Nota: Esse texto merece ser lido por todos que buscam um verdadeiro conhecimento de história!
Impérios
Coloniais, de Marcelo Andrade – Parte 1, 2 e 3
Fonte: http://www.montfort.org.br
Autor: Marcelo Andrade
PREFÁCIO – A
GUERRA HISTORIOGRÁFICA
Entre as várias guerras que a Igreja Católica enfrentou e
enfrenta, está a historiográfica.
Nesta luta historiográfica, os inimigos da religião se concentram em
duas frentes: a da omissão e a da deturpação dos fatos históricos.
No primeiro caso temos como exemplo, a Irlanda, que tem uma história
quase totalmente desconhecida porque revelaria o ódio protestante inglês contra
os católicos irlandeses, que varreu séculos.
No segundo caso, temos, como exemplo, a “lenda” das colônias de
exploração e de povoamento, cuja refutação é um dos objetivos deste estudo.
1 – INTRODUÇÃO
Os impérios coloniais europeus surgiram dentro do contexto das grandes
navegações. Portugal foi a primeira nação a se aventurar no mar com objetivo de
estabelecer colônias em áreas remotas, processo este iniciado no século XV. E a
ele, seguiram-se outras nações, principalmente Espanha, Inglaterra, Holanda e
França. O ciclo findou no século XX.
É verdade que a idéia de colonização já existia no mundo antigo, várias
cidades gregas, por exemplo, fundaram colônias. Mas, somente a partir do
século XV foi possível o surgimento de impérios coloniais que varriam grandes
extensões de terra sem contigüidade, que continham partes em porções isoladas nos
continentes, com as comunicações entre a metrópole e a colônia realizadas por
meio de longas navegações, nos mais variados mares.
Analisaremos sinteticamente os impérios coloniais da Inglaterra,
Holanda, Espanha, Portugal e França, nesta ordem. E as análises dos dois
primeiros formam uma “primeira parte” e as dos restantes uma “segunda parte”.
2- A “LENDA” DAS COLÔNIAS DE EXPLORAÇÃO E DE
POVOAMENTO
Pela “lenda” das colônias de exploração e de povoamento, os Estados
Unidos, Canadá etc. teriam sido colônias “de povoamento” e o Brasil e a América
Latina etc. teriam sido “de exploração”.
Esta classificação foi feita por Leroy-Beaulieu no trabalho De
La Colonisation Chez les Peuples Modernes, de 1874.
Tal visão obteve muito sucesso no Brasil e está quase onipresente nos
livros escolares. O historiador marxista Caio Prado Junior, por exemplo, foi um
dos adeptos e um dos grandes difusores dela.
A colonização de povoamento é classicamente conceituada como “o tipo de
colonização onde os colonizadores povoavam e desenvolviam a terra”[1]
Segundo Caio Prado Junior, nelas o povoamento e a ocupação estão
apartados dos objetivos comerciais e visavam refazer condições de existência
similares ao “Velho Continente”. Elas não conheceram o latifúndio nem a
escravidão, eram dominadas por pequenas propriedades e eram voltadas para o
mercado interno.
A colonização por exploração, por sua vez, é um método onde prevaleciam
os interesses mercantis, ou seja, a terra era utilizada somente para dar lucros
à metrópole.[2] Era marcada por grandes propriedades, trabalho escravo e
voltada para a exportação.
Por esta razão, a América do Norte seria rica e a América do Sul seria
pobre.
Em que pese o “sucesso” desta visão, esta tese é tão simplista quanto
errada e deve ser abandonada por completo.
Primeiro porque, como veremos, talvez nunca tenha havido nenhuma
“colônia de povoamento” no sentido estrito, ora definido por Caio Prado.
Segundo porque o conceito aborda as colônias somente sob a ótica
econômica, ignorando vetores religiosos e civilizacionais. Passa ao largo,
também, da questão da moralidade do enriquecimento, já que se pode enriquecer
tanto por meios ilícitos quanto por meios lícitos.
Terceiro porque ignora que as colônias possam ter tido uma mistura dos
dois elementos. Não se pode explorar sem haver um mínimo de povoamento, por
exemplo.
Quarto porque ignora as relações dos colonizadores com os povos
autóctones. Assim, caso uma potência europeia tenha exterminado um povo local e
feito um assentamento europeu, este teria sido de povoamento, o que o tornaria,
por esse critério, bom.
Quinto porque não prova nenhum liame lógico entre a suposta causa
“colônias de povoamento” efeito “nações desenvolvidas” e causa “colônias de
exploração” efeito “nações subdesenvolvidas”. É feita apenas uma afirmação.
Sexto porque esta tese falsa apanha uma “fotografia” do presente
econômico de um país e faz uma extrapolação ilógica para o passado. Deveria ser
feita uma análise da riqueza na época da colonização e não na época atual. Ora,
as riquezas mudam de mão com velocidade. Hoje a Coréia do Sul é mais rica que a
Argentina, mas há 40 anos era o inverso.
Esta tese encontrou sucesso primeiro porque vai ao encontro da
historiografia marxista (infelizmente predominante), por satisfazer a sua
obsessão pelos “opressores e oprimidos”.
Segundo porque que esta tese também serve aos direitistas liberais e
anglófilos, que defendem que a Inglaterra teria fomentado colônias de
povoamento e pugnava pelo liberalismo econômico.
Terceiro porque atende bem a uma visão anticatólica da História.
Portugal e Espanha foram potências católicas e a Inglaterra é protestante.
Assim, como as duas primeiras nações teriam gerado “colônias pobres” e a
segunda teria gerado “colônias ricas”. O catolicismo seria uma religião arcaica
e/ou errada e o protestantismo seria uma religião da riqueza e do progresso.
Quarto porque procura dar uma resposta, ainda que errada, para os mais
ingênuos acerca das razões pelas quais determinados países são pobres e outros
são ricos.
Porém, a ordem dos fatos históricos depõe fortemente contra esta tese
equivocada.
A História é contada pelos vencedores e, como a visão protestantizada e
marxista do mundo vence, daí o sucesso de tal tese.
Mas, como diz um sábio ditado brasileiro: “o diabo ajuda a fazer, mas
não ajuda a esconder”: os fatos demonstrarão a verdade.
Este é um tema que desperta muita polêmica e é alvo de muitos estudos.
Normalmente há preconceito e desconhecimento da História. A maioria das pessoas
repete chavões desgastados e bordões marxistóides.
3- TEMAS RELACIONADOS COM OS IMPÉRIOS COLONIAS
Antes de estudar os impérios em espécie, devemos abordar resumidamente
alguns temas que se relacionam com as atividades imperiais.
3.1- ESCRAVIDÃO NA ÉPOCA COLONIAL
A escravidão é a prática social em que um ser humano assume direitos de
propriedade sobre outro, designado por escravo.[3] Na maioria das vezes, esta condição era obtida por força,
mas houve exceções (veremos no decorrer deste trabalho alguns casos).
A Igreja Católica sempre lutou contra a escravidão, desde a carta de São
Paulo a Filémon até o século XIX, época na qual terminou formalmente a
escravidão no Mundo Ocidental[4]. Na Idade Média[5], houve condenações e por causa da atuação da Igreja Católica,
a Europa se livrou deste flagelo.
Na época das Grandes Navegações, porém, a escravidão ressurgiu com força
e a Igreja Católica a condenou novamente, como por exemplo, nas Bulas: Cum
Sicuti(1591) de Gregório
XIV, Commissum Nobis(1639) de Urbano VIII e Immensa
Pastorum (1741) de Bento XIV.
A similaridade das palavras inglesas “slav” (eslavo) e “slave” (escravo)
não é coincidência, pois os muçulmanos e judeus faziam tráfico de escravos, na
Idade Média, levando cativos da Europa oriental para o mundo muçulmano, para os
califados de Bagdá e de Córdoba, por exemplo. Escravos brancos são “saqaliba”
em árabe, o mesmo termo para eslavos (LEWIS, 2001, p. 235).
Os Vikings, também, na Época Moderna foram grandes fornecedores de
escravos brancos para os muçulmanos. Na maioria das vezes, eram escravizados
nas Ilhas Britânicas (HOFFMAN, 1993, p. 4).
Havia muita escravidão branca na época das Grandes Navegações. Entre
1530 e 1780, um milhão de escravos europeus serviam no norte da África (GALLAY
et al. 2009, p. 11).
No século XVII, havia mais escravos ingleses na África que africanos
escravizados na América (GALLAY et al., 2009, p. 11) e já havia um enorme
tráfico intracontinental na África (GALLAY et al., 2009, p. 20) vindo da África
subsaariana para o norte africano.
Na América, a escravidão também já existia antes dos europeus chegarem,
índios norte-americanos já a praticavam e astecas também (GALLAY et al. 2009,
p. 10).
Na era das Colônias, os africanos, que eram levados forçados da África
para a América, já eram, na realidade, escravos ou cativos em sua terra. As
guerras entre as tribos africanas eram intensas e terminavam em massacres ou
escravidão, de modo que as tribos vencedoras detinham os vencidos e
comercializavam-nos com os traficantes de escravos europeus.
