinha dias que os assembleianos mais rígidos com relações a vestimentas, diziam que as outras assembleias mais liberais erravam por permitirem mulheres de calças. Outro fator que era motivo de “contenda” era o fato de que batistas e presbiterianos não possuem um culto avivado e isso era um dos grandes questionamentos dos pentecostais em sempre perguntar se de fato o espírito santo ali habitava. Grandes dúvidas também surgiam pelas questões históricas em que envolvem a maçonaria junto da Igreja Presbiteriana no Brasil. De qualquer forma, vários são os exemplos das mais diversas divisões protestantes e eu posso dizer claramente que tive o “prazer” de verificar uma a uma em um curto prazo de dois anos.
       Contudo, essa série de desavenças, fez com que despertasse em mim um desejo de aprender sobre a religião que tanto criticava: O Catolicismo Romano. Embora não suportasse suas doutrinas (mesmo não as conhecendo), resolvi amolecer meu coração e entender ou pouco dessa que era a profissão de fé mais estranha aos meus olhos. Ainda me lembro de que na época, busquei o máximo de informações que queria. Foi quando, através de uma comunidade do Orkut, descobri um ambiente de católicos que defendiam sua fé. Em um primeiro momento, não suportei uma série de argumentos que muitos ali utilizavam, sendo assim, iniciei vários debates, porém, conforme lia cada texto postado, ia descobrindo que havia alguma coisa errada com a concepção que eu tinha de cristianismo. No geral, eu tinha dúvidas sobre o uso de imagens, a intercessão dos santos ou porque a Igreja tinha tanto amor por Maria. Inicialmente, colhi o que conseguia através das redes sociais, porém, conforme o interesse crescia, tive o desejo e a curiosidade de presenciar uma missa. E eu fui, no segredo. Assim como os cristãos primitivos não podiam expor sua crença no Cristo, assim, eu me sentia ao buscá-lo dentro da Missa que é a nossa maior oração. Confesso que a primeira impressão foi maravilhosa. Sinceramente, eu desconhecia a fé católica, porém, ao ouvir o sacerdote saudar a assembleia com “Que a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos”, toda a imagem preconceituosa que tinha a respeito da ritualística romana, caíram por terra ao estar na Igreja verdadeiramente pela “primeira vez” (embora enquanto criança meus pais estivessem dentro do catolicismo, à mudança aconteceu muito cedo e as lembranças eram inexistentes).
      Depois que estive a primeira vez em uma Missa, tive vontade de ir muitas outras vezes e conforme as frequentava, tinha um desejo maior te estar lá! Era algo totalmente estranho de se entender, pois, mesmo não assimilando uma fé tão nova que brotava no meu coração, sentia uma sede de estar ali a cada dia mais! De qualquer forma, as coisas não foram tão simples como parecem ao escrever esse texto.
       Entre os 16 e 18 anos, me dividi entre os cultos protestantes e as missas. As sextas estava na Igreja matriz da minha cidade e aos domingos na presbiteriana. Durante esses dois anos, ocultei aquilo que estava aprendendo. E nesse tempo passei a entender o que a Igreja ensinava sobre o uso das imagens sacras e por que os santos tinham sua representatividade na vida do ensinamento cristão! Eu amava aprender sobre eles e ler suas grandes conquistas através da fé em Cristo. Passei a ver neles exemplos de conduta, martírio pela fé e pelo reino de Jesus. Quanto mais lia sobre os antigos padres, quanto mais lia sobre a tradição da Igreja, me encantava por tantos e tantos testemunhos que guiaram a Igreja Católica até os dias de hoje. Não conseguia ver isso nas comunidades protestantes, alias, não via história. Via apenas um início e projetava um fim.