Trocava-se a escravidão na África (ou a morte) por outra na América.
É apenas uma lenda que os africanos viviam num paraíso “roussoniano” em
suas terras natais.
No total, aproximadamente dez milhões de escravos africanos foram
levados para a América, três milhões deles transportados em barcos ingleses
(FERGUSON, 2003, p. 10).
Os ingleses também levavam índios escravizados na América do Norte para
o Caribe.
Depois de dominar o tráfico negreiro, a Inglaterra patrocinou o fim da
escravidão no séc. XIX. Não lhe interessava mais economicamente, assim, poderia
passar demagogicamente como “defensora da liberdade”.
Como substitutivo, ela contava com os “coolies”, com os “blackbirds”,
com a escravidão disfarçada na África da “The Beers” e com a mão de obra barata
dos indianos (ver tópicos relativos aos temas).
Na Época Colonial, o tratamento dispensado aos escravos foi muito
irregular. Nos impérios britânico e holandês o trato era muito pior que nos
impérios espanhol, português e francês.
Escravos nas colônias espanholas possuíam direitos legais que eram
negados tanto nas colônias britânicas quanto nas colônias holandesas (GALLLAY
et al. 2009,p. 5 ).
3.2 – O MUNDO FORA DA EUROPA
O mundo fora da Europa, na época das Grandes Navegações e no
começo das construções dos Impérios Coloniais, era selvagem.
Na América, o canibalismo era regra, assim como o infanticídio, o
abandono dos velhos, os sacrifícios humanos, o homossexualismo, as guerras
constantes etc.
Os astecas, por exemplo, foram o povo conhecido que mais praticava
sacrifícios humanos em toda a História.
Na África subsaariana, o ambiente era similar.
Na China, mais civilizada, ainda assim havia práticas abjetas como
abandono de velhos para morrer, sacrifícios humanos em certa época,
infanticídio e homossexualismo.
Na Índia, havia aberrações como o “sati”, cerimônia na qual
esposas viúvas eram obrigadas a se sacrificarem vivas nas fogueiras de
piras funerárias de seus esposos mortos[6].
No Extremo Oriente, Indonésia, Filipinas, Austrália etc. também existiam
hábitos repulsivos.
Entre os muçulmanos, por sua vez, na época moderna, a mulher era mal
tratada, havia a poligamia[7], praticavam a escravidão e eram muito cruéis contra os
inimigos. Aliás, o Islã tinha (e tem) muito ódio da Cristandade, o protótipo e
o modelo da “jihad” é a guerra contra a Cristandade (LEWIS, 2001, p.65).
A civilização, como a conhecemos, com caridade, civilidade, sem abuso
dos mais fracos é uma construção da Igreja Católica.
Roma e Grécia antigas, as nações mais civilizados do Mundo Antigo,
também praticaram sacrifícios humanos, escravidão e infanticídio.
Os Vikings, por exemplo, antes da conversão ao catolicismo eram de uma
brutalidade ímpar contra os povos vencidos. Os germânicos também tinham uma
versão do “sati” e só abandonaram sua prática com a conversão ao catolicismo.
Somente Israel na Antiguidade, apesar da presença da escravidão,
escapava da selvageria.
Os povos que tiveram contato com os colonizadores europeus estavam
apartados da civilização e foram os europeus, em maior ou menor grau, quer por
acidente quer por intenção, que levaram a civilidade para toda a gente.
Ao longo deste trabalho abordaremos alguns dos hábitos dos povos
autóctones.
3.3 – PIRATARIA
Pirataria é o ato de se roubar navios nos mares. Os piratas que
exerciam esta atividade eram normalmente violentos e assassinos. Uma atividade
correlata era a de saquear cidades a beira-mar.
A Pirataria sempre existiu e ainda existe hoje em dia e foi muito comum
na época colonial.
Corsário era um pirata que, por missão ou carta
de corso (ou “de marca”) expedida por um governo, era
autorizado a pilhar navios de outra nação (guerra
de corso), ou seja, era uma “pirataria oficializada”. Piratas se
transformavam em corsários e vice-versa.
A Inglaterra foi a “rainha” da pirataria, sempre se
utilizou muito dos corsários. Essa atividade era para ela uma grande fonte de
renda ( APPLEBY, 2013, p. 40). Havia uma extensiva infraestrutura para apoiar e
dar aparência de “operação comercial” à pirataria (APPLEBY, 2013, p. 8).
Entre 1688 e 1815, 25.000 “carta de marca” foram expedidas na
Inglaterra. (HILLMANN, 2007, p.5)
Durante certa época, o principal objetivo militar da Inglaterra era
saquear os navios espanhóis. De 1585 a 1604, entre 100 e 200 embarcações foram
enviadas para assediar barcos espanhóis (FERGUSON, 2003, p. 33)
Era muito utilizado um tipo de “perdão real” no qual a Inglaterra
anistiava piratas para fazê-los servir à Coroa, como corsários, contra os
inimigos dela.
A atividade imperial e colonial inglesa era indistinta da pirataria.
Houve “heróis” nacionais, parlamentares, colonizadores, funcionários das
companhias e governadores coloniais que foram piratas.
Boa parte dos piratas na História Moderna, muitos deles famosos, eram
ingleses.
A Inglaterra transformou Francis Drake (1540-1596), pirata, assassino,
pilhador e traficante de escravos em herói nacional.
Igualmente, fez de Lord Cochrane (1775-1860), corsário e pilhador, um
herói. Ele chegou a servir a outras nações, incluindo o Brasil. Certa vez
saqueou violentamente São Luis do Maranhão.
Henry Morgan (1635-1688), corsário, foi governador da Jamaica.
Thomas Cavendish (1555-1592) participou da fundação da Virgínia e
assaltou a costa brasileira várias vezes.
James Lancaster (1554-1618) foi diretor da Companhia das Índias
Orientais Inglesa. Certa vez, foi tão cúpido no saque a Recife em 1595 que
afundou vários barcos devido ao excesso de peso do butim.
Henry Mainwaring (1587-1653) foi membro do Parlamento e da marinha
inglesa e se especializou em assaltar navios portugueses, espanhóis e
franceses, na costa européia.
Black Bart (1682-1722) aterrorizou vários lugares.
Barba Negra (1680-1718), um dos mais famosos, atuou em New Providence e
em outros lugares, servindo a Inglaterra em várias oportunidades.
Calico James (1682-1720) também atuou em New Providence.
Capitão Kidd (1645-1701) atuou na costa do Madagascar contra os
franceses.
Port Royal na Jamaica inglesa era um grande centro de bucaneiros
(piratas do caribe).
New Providence em Bahamas era outro centro da pirataria inglesa, local
estratégico para assaltar navios espanhóis, pois, situa-se perto da Flórida,
que era espanhola.
As Treze Colônias também foram usadas para entrepostos de corsários,
assim como a Bermudas.
Depois da Inglaterra, a Holanda foi a potência que mais
usou os piratas. As Companias majestáticas holandesas, a WIC e a VOC não
deixaram de ser empresas de pirataria.
Houve também piratas famosos holandeses:
Jan Janz (começo do séc. XVII) foi presidente de uma curiosa “República dos Piratas do Bu Regregue” na
costa norte africana.
Roc Braziliano (1630-1673) foi um pirata cruel que odiava espanhóis e
atacava a costa brasileira, daí sua alcunha.
Jacob Wilckens, a serviço da Companhia das Índias Ocidentais, invadiu
Salvador em 1624.
A França vem em terceiro lugar na relação com piratas,
mas se utilizou dos corsários em um grau muito menor.
Jean Angó (sec. XVI), a serviço da França, aterrorizou o Brasil.
Jean Bart (1651-1702) atuou na América do Norte.
Espanha e Portugal fizeram muito pouco uso em toda a sua
história dos corsários. Em Portugal, os saques a cidades eram proibidos.
Bartolomeu Portugês (séc. XVII) foi o único pirata lusitano famoso e
escreveu o “código da pirataria”.
A pirataria ocorria em vários locais no mundo inteiro. O Mediterrâneo era
infestado de piratas, principalmente muçulmanos que atacavam embarcações
católicas.
Mas, o apogeu da pirataria aconteceu no Caribe e a sua
“idade de ouro” foi entre 1690 e 1730, os piratas lá eram conhecidos como
bucaneiros.
O tratado de Paris (1856) pos fim aos corsários. Nesta ocasião, a
Inglaterra dominava os mares e era a grande potência do mundo, logo ela só
teria a perder com a manutenção do corso, já que seria mais vítima dele do que
patrocinadora, por isso, advogou seu fim junto com outras potências.
[1] Wikipedia, verbete colonização de povoamento.
[2] Wikipedia, verbete colonização de exploração.
[3] Wikipedia, verbete escravidão.
[4] Nos países islâmicos houve escravidão no século XX.
[5] O Concílio Regional de Lyon (567-570), por exemplo,
proibia a escravidão de homens livres. No século VII, a rainha da França Santa
Batilde, que fora escrava ela mesma, proibiu a comercialização de escravos.
[6] Wikipedia, verbete “Sati”. Existem relatos de ocorrências
nas últimas décadas.
[7] Ainda há poligamia hoje em alguns países muçulmanos.
Império
Colonial Britânico. Parte 2 de Impérios Coloniais, por Marcelo Andrade
Autor: Marcelo Andrade
4-
O IMPÉRIO COLONIAL BRITÂNICO
As
primeiras grandes navegações inglesas começaram na época de Henrique VII
(1457-1509), quando a Inglaterra ainda era católica.
O
italiano Sebastião Caboto, a serviço da Inglaterra, comandou as principais
expedições que tiveram como destino a América, no começo do séc. XVI.
Porém,
somente no reinado de Isabel I (1533-1603) iniciou-se para valer o Império Colonial
Britânico.
Analisaremos
as colônias: “Treze Colônias”, algumas do Caribe, algumas da África, Índia,
Austrália, Nova Zelândia e Canadá.
O foco
será as colônias enquanto colônias, e não sua história depois da independência
da Inglaterra.
Usaremos
indistintamente os nomes Inglaterra e Império Britânico, por força do hábito.
4.1 – COLONIZAÇÃO INGLESA EM GERAL
Os
ingleses, na maioria das vezes, exploraram suas conquistas por meio de
companhias majestáticas e não diretamente.
As
“chartered companys” ou companhias de carta ou ainda companhias majestáticas
eram empreendimentos possuidores de concessão de um governo que lhes conferia
vantagens comerciais e monopólios em determinadas áreas ou colônias.
Desta
forma, certos governos não exerciam a soberania diretamente, mas por meio
destas companhias.
Tratava-se
de uma colonização indireta na qual havia confusão entre o poder público e o
privado. Atendiam aos interesses de investidores e visavam somente a lucros.
As
companhias majestáticas, ocupando a zona cinzenta entre o poder político e
mercantil, combinando impiedosas táticas do despotismo com estrutura legal de
busca por lucros, derrogaram o livre mercado (BOWN, 2009, p.4-5).
O
parlamento inglês era corrupto (ALLEN, 1968, p. 23) e isto favorecia a confusão
entre o público e o privado, a pirataria, os monopólios e a corrupção nas
companhias que eram dependentes politicamente do Parlamento.
Jaime II,
por exemplo, antes de ascender ao trono foi governador da “Hudson Bay Company”
e encabeçou também a “Royal African Company”.
O
imperialismo distorcia as forças de mercado – usando de tudo, desde poderio
militar até tarifas preferenciais para manipular os negócios a favor das
metrópoles (FERGUSON, 2003, p. 15).
Isto
demole a ideia de que a Inglaterra tenha sido “liberal”. A Inglaterra nunca foi
“liberal” em suas colônias, sempre abusou dos monopólios, das trapaças, da
pirataria, das taxações abusivas, dos massacres dos povos autóctones, dos maus
tratos contra os escravos etc.
O Império
Britânico começou como um redemoinho de violência e ladroagem marítimas
(FERGUSON, 2003, p.26). O Império se utilizou de ladrões como o pirata Morgan
para roubar os Impérios marítimos dos outros (FERGUSON, 2003, p.26).
Como os
ingleses não acharam metais preciosos (ouro e prata), só havia uma coisa a
fazer: roubar os espanhóis (FERGUSON, 2003, p. 32).
Ele não
foi concebido por imperialistas conscientes, desejosos de estabelecer o domínio
britânico sobre terras estrangeiras, ou colonos esperançosos por construir uma
nova vida além-mar (FERGUSON, 2003, p. 26)
4.2 – A COLONIZAÇÃO DAS TREZE COLÔNIAS (1600-1776)
4.2.1- INTRODUÇÃO
Na
verdade, a Inglaterra não colonizou os Estados Unidos, ela colonizou apenas as
“Treze Colônias” que foram o embrião do futuro país. A maior parte do
território dos Estados Unidos atual pertenceu à França e à Espanha.
Inicialmente,
a Inglaterra criou duas companhias majestáticas: a “Virginia Company” e a
“Plymouth Company” para explorar o litoral norte-americano.
4.2.2 – VIRGÍNIA E A SERVIDÃO BRANCA
As
Treze Colônias começaram pelo atual estado da Virgínia.
Realmente,
esta colonização começou de modo missionário e avesso à exploração.
Só que
feito por espanhóis…
Na baía
de Chesapeake, os espanhóis fundaram uma missão jesuítica, conhecida como
“Ajacán” (1570), tendo como objetivos a conversão dos índios e a construção de
uma colônia.
Infelizmente,
o projeto não foi adiante porque a missão foi destruída pelos indígenas
liderados por um índio convertido e traidor em 1571.
Depois
deste acontecimento, os espanhóis, por esta e outras razões, desinteressaram-se
pela região, o que abriu espaço para os ingleses.
A afamada
rainha inglesa Isabel I, que praticava bruxaria e que mandou matar sua prima,
Maria da Escócia, encarregou Walter Raleigh, homem ávido por poder e lucro, espião
e pirata, de construir uma colônia em Chesapeake.
Esta
inicial tentativa inglesa também fracassou.
A
colonização começou, de fato, quando o rei Jaime I fundou a “Virginia Company”,
voltada para a exploração da região com a finalidade de lucro e a busca de
metais preciosos.
A
fundação da colônia da Virginia foi um empreendimento comercial empreendido por
certos indivíduos privados com o objetivo de expandir o comércio da Inglaterra
e trazer lucro tanto para ela quanto para os investidores (ANDREWS, 1961, p.3).
A
Companhia fundou uma cidade de nome Jamestown.
Curiosamente
esta cidade era tão comunista… que faria inveja em Stalin e Mao Tsé Tung.
Por
contrato, todos os bens produzidos pelos trabalhadores individualmente tinham
de ser colocados à disposição para a comunidade gerir. Trabalha-se como podia e
ganhava-se conforme a “necessidade”, que era definida pela comunidade.
Obviamente,
isto não deu certo porque o comunismo nunca funcionou em lugar nenhum. Houve
fome e até canibalismo e a Companhia teve de abandonar este modelo.
A
primeira cidade americana começou, digamos, de forma maoista.
Para o
empreendimento colonial, a Companhia da Virgínia não trouxe escravos da África,
pelo menos não em grande escala.
Não foi
necessário, pois a companhia podia contar com escravos brancos vindos da
Inglaterra.
Londres,
no final do século XVI e começo do século XVII, era uma cidade famosa pela
pobreza, crimes, incêndios e execuções (TAYLOR, 2001, p. 122). A taxa de
mortalidade superava a de nascimento em 1650 (JAMES, 1994, p.10). A população
não decrescia porque havia migração interna.
A fome e
a miséria em Londres eram tão grandes que as pessoas se “vendiam” para
trabalhar na Virgínia, sob o contrato da “escravidão temporária”. E muitos
futuros escravos eram sequestrados nas ruas inglesas e levados à força para a
Virgínia (JAMES, 1994, p.37).
A
“Indentured Servant” era uma espécie de escravidão temporária, na qual
trabalhava-se como escravo por quatro ou cinco anos e depois de findo o prazo,
o escravo era liberto (TAYLOR, 2001, p. 142). Em decorrência disto,
estabeleceu-se um comércio lucrativo com a intermediação de “corretores”.
Esta
servidão temporária era aplicada a crianças também. A Companhia da Virginia
chegou a fazer um acordo com a cidade de Londres para obter cem crianças pobres
e brancas para serem enviadas para a Virginia e lá serem vendidas como escravas
para os donos de terra locais.
Estas
pobres crianças eram descritas como “pragas” ou “elementos desordeiros”
(HOFFMAN,1993, p. 32). Uma lei foi aprovada em 1618 e previa a captura de
crianças abandonadas em Londres, a partir dos oito anos de idade, que seriam
levadas à Virginia para trabalhos forçados durante 16 anos para meninos e 14
anos para meninas (HOFFMAN, 1993, p. 32).
Porém,
como o trabalho era muito intenso e as punições eram brutais em caso de faltas,
muitos morriam antes do prazo final do trabalho forçado.
A
Companhia da Virginia faliu em 1624. A Coroa inglesa assumiu a administração e
instalou uma “plantation”[1] de
tabaco. A mentalidade monopolista foi mantida, assim, por exemplo, todo o
tabaco produzido tinha de vendido para a Inglaterra, por meio de barcos
ingleses (TAYLOR, 2001, p.147).
Com a
decadência da “Indentured Servant”, estabeleceu-se a escravidão negra.
A
Religião Católica durante um bom tempo foi proibida.
4.2.3 – MARYLAND
Lord
Baltimore conseguiu um “charter” (1634) do rei Carlos I e deu o nome do futuro
estado em homenagem à esposa do rei, Maria.
Foi uma
região de tolerância religiosa, onde curiosamente a única proibição era de
negar a Santíssima Trindade (ALLEN, 1968, p. 17).
Foi o
destino de muitos católicos e os jesuítas se instalaram por lá.