       Ao passar do tempo, minha vontade intensificou-se de tal forma que aos poucos, passei a abandonar a minha antiga fé. Foram momentos difíceis, alguns membros da presbiteriana sabendo da “causa”, passaram a me questionar sobre aquilo que estava frequentando, a questão é que era tarde de mais. Eu já estava envolvido pela Igreja que hoje tanto amo. De qualquer forma, ainda ia aos encontros protestantes. Um desses últimos encontros, fez com que refletisse sobre todo o fundamento protestante que eu já havia deixado para trás. Era um domingo de manhã, dia internacional da mulher, oito de Março de 2009. Um dos diáconos havia preparado uma homenagem para as mulheres da igreja. Lembro que fiquei apreensivo naquela manhã, pois ele havia dito que passaria por todas as mulheres das sagradas escrituras enumerando seus exemplos e assim, exaltaria a mulher presbiteriana. Naquela manhã, o diácono presbiteriano falou de quase todas as servas de Deus, porém, esqueceu-se de uma, esqueceu-se da principal. Aquilo foi um baque para mim. Lembro-me que tinha em minha memória as claras palavras de Maria no evangelho de Lucas: “Pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada (Lc 1,48)”. Naquele momento eu me perguntei qual o motivo de esquecerem a Mãe de Deus? Por que se esqueceram de Maria? Se todas as gerações a proclamariam, por que eu, como protestante, não fazia isso? Por que eles não faziam isso? Naquele momento, eu percebi que havia algo de errado com a “geração de Lutero”. Se, profeticamente, a geração de Maria esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3,15), me perguntei: a qual geração pertence a este povo? A qual geração eu pertenço? Naquele dia, eu decidi me afastar definitivamente do protestantismo e embora posteriormente tivesse ido a alguns outros encontros, passei a me dedicar a Igreja Católica que possuía como centro Jesus Cristo e a certeza disso encontrava-se no mistério do sacramento da eucaristia que a tanto me encantava por sua pureza. As palavras de Paulo aos Coríntios agora faziam sentido em minha vida, ninguém pode comer indignamente o Corpo do Senhor acreditando em um mero simbolismo. Consumir sua carne erroneamente o torna responsável pela sua própria condenação (I Cor 11,29), pois, é realmente o seu corpo que ali se faz presente por nós (Jo 6,55).
      Pois bem, entre os 18 e 19 anos, conheci outra parte da Igreja que não sabia. As comunidades orientais. Confesso que muito me chamou a atenção a fé peculiar dessas Igrejas. Aprendi muito com eles, porém, a minha certeza estava enraizada no ocidente, na fé católica
      Entre os 20 e 23 anos, continuei a estudar a Igreja, porém, embora já fosse um católico de coração, não possuía coragem de assumir minha fé publicamente pelo meu histórico familiar. Demorei muito tempo para que de fato eu divulgasse a minha fé em Cristo dentro da Igreja Católica, porém, embora tenha sido esse tempo longo, ele chegaria.
     Iniciei o ano de 2012 como um “católico covarde”, embora já soubesse o que queria, não tinha a iniciativa de tomar a frente e declarar a minha fé. Entretanto, Deus nunca me abandonou e em todo esse tempo, continuou me mostrando o caminho e derramando a sua graça e misericórdia sobre as minhas ações e em uma época que eu já estava desacreditado da minha própria coragem, o Pai colocou em meu caminho uma verdadeira mulher chamada Rafaela, sendo ela a responsável por me ajudar assumir aquilo que havia nascido em meu coração desde 2005. Nosso Senhor foi tão bondoso comigo, que me concedeu a fé em sua Cruz e Ressurreição através da Igreja e a Rafaela que é o meu exemplo de amor a Cristo. Em agosto de 2012, com 24 anos comecei o meu processo para ser recebido oficialmente na Igreja Católica. Depois de um ano de orações e estudos junto de muitos irmãos, no dia 30 de abril de 2013, tive a benção de ser crismado e com a graça de Cristo Jesus, ser participante de seu corpo junto de sua Igreja!
      O caminho foi longo e tortuoso; contudo, foi necessário para que se fosse entendido os verdadeiros mistérios da fé cristã. Se tivesse que escrever todos os fatos que sucederam a minha vinda a fé católica, não caberiam aqui, porém, sei que as palavras aqui depositadas serão de grande valia para aqueles que desejam conhecer profundamente a Igreja fundada por Nosso Senhor.
       Atualmente, tenho trabalhado na Paróquia Sagrado Coração de Jesus em Louveira/SP como catequista de adultos e escrevo artigos em defesa da fé para o blog “Apologética Cristã Católica”.
      Desejo que a Virgem interceda pela vida de cada pessoa que lê essas palavras para que possam encontrar o verdadeiro caminho do Cristo que se revela em sua Igreja. Agradeço a minha Rafa por me amar e me ajudar a assumir a minha identidade e te adoro e te louvo Jesus Cristo pelo dom da vida e por permitir que sua fé continue sendo transmitida através dos séculos pela sua una e Santa Igreja, na qual professa uma única fé e um único batismo (Ef 4,5).
      Com amor em Jesus;
      Autor:  Érick Augusto Gomes
      Fonte: comshalom.org