Lá também
houve com intensidade a “Indentured servants” e a plantação dominante foi o
tabaco.
4.2.4 – NOVA YORK E NOVA JERSEY
Nova
York, fundada pela holandesa Companhia das Índias Ocidentais (WIC), com a
finalidade de estabelecer um entreposto meramente comercial, foi batizada de
“Nova Amsterdã” (1624).
Como era
a regra nas colônias holandesas, a intolerância religiosa era de rigor e o
catolicismo era proibido. Porém, havia liberdade para os judeus que afluíram
para lá em grande quantidade e a primeira sinagoga dos Estados Unidos é de lá[2].
Também
era de regra o ódio contra os índios.
William
Kieft, diretor de Nova Amsterdã comandou o massacre de Pavonia contra os índios
em 1643.
Porém,
como as colônias do Caribe davam mais lucros que Nova Amsterdã, na terceira
guerra anglo-holandesa (1672-1674), na qual a Holanda saiu vitoriosa, a
Companhia das Índias Ocidentais holandesa trocou Nova Amsterdã pelo Suriname e
por uma ilha na Indonésia (BOWN, 2009, p. 100-101).
Nova
York, de um “negócio” holandês passou a ser um “negócio” inglês. Depois de
vários “charters”, estabeleceu-se o “Montgomerie Charter” de 1730, meio pelo
qual a cidade se tornou uma corporação, na qual interesses privados e públicos
se confundiam (HARTOG, 1989, p. 14).
A região
católica em Nova York restou proibida até pouco mais da metade do século XVIII.
(DUNCAN, 2005, p.19).
New
Jersey, por sua vez, antes de ser uma colônia independente, foi zona de
influência da WIC, depois passou para o domínio inglês e chegou a ser
controlada pelos Quakers durante um tempo.
4.2.5 – NOVA INGLATERRA E OS PURITANOS
A “Nova
Inglaterra”, na origem, englobava a área dos futuros estados do Connnecticut, Maine,
Massachusetts, New Hampshire, Rhode Island e Vermont, além de Plymouth, que foi
integrado ao Massachusetts posteriormente.
Inicialmente,
a colonização ficou a cargo da “Plymouth Company”.
No
decorrer dos anos, a área foi se desdobrando em várias colônias e outras
companhias surgiram.
Mas, após
um jogo de interesses que envolveu a “Dorchester Company” e a “New England
Company” (ROSE-TROUP, 2009) acabou-se formando outra companhia de nome
“Massachusetts Bay Company” que administrou a região e trouxe muito colonos.
A
“Saybrook Colony”, instalada no atual Connecticut, foi outra “Company” formada
por investidores, um deles ligado à pirataria, Robert Rich.
A maioria
dos imigrantes que foram para a Nova Inglaterra eram dissidentes religiosos,
que abandonaram a Inglaterra por causa de intolerância religiosa e fundaram, na
América, uma colônia baseada na intolerância religiosa.
Perseguia-se
quem não aderisse à religião “oficial”, muitos foram acusados de bruxaria e
executados. O mais famoso destes processos foi o das “Bruxas de Salem” em 1692
(TAYLOR, 2001, p. 184).
Por
razões religiosas, Roger Williams foi expulso da “Massachusetts Bay Company” e
fundou o que seria o futuro estado de “Rhode Island”.
Os
primitivos puritanos, que viajaram no Mayflower desde a Inglaterra até
Palymouth, pretenderam fundar em 1620, assim como Munzer, na Alemanha do século
XVI, uma Nova Jerusalém (BUSTAMANTE, 2005, p. 48).
Munzer
era um dissidente do luteranismo que fundou uma comunidade completamente
igualitária na Alemanha e cujos sectários eram chamados anabatistas.
Ou seja,
havia elementos milenaristas e igualitários entre os pioneiros americanos.
Eles não
eram apenas fundamentalistas; também eram comunistas, que pretendiam possuir
sua propriedade e distribuir sua produção igualitariamente (FERGUSON, 2003, p.
84)
De fato
chegaram a instalar o comunismo, na Plymouth Colony em 1620. Nessa colônia,
toda a produção deveria ser entregue para armazenamento comunitário, do qual
cada indivíduo receberia uma fração igual, não importando com quanto
contribuísse com a repartição dos bens produzidos. Porém, em 1623 houve uma
grande fome e por causa disto tiveram de abolir o sistema comunitário.
Outros
que vieram junto com eles estavam apenas fugindo da depressão na indústria
têxtil (FERGUSON, 2003, p. 84). Havia também os adeptos da tese de que “lucro e
religião andam juntos” (TAYLOR, 2001, p. 166), visão tipicamente calvinista.
Lá houve
a “indentured servitude”, ainda que em menor grau que na Virginia. (TAYLOR,
2001, p. 169-179).
Havia
escravidão africana, muitos mercadores da região tinham laços com o tráfico de
escravos, incluindo Peter Faneuil[3], de Boston. Nesta mesma cidade havia também
escravos indígenas (GALLAY et al., 2009, p. 24). A região chegou a trazer
escravos indígenas de outras regiões e até mesmo do Caribe. (GALLAY et. al.,
2009, p. 33)
A força
de trabalho escrava teve uma vital contribuição para a economia do norte (POPE,
1998, p. 16).[4]
4.2.6 – PENNSYLVANIA E OS QUAKERS
O
rei inglês Carlos II querendo quitar uma dívida que o reino tinha com o pai de
William Penn, resolveu dar a este (que havia herdado o crédito do pai como
herança) como pagamento daquele débito, algumas terras na América, que se
converteriam na futura Pennsylvania, no ano de 1681.
William
Penn era muito rico e um “quaker” obstinado.
O
Quakerismo é uma seita protestante mística advinda do anabatismo que defendia o
igualitarismo, ideologicamente mais próximo do marxismo que do liberalismo.
Eram
conhecidos como quakers porque quando o “Espírito Santo” supostamente “entrava”
neles, eles “tremiam”.[5]
Obcecados
pela ideia de irmandade, intitulavam-se como “amigos de Deus”. Eram contra
qualquer hierarquia na religião, não reconheciam distinção de classe social,
usavam roupas simplórias (e escuras) e usavam linguagem familiar com todos: não
se podia nem usar a palavra “mister”, por exemplo.
Homens e
mulheres eram tidos como iguais, ou seja, já havia naquelas terras um feminismo
“avant la lettre”.
Muitos
quakers pregavam abertamente, quer na América do Norte quer na Europa
continental, contra a propriedade privada defendendo que todos os bens deviam
ser comuns (BERNSTEIN, 1980, p. 234).
William Penn
fundou a cidade de Filadélfia, a cidade do amor fraterno, de cunho bastante
milenarista. Ardoroso defensor da igualdade, possuía escravos e montou também
uma “companhia” para gerir as questões fundiárias.
A cidade
do “amor fraterno” se tornou um porto importante de importação de escravos e lá
havia também a “indentured servants”.
4.2.7 – CAROLINA
A
Carolina foi fundada por exploradores das Índias Ocidentais, conhecidos
como “Lords Proprietors” compostos por oito políticos poderosos ligados ao rei
Carlos II, daí o nome “Carolina” (TAYLOR, 2001, p. 223).
Este
“lords” não foram morar na América e administravam desde a Inglaterra. Nomearam
para governar a região John Yemans, que havia matado um desafeto em Barbados e
era conhecido como “pirata de terra firme”.
Yemans
trouxe os primeiros escravos africanos para o trabalho nas lavouras, onde o
modelo econômico foi inspirado em Barbados, ou seja, nitidamente exploratório e
escravista. A diferença era que a produção era de arroz e não de cana.
Tal
modelo gerou riqueza para muitos poucos proprietários, incluindo é claro os
“lords”, sob uma massa de escravizados (TAYLOR, 2001, p. 243).
O
desprezo pelos índios era a regra e as guerras contra eles eram uma constante.
Em caso de fuga de escravos, o governo prometia uma “paz com os índios” em
troca de busca e entrega dos escravos fugitivos pelos índios. (TAYLOR, 2001, p.
223).
Estabeleceu-se
um tráfico no qual se exportava para as Antilhas, em especial para Barbados,
índios cativos na Carolina e importava-se escravos africanos que lá viviam, na
proporção de 2 índios por 1 africano. A desproporção se explica pela
maior taxa de mortalidade dos índios (TAYLOR, 2001, p. 231).
4.2.8 – GEORGIA
Em
1720, Os “Georgia Trustees”, um conjunto de mercadores, ministros anglicanos e
nobres da terra fundaram a colônia da Georgia (o nome foi uma homenagem ao rei
Jorge II). Foram financiados pelo parlamento inglês com fundos obtidos pelos
tributos pagos pelos ingleses. (TAYLOR, 2001, p. 241).
Talvez
tenha sido o único lugar onde a proibição da escravidão (1735) tenha sido feita
antes de sua legalização (1751).
Muitos
colonos foram morar lá porque a colônia se tornou um “asilo de devedores”
(FERGUSON, 2003, p. 132) que fugiam dos credores pois, estando na Georgia, eles
não precisavam pagar mais suas dívidas.
No mais,
o que vale para a Carolina, vale para a Georgia, em termos de exploração
econômica. (TAYLOR, 2001, p. 243).
4.2.9 – ÍNDIOS AMERICANOS E MASSACRES
Os
índios americanos tinham hábitos brutais como infanticídio, canibalismo,
crueldade exacerbada contra os inimigos etc.
Entre os
índios Natchez, havia um suicídio ritual parecido com o “sati” indiano e ligado
ao culto do sol.
Os
Iroquois praticavam tortura cerimonial e canibalismo. (TAYLOR, 2001, p. 103)
Em época
de carestia, muitas tribos tinham hábito de se sangrarem para a terra.
Os
ingleses tinham um profundo desprezo pelos índios e não fizeram quase nada para
elevá-los à civilização.
Em um
sermão de um clérigo em 1609, foi dito que aquelas terras (das Treze Colônias)
tinham sido usurpadas pelas bestas selvagens e criaturas irracionais (os
índios) e deveriam ser remidas pelos ingleses (JAMES, 1994, p. 12).
Durante
um século, foram feitos relatos extensivos das novas terras e neles, quase sem
exceção, os índios eram representados como uma raça degenerada e inferior
(JAMES, 1994, p. 13)
O
filósofo John Locke, secretário dos Lords Proprietors da Carolina, disse que se
os índios resistissem à expropriação das terras, podiam e deviam ser destruídos
como um leão ou um tigre, uma dessas feras selvagens, com as quais o homem não
pode ter sociedade ou segurança (FERGUSON, 2003, p. 87).
Pouco
interesse havia em converter os índios por parte dos protestantes (GALLAY, ET
AL, 2009, p.16)
O
primeiro governador da Virginia, Francis Wyatt declarou: “Nosso primeiro
trabalho é a expulsão dos selvagens para ganhar ar livre do país e incrementar
a pecuária e a suinocultura… para isso é melhor não haver nenhum pagão entre
nós” (TAYLOR, 2001, p. 135)
John
Smith, que havia sido salvo da morte por uma índia[6], declarou após saber dos massacres contra os
índios, que ficou feliz e disse que isto era bom para as plantações (TAYLOR,
2001, p. 135)
Os
colonos da Virginia desenvolveram uma estratégia que depois foi usada em outros
massacres que consistia em esperar até imediatamente antes das colheitas de
milho e atacar os nativos e destruir suas plantações, assim eles poderiam matar
os índios de fome (TAYLOR, 2001, p. 135)
Certa vez
os colonos convidaram dezenas de índios para “negociações de paz” e serviram a
eles bebidas envenenadas. Os índios que não morreram com isto foram mortos à
espada (TAYLOR, 2001, p. 135)
A
legislação da Virginia permitia aos colonos matar qualquer índio que
atravessasse suas plantações (TAYLOR, 2001, p. 136)
É verdade
que muitos índios morreram por causa da “praga branca”, que eram as doenças
trazidas pelos brancos. Em especial, a catapora matou muitos índios. Estas
“pragas brancas” eram comemoradas pelos colonos.
Na
prática, havia quatro possibilidades para os nativos: serem exterminados nas
guerras, morrerem por causa de doenças trazidas pelos brancos, serem expulsos
de suas terras e empurrados para o oeste ou serem vendidos como escravos para o
Caribe.
Muitas
guerras ocorreram: Pequot War, Anglo Powhatan War, King´s Philip´s war etc.
Como
resultado desta política de apartação e extermínio houve pouca miscigenação.
Os
Estados Unidos independentes herdaram o ódio inglês contra os índios e fizeram
dezenas de guerras de extermínio.
Benjamin
Franklin, um dos líderes da revolução americana, disse em sua autobiografia
que: “um dos desígnios da Providência Divina era extirpar os selvagens (índios)
a fim de abrir espaço aos cultivadores da terra” (MOOG, 2011, p. 108)
George
Washington, o primeiro presidente americano comparou os índios a lobos,
merecedores do mesmo tratamento que esses. [7]
4.2.10 – O VERDADEIRO THANKSGIVING DAY
Todos os
anos os americanos festejam o dia de “Thanksgiving Day”, na quarta quinta-feira
de novembro. Segundo a tradição, a origem foi uma confraternização dos
pioneiros com índios, feita no começo do séc. XVII.
Está é a
lenda…
A
verdadeira estória do primeiro “Thanksgiving Day”é:
John
Winthrop, governador de Massachussets proclamou uma “Ação de graças”, em 1637,
para celebrar o retorno seguro de um bando de caçadores fortemente armados,
todos eles colonos voluntários. Eles tinham acabado de voltar de sua jornada
para onde é agora Mystic, Connecticut, onde massacraram setecentos índios da
tribo Pequot. Homens, mulheres e crianças – todos assassinados.[8]
Todo ano,
no mesmo dia (do Thanksgiving), índios vão ao local do massacre e celebram o
“dia do pranto”.
4.2.11 – ESCRAVOS AFRICANOS E RACISMO
A
brutalidade no tratamento contra os escravos era a regra. Um observador notou:
“Os colonos não querem acreditar que os negros são criaturas humanas (TAYLOR,
2001, p. 155)
Não havia
o mínimo interesse em torná-los cristãos (TAYLOR, 2001, p. 214)
O casamento
inter-racial era proibido desde 1705, na Virginia (FERGUSON, 2003, p. 132) e em
alguns casos havia penas pesadas quando ocorresse (TAYLOR, 2001, p. 156)
Os negros
não tinham direitos iguais aos brancos mesmo quando eram livres e emancipados.
Negro e escravo eram palavras sinônimas (TAYLOR, 2001, p 156-157)
Houve
casos de negros livres que foram reescravizados e vendidos de novo.
Mais uma
vez os Estados Unidos independentes herdaram o racismo dos ingleses.
Lincoln,
por exemplo, era um típico racista:
Eu não
tenho intenção de introduzir uma política social de igualdade entre as raças
brancas e negras. Há diferenças físicas entre os dois as quais, e em meu
julgamento, provavelmente será sempre proibida sua convivência sobre a base de
igualdade perfeita, e na medida em que se torna uma necessidade que deve haver
uma diferença, eu, assim como o Juiz Douglas, sou em favor da raça a que
pertenço ter a posição superior[9]
Nos
Estados Unidos, a igualdade de direitos entre bancos e negros só foi
oficializada na década de 1960.
4.2.12 – ADMINISTRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Oficialmente,
as relações da Inglaterra com as “Treze Colônias” eram distintas para cada uma
delas. (ALLEN, 1968, p.22)
E as
colônias eram e se achavam bem diferentes. Segundo Benjamin Franklin:
A
desconfiança umas das outras [colônias] é tão grande que, por mais que uma
união das colônias seja há muito tempo necessária, para sua defesa comum, e sua
segurança contra seus inimigos, e por mais que cada colônia tenha sentido essa
necessidade, ainda assim nunca foram capazes de efetivar uma tal união entre
elas que tinham formas de governo diferentes, leis diferentes, interesses diferentes,
e algumas delas confissões religiosas diferentes e costumes diferentes”
(FERGUSON, 2003, p. 114).
No final
do século XVII havia três tipos de colônias: a companhia detentora de uma carta
patente, a colônia particular e a colônia real. A Coroa tentou simplificar a
relação submetendo todas ao Ministério do Comércio e das Plantações. (ALLEN,
1968, p. 22).
O fato de
as colônias estarem sob a tutela deste ministério revelava a intenção meramente
comercial dos ingleses.
O
executivo era formado pelos governadores nomeados pela Coroa, e o legislativo
era formado pelas assembleias locais eleitas pelos colonos (base de votos
restrita) que podiam ser dissolvidas pelo governador (ALLEN, 1968, p. 23).
Assim,
cada colônia tinha seus próprios governadores e assembléias locais.
A
Inglaterra, como era a regra em todos os lugares, impunha o monopólio em suas
colônias prejudicando o “livre comércio” e também havia taxação pesada de
alguns produtos.
Havia o
monopólio dos barcos ingleses, no qual nenhum bem que saísse das Treze Colônias
poderia usar bandeira de outro país, a imposição de que a importação de
produtos das colônias seria feita apenas por comerciantes ingleses e a
proibição das indústrias de lã e da laminação. (ALLEN, 1968, p. 24)
Como
resultado de tantas taxas, limitações e monopólios, o contrabando era a regra,
muito comum via Holanda (KOOT, 2011). Por exemplo, cinco sextos das importações
totais de melado produzido em Rhode Island eram contrabandeados (ALLEN, 1968,
p. 25).
Houve
certa vez a famosa “festa do chá”, na qual centenas de caixas de chá foram
lançadas ao mar em Boston, como forma de protesto contra a Inglaterra. O chá
era monopólio da BEIC (Companhia das Índias Orientais Britânica). O curioso é
que a taxação do produto havia caído e não subido. Os protestos foram feitos
por contrabandistas que temiam a concorrência “oficial” possuidora de um
produto barato e dentro da legalidade. (FERGUSON, 2003, p. 110).
A
Inglaterra também proibia a cunhagem de moedas, o que criou um grande problema
para a nação recém-independente, depois de 1776. Os Estados Unidos tiveram de
adotar um padrão e escolher uma moeda internacional para a circulação em seu
território. Escolheram, então, adotar uma moeda confiável (que circulava até na
China) de um local próspero, com arte desenvolvida e população miscigenada.
Este
local era a “Nova Espanha”, o atual México. Os pesos mexicanos circularam
oficialmente nos Estados Unidos até 1857 (FERGUSON, 2013)
Nas Treze
Colônias, os primeiros hospitais surgiram em meados do séc. XVIII, mais de 100
anos depois da chegada dos primeiros colonos. Fato que mostra um certo desprezo
pela caridade.[10]
Por
outro, as Treze Colônias tiveram muitos “colleges”, instituições aparentadas às
universidades, mas com muito poucos alunos. Harvard, por exemplo, foi fundada
por puritanos em 1636, época em que contava com nove aprendizes.
O estilo
arquitetônico predominante era o georgiano, que não possuía a beleza nem o
esplendor do barroco colonial português e do espanhol. Não há nenhuma cidade
histórica nas Treze Colônias com beleza digna de nota ou do nível de Ouro Preto
ou Cusco.
O
desenvolvimento das colônias foi irregular, a Virgínia foi durante muito tempo
a mais próspera. Depois, foi a Nova Inglaterra que possuía o melhor nível de
vida, melhor que a Inglaterra, no século XVIII, o que não era difícil, pois
Londres, por exemplo, como já foi dito, era uma cidade com nível péssimo de
vida.
Apenas 5%
dos habitantes viviam em cidades, no século XVIII, nelas, a desigualdade de
renda era enorme e a pobreza crescia (TAYLOR, 2001, p. 308), incluindo Boston,
na Nova Inglaterra, o local mais rico.
Segundo
um observador novaiorquino, os homens enriqueciam a custa do empobrecimento dos
vizinhos (TAYLOR, 2001, p. 308).
As Treze
Colônias perdiam em desenvolvimento para o Caribe.
Ferguson
(2003, p. 93-94):
Em 1773,
o valor das importações britânicas da Jamaica foi cinco vezes maior que todas
as Treze Colônias. Nevis produziu três vezes mais importações britânicas que
Nova York entre 1714 e 1773, Antígua, três vezes mais que a Nova Inglaterra.
(…) Durante a maior parte do século XVIII, as colônias americanas foram pouco
mais do que subsidiárias econômicas das ilhas do açúcar.
Ferguson
(2003, p. 94-95):
William
Pitt preferiu a opção caribenha, pois: “a situação do comércio existente nas
conquistas da América do Norte é extremamente ruim; as especulações sobre o
futuro delas são precárias, e a perspectiva, na melhor das hipóteses, muito
remota”
Em 1776,
a população total das Treze Colônias era estimada em 2,5 milhões de habitantes.
4.2.13- NOTA SOBRE A INDEPENDÊNCIA DAS TREZE COLÔNIAS
Como foi
que as colônias, que não eram tão ricas nem tão prósperas como reza a lenda,
submetidas a uma cultura de monopólio e escravidão, conseguiram a independência
(1776-1783) da Inglaterra, já uma potência militar mundial?
Na
verdade, a Guerra da Independência dos Estados Unidos foi uma grande vitória da
França e da Espanha sobre a Inglaterra.
Se não
fosse a ajuda da França e da Espanha, inimigas da Inglaterra, a história teria
sido outra.
Na Guerra
Anglo-americana de 1812-1815, por exemplo, travada na América do Norte, na qual
os Estados Unidos não contaram com a ajuda externa, estes não conseguiram nada
do que pretendiam e ainda viram a cidade de Washington ser incendiada pelos
ingleses.
Outra
razão para terem conseguido a independência foi justamente o fato de que as
Treze Colônias não eram ricas, assim não valia a pena para a Inglaterra lutar
tanto por elas: era mais interessante proteger as ilhas do Caribe, a joia da
Coroa (FERGUSON, 2003, p. 118).
Outro
dado econômico era que o comércio com a Índia também crescia em importância e a
BEIC (Britsh East Indian Company) era a companhia mais rica do mundo e
precisava ser resguardada.
4.3 – CARIBE (SÉC. XVII E
XVIII)
A
Inglaterra possuiu várias ilhas e partes da América Central. Poremos em relevo
as duas mais importantes nos séculos XVII e XVIII.
Durante
muito tempo, o Caribe produziu mais riqueza para a Inglaterra que as Treze
Colônias.
A
Jamaica, em 1713, era a colônia mais rica e importante do Império Britânico
(TAYLOR, 2001, p. 220). Além da riqueza produzida pelo açúcar havia aquela
obtida pelos bucaneiros, mediante pirataria e saques de cidades espanholas
situadas à beira-mar no Caribe.
Em certa
época, Henry Morgan, pirata, foi governador da Ilha e comandava um comércio
lucrativo de pirataria.
Port
Royal era a capital mundial da pirataria e terceira cidade mais populosa das
colônias britânicas. Também tinha a fama de ser a “Sodoma das Índias
Ocidentais”, tal a sua sujeira moral (TAYLOR, 2001, p.219).
O
tratamento dado aos escravos era cruel, houve rebeliões de escravos que foram
reprimidas com violência.
Barbados
era provavelmente a pior colônia do mundo inteiro, nos séculos XVII e XVIII.
Em razão
de vitórias em batalhas na Irlanda, o regicida Oliver Cromwell, então “homem
forte” da Inglaterra, enviou 50.000 prisioneiros de guerra irlandeses para
trabalharem como escravos em Barbados, na década de 1650. Eles e seus
descendentes ficaram conhecidos como “redlegs”.
Para lá
foram enviados também escravos africanos e até índios oriundos da América do
Norte.
O
tratamento dado a eles também era brutal. A elite tinha tanto de medo de uma
possível revolta que as casas eram fortificadas. (TAYLOR, 2001, p. 216).
O
desenvolvimento do açúcar só deu vantagem para uma minoria de colonos, que
visavam apenas lucro e logo queriam voltar para a Inglaterra (TAYLOR, 2001, p.
216). Mas, muitos proprietários de terra morriam antes de conseguir riqueza,
devido a muitas doenças.
Era comum
os habitantes se referirem a ilha como “Inferno”.
4.4 – AFRICA OCIDENTAL (SÉC. XVI E XVIII)
Em
1672 foi fundada a “Royal African Company” que visava o monopólio do tráfico de
escravos. Era o único interesse que a Inglaterra tinha na África, na ocasião.
Somente
no século XIX a Inglaterra iria colonizar partes da África.
4.5
-INGLATERRA NO FINAL DO SÉCULO XVIII E COMEÇO DO SÉCULO XIX
Londres
no final do século XVIII e começo do século XIX era uma cidade suja, cheia de
pobres e ladrões. Dizia-se que era a mais malcheirosa do mundo.
A
Inglaterra estava em plena Revolução Industrial. Nessa época criminosa, na qual
pelo menos 500.000 operários morreram devido às condições de trabalho, havia
também a “child slavery” (a escravidão de crianças).
As
crianças eram levadas a trabalhar nas fábricas e minas inglesas a partir dos 4
anos de idade, com jornadas, às vezes, de 16 horas por dia, durante 6 dias por
semana, às vezes, sete dias.
Muitas
crianças abandonadas eram simplesmente recolhidas nas ruas e enviadas
forçadamente para trabalhar, outras eram vendidas para as fábricas.
As
crianças eram trancadas nas fábricas para jornadas de 16 horas por dia e eram
mutilados por máquinas primitivas. Mãos e braços eram frequentemente rasgados
pelas peças. Meninas pequenas muitas vezes tinham seus cabelos presos nas
máquinas e eram escalpadas.
Crianças
que chegavam tarde ou dormiam em serviço eram espancadas com barras de ferro.
Havia crianças com correntes nas pernas (HUMPHRIES, 2010)
As minas
eram especialmente cruéis, a taxa de mortalidade era altíssima. Interessante
observar que na Roma Antiga, a “pena de morte” era igual à pena de trabalhar
nas minas.
A
diferença entre Roma e Inglaterra era que, em Roma, os condenados é que iam
para as minas e não crianças.
Pouca
diferença havia entre trabalhar na Inglaterra nestas minas e fábricas ou
trabalhar nos campos de Mao Tsé Tung ou nas fazendas coletivizadas de Stalin.
Os
“capitalistas” da revolução industrial eram como os membros do politburo
soviético.
A “Britsh
East Indian Company” (BEIC) foi fundada em 1600. O objetivo era controlar o
comércio com o oriente. A companhia estabeleceu feitorias em Surat (1612),
Madras (1639) e Calcutá (1690)
Com o
tempo, passou a ter o monopólio deste comércio com o Oriente.
Na Índia,
a BEIC podia cobrar impostos (o diwani) sobre mais de 20 milhões de pessoas
(FERGUSON, 2003, p. 61).
Tornou-se
uma poderosa companhia com direito de declarar guerra, administrar a Justiça e
fazer diplomacia com governantes estrangeiros. (BOWN, 2009, p. 108).
Possuía
uma armada e exército de mercenários, chegando a contar com 100.000 soldados
(FERGUSON, 2003, p.)
Também
praticava a pirataria, era corrupta, com relações estreitas com o governo
inglês (HUGHES, 1986, p. 58).
Estabeleceu
um lucrativo comércio de ópio com a China.
Clive, um
dos presidentes da companhia tornou-se um usuário de ópio (BOWN, 2009 p. 124).
Ele era uma pessoa dissoluta que saqueou as riquezas dos lugares por onde andou
(FERGUSON, 2003, p. 61).
No século
XVIII era a companhia mais poderosa do mundo.
4.7 – CHINA E GUERRA DO ÓPIO
A BEIC
fazia comércio com a China, comprava chá, cerâmica, seda e prata e revendia
ópio. Tecnicamente isto era um “tráfico”, já que o ópio era proibido na China,
ainda que tolerado.
O ópio é
uma droga:
O uso do
ópio mascado ou fumado, que se espalhou no Oriente,
provoca euforia,
seguida de um sonoonírico;
o uso repetido conduz ao hábito, à dependência química, e a seguir a uma
decadência física e intelectual, uma vez que é efetivamente um veneno estupefaciente.[12]
Desde
1793, a BEIC detinha o monopólio do comércio do ópio com a China.
Em 1839,
o Imperador Chinês resolveu erradicar o comércio do ópio porque estava
prejudicando o país, devido ao vício.
Após
alguns incidentes, a BEIC e a Inglaterra declaram guerra à China (Primeira
Guerra do Ópio) e venceram. Como resultado, a Inglaterra ganhou a futura
localidade de Hong-Kong, como território seu, e conseguiu acesso a mais alguns
portos.
E é
claro, com a vitória, a BEIC podia continuar vendendo ópio para toda a China
monopolisticamente.
4.8 – OS “COOLIES”
Os
“coolies” eram trabalhadores oriundos da Ásia, mormente da China e da Índia.
Após o
fim da escravidão, muitos países ainda queriam “mão de obra barata” para
trabalho nas plantações, minas e ferrovias e os “coolies” eram esta mão de
obra.
Os
“coolies” eram recrutados por meio de negociações voluntárias, porém, havia
muita trapaça e houve casos de sequestro. O transporte era feito em navios
superlotados. Em muitos locais de destino, sua condição de trabalho era similar
a dos escravos.
Os
destinos eram bem variados: América, África do Sul, partes da Ásia e Oceania.
Os ingleses dominaram amplamente este comércio.
Ferguson
(2003, p. 232):
Entre
1820 e 1920, perto de 1,6 milhões de indianos abandonaram a Índia para
trabalhar em várias colônias no Caribe, na África e nos oceanos Índico e
Pacífico, desde as plantations de borracha malaias até as usinas de
açúcar de Fiji. As condições que eles viajavam e trabalhavam eram
frequentemente pouco melhores que daquelas que haviam sido impostas aos
escravos africanos no século anterior.
4.9 – INDIA – RAJ BRITÂNICO
A
colonização britânica na Índia começou no século XVII, mas somente no século
seguinte a sua importância cresceu. Tudo no começo era feito pela BEIC. A
Companhia superou a concorrência holandesa e a francesa pela força e se impôs.
4.9.1 OS INDIANOS
Os
indianos tinham hábitos bastantes selvagens, além do “sati”, como já foi dito,
havia, também, os sacerdotes assassinos que matavam viajantes e os ofereciam
aos “deuses” e o infanticídio era muito comum contra meninas.
O regime
de castas era absurdo. Os “dalits” (párias), por exemplo, formavam a casta mais
“inferior” e faziam trabalhos “impuros” ou “abjetos” como lidar com animais
mortos, recolher lixo etc. Viviam segregados e não podiam entrar nos templos
nem podiam tocar os “puros”, membros de castas mais “elevadas”.
4.9.2 – DESENVOLVIMENTO
Os
ingleses construíram ferrovias, portos, edificaram cidades, melhoraram a saúde
do povo, etc.
Porém,
boa parte destas melhorias foi feita menos em prol de civilizar os indianos e
mais em prol dos lucros.
Uma parte
substancial dos lucros acumulados, conforme a economia indiana foi se
industrializando, ia para agências administrativas, os bancos e os acionistas
britânicos (FERGUSON, 2003, p. 231).
O direito
era diferente para britânicos e indianos. Havia até divisão espacial nas
cidades, ou seja, houve uma versão local do “apartheid”.(FERGUSON, 2003, p.
214).
A
Inglaterra também reorientou as estruturas tradicionais de poder, que antes
eram formadas pelos nababos e marajás, o que trouxe muitos problemas. Em muitos
casos, os líderes tradicionais locais foram trocados por funcionários da BEIC.
A
Inglaterra gosta muito das tradições, mas apenas na Metrópole.
4.9.3 – FOME
Durante a
colonização britânica, a Índia enfrentou vários períodos de grandes fomes.
Dezenas
de milhões de indianos pereceram. Segundo Davis (2001, p.8), entre 12,2 a 29,3
milhões.
Um dos
motivos foi a reorientação da agricultura na Índia: em vez de culturas
variadas, muitas delas de subsistência, foi imposto um modelo voltado para
exportação com predomínio do algodão, tributado com altas taxas.
O
tradicional sistema de famílias e de reservas de grãos nas cidades foi
suplantado pelas necessidades dos mercadores e pelo dinheiro (DAVIS, 2001,
p.20).
Mesmo com
a fome houve exportação de comida (DAVIS, 2001, p. 20). Houve centenas de
suicídios e muito canibalismo.
Durante a
administração da Companhia das Índias Orientais, houve a fome de Bengala
(1769-1773). A Companhia havia instituído o monopólio na área, substituído
plantações tradicionais pela plantação de ópio e cobrava elevadas taxas.
Segundo
Adam Smith, que comentou sobre o caso, a fome ocorreu ou foi feita mais grave,
em grande parte devido às políticas da “British East India Company “ (BEIC).
O governador
Lytton não agiu para minimizar a fome, devido a uma mentalidade combinada de
“livre mercado”, malthusianismo e darwinismo social.[13]
Outra
razão foram os problemas climáticos e última grande fome aconteceu em Bengala,
em 1943.
Os
ingleses não pareciam estar muito preocupados com estas fomes devastadoras,
afinal, muitos na Inglaterra pensavam como Winston Churchill:
“Eu odeio
os indianos, eles são um povo bestial com uma religião bestial”. Ou ainda: “Eu
sou pró-muçulmano – a única qualidade dos hindus é que há muitos deles e isto é
um vício” (HAVARDI, 2009).
4.10 – AUSTRÁLIA E NOVA ZELÂNDIA
4.10.1 – AUSTRÁLIA (1788-1901)
4.10.2 – INTRODUÇÃO
Os
primeiros europeus a explorarem a Austrália foram, provavelmente, os
portugueses, no começo do século XVI (HUGUES, 1986, p.46).
Depois
vieram os holandeses que, em 1606, desembarcaram na península do Cabo York.
Fizeram várias viagens ao longo de anos e exploraram muitas partes litorâneas.
Durante muito tempo, a Tasmânia (nome dado em homenagem a Abel Tasman,
holandês) era conhecida como “Van Diemen’s Land”. Fizeram mapas da região nos
quais constava o nome “Austrália” ou “Nova Holanda” (HUGHES, 1986, p.46-48).
Mas,
foram os ingleses que colonizaram a região. Em 1770, mais de 160 anos após as
primeiras expedições holandesas, James Cook reclamou aquelas terras do sul
(Austrália) para a Inglaterra.
A
colonização começou de fato em 1788 no atual estado de “Nova Gales do Sul”,
próximo da cidade de Sidney, com o envio de condenados enviados pela
Inglaterra.
4.10.3- “CONVICT LABOUR”
Podemos
dizer que, realmente, a Austrália foi colônia de povoamento, só que forçado. O
futuro país nasceu como um assentamento penal.
Criou-se
o “Convict Labour” (trabalho de condenados) o que para alguns autores seria, de
fato, a “Convict Slavery” (escravidão dos condenados).
Por este
sistema, os prisioneiros do Império Britânico eram enviados para trabalhos
forçados na Austrália.
Desta
forma, a Inglaterra se livrava dos criminosos e garantia mão de obra barata
para sua nova colônia. Mais de 160.000 foram enviados em aproximadamente 80
anos, de 1788 a 1868 (HUGHES, 1986, p. 145)
Muitos
destes condenados foram punidos por crimes leves, encontravam-se entre eles
jovens de 12 a 18 anos e até mesmo algumas crianças de oito anos. (SHAW, 1958,
p.26). Mesmo mulheres grávidas foram enviadas. Alguns foram enviados
porque roubaram ovelhas, outros porque furtaram comida (FERGUSON, 2003, p. 123)
Havia
também muitos presos políticos (FERGUSON, 2003, p.123).
Os barcos
que levavam os condenados se chamavam “navios do inferno” (FERGUSON, 2003, p.
123)
O
tratamento dispensado a eles era brutal. As chicotadas eram a regra como medida
punitiva. Muitos fugiam e encontravam a morte no deserto australiano.
A Ilha de
Norfolk na costa australiana foi o pior local. John Giles Price foi o mais
cruel administrador, que chegava a fazer experiências sádicas com os
condenados.
Pelas
regras na ilha, um preso podia receber 100 chicotadas se cantasse uma música,
ou se risse enquanto estivesse acorrentado (HUGHES, 1986, p. 480).
Entre
1820 e 1831, os “convicts” perfaziam 40% da população total da Austrália.
(HUGHES, 1986, p. 425).
O sistema
acabou totalmente em 1868.
4.10.4 – OS “BLACKBIRDS”
Com
a decadência do sistema da “escravidão dos condenados” e a necessidade de mão
de obra para as plantações no nordeste da Austrália (Queenland), criou-se uma
escravidão obtida com pessoas vindas de ilhas do Pacífico.
Entre
1842 e 1904, mais de 60.000 homens e meninos do Pacífico Sul e um número
indeterminado de mulheres e meninas foram sequestrados e levados para trabalho
escravo nas plantações de açúcar. (HOLTHOUSE, 1969)
O
tratamento dispensado a eles era brutal e a mortandade era elevada. Eram
conhecidos como “blackbirds”.
A
escravidão, nesta época, era proibida, porém, mediante subornos e conivências
com o governo local, de “escravos”, os “blackbirds”, passaram a ser
oficialmente tidos como “contratados”.
4.10.5 – IRLANDESES NA AUSTRÁLIA
Para
muitos irlandeses a Austrália foi a sua Sibéria (HUGHES, 1986, p. 181)
Assim
como os soviéticos enviavam os prisioneiros políticos para os “gulags”, os
ingleses enviaram os seus perseguidos políticos irlandeses para sua versão de
“gulag”, as prisões australianas.
O ódio
inglês contra os irlandeses começava já no transporte (HUGHUES, 1986, p. 148).
O “expresso siberiano” para os irlandeses eram os navios.
Estes
eram irlandeses presos em razão de revoltas na Irlanda contra o jugo inglês: os
que não eram mortos eram enviados para a Austrália como escravos.
É verdade
que há uma desproporção numérica entre o gulag siberiano e o australiano, já
que o primeiro se conta por milhões de condenados e o segundo, de acordo com
Hugues (1986), não passava de 2.000.
Mas, o
princípio é o mesmo.
Assim,
como os presos comuns, trabalhavam em obras públicas e em fazendas sob a tutela
de particulares.
Depois,
também houve também muita imigração voluntária dos irlandeses e assim como na Inglaterra
sofreram preconceito. Os protestantes sempre quiseram submeter os irlandeses
católicos pela força (CLARK, 1997, p. 34)
Órfãs
irlandesas também emigraram e encontraram forte discriminação e muitas morriam
miseráveis nas ruas australianas.
Interessante
observar que os primeiros “missionários” na Austrália foram “padres
condenados”. Um deles, James Dixon, irlandês, teve permissão para rezar missa e
atender os católicos. A primeira missa aconteceu em 1803.
A
Austrália talvez tenha sido o único lugar onde os missionários católicos
foram enviados forçadamente como “prisioneiros políticos”.
Apesar
das perseguições, primeira escola primária em Sidney foi fundada por um clérigo
irlandês (HUGHES, 1986, p. 349)
4.10.6- ABORÍGENES E MASSACRES
Como
regra mundial, os aborígenes tinham hábitos brutais. Em um desses grupos, se
uma mãe morresse logo após o parto ou durante a amamentação, o filho era
assassinado pelo próprio pai por meio do esmagamento da cabeça da criança com
uma pedra (HUGHES, 1986, p. 17).
Como de
hábito, os ingleses mostravam desprezo pelos aborígenes, havendo pouco ou
nenhum interesse em trazê-los à civilização. Queriam apenas suas terras. Não
havia uma política para lidar com eles, nem punição para quem matasse os
nativos (ARMITAGE, 1995, p. 140).
Como
resultado desta mentalidade, houve vários massacres e pequenas guerras contra
os aborígenes.
Na
Austrália, entre 1800 até 1920, já se perdeu a conta de quantos massacres
houve, desde “Risdon Cove” até o “massacre de Coniston”.
Na
Tasmânia, em especial, os aborígenes sofreram mais, foram caçados, confinados e
exterminados (FERGUSON, 2003, p. 128)[14]
Os poucos
que restaram foram fixados em uma ilha apartada da Tasmânia. (ARMITAGE, 1995,
p.17)
Este
episódio ficou conhecido como “black war”.
Os
aborígenes que sobreviviam às lutas, na Austrália, eram forçados a viver em
áreas delimitadas com restrição de ir e vir. Obviamente, a lei para os brancos
era diferente da lei para os aborígenes. Cuidou-se de uma versão local do
“apartheid”.
No começo
do século XX, com a Austrália já independente da Inglaterra, crianças
aborígenes eram tiradas à força de seus pais e levadas para “campos de
concentração” para serem “civilizadas”. Foi o que se chamou de “geração
roubada”.
4.10.7- RACISMO NA IMIGRAÇÃO
A
Austrália independente herdou o racismo inglês. Em 1897, pouco antes da
independência, foi aprovada uma lei, que na prática impedia a imigração de “não
brancos”. Comentava-se na ocasião sobre o “problema dos negros” nos Estados
Unidos que deveria ser evitado na Austrália.
Em 1901,
outra lei no mesmo sentido foi aprovada. O primeiro ministro australiano, nesta
data, declarou que “a igualdade entre os homens não implicava igualdade entre
ingleses e chineses”.
A lei de
discriminação só abolida em 1975. A Austrália, a exemplo dos Estados Unidos,
tem uma população pouco mestiça.
4.10.8 DESENVOLVIMENTO
O
desenvolvimento da Austrália, hodiernamente, contrasta com o início de sua
colonização.
No
começo, a vida na Austrália não era fácil e a mobilidade social era difícil
(HUGHES, 1986, p. 324). Havia muita miséria.
Em 1851,
porém, descobriu-se ouro na Austrália. A descoberta do ouro trouxe muitos
imigrantes e provocou a instalação de uma infraestrutura como estradas,
ferrovias etc. Veio muito capital da Inglaterra e mudou a face da Austrália.
Em 1854,
houve a “Eureka War”, uma pequena guerra dos locais contra o governo inglês,
que aumentara a taxa de licença para a exploração aurífera.
E houve
protestos racistas contra os chineses que haviam imigrado por causa do ouro.
Durante o
século XIX, a Austrália era um local com alta criminalidade (HUGHES, 1986, p.
494). A Tasmânia era o pior lugar e a imoralidade era tão grande que se dizia
que era pior que Capri sob Tibério (HUGHES, 1986, p. 529).
Os
irlandeses, sempre perseguidos, eram os primeiros a serem “investigados” quando
acontecia algum crime.
É claro
que, na Austrália, não ia faltar o monopólio de alguma “companhia majestática”.
A
Austrália do Sul, um dos atuais estados australianos, foi explorada, como
monopólio pela “South Australian Company”. A companhia podia vender as terras
que queria pelo preço mais alto (“leilão”). Houve algo similar na Tasmânia com
a “Van Diemens Land Company”.
A
Austrália conseguiu a independência em 1901, época que contava com
aproximadamente 3,8 milhões de habitantes. Foi uma transição pacífica pois a
Inglaterra negociou sua influência política e econômica.
4.10.9- NOVA ZELÂNDIA (1831-1907)
A
primeira expedição europeia conhecida a explorar a Nova Zelândia foi a do
holandês Abel Tasman em 1642, daí a designação, pois
Zelândia é o nome de uma província dos Países Baixos.
Em 1769
houve outra exploração com o inglês James Cook, na qual a Inglaterra reclamou
as terras. Mas, somente no começo do século XIX houve envio de colonos.
A
colonização da Nova Zelândia passa pela estranha figura de Edward Gibbon
Wakefield. Ele foi condenado no caso “Shrigley abduction” por ter
sequestrado, para fins de casamento, Ellen Turner, uma rica herdeira.
Edward
foi um dos mentores da “New Zealand Company”, uma companhia monopolista fundada
em 1837.
O
objetivo desta companhia era colonizar sistematicamente a Nova Zelândia. Seu
lucro advinha das relações fundiárias, pois comprava dos maoris as terras e as
revendia para os colonos europeus.
Devido a
uma intensa especulação, a companhia faliu e foi dissolvida em 1858.
Depois,
de um tempo, os colonos passaram a ter o direito de negociar as terras
diretamente com os índios.
Valia
qualquer trapaça para negociar terras com os maoris. Criavam-se, por exemplo,
débitos artificiais para os maoris pagarem, aí então, os colonos entravam na
justiça reclamando os débitos e ganhavam a terra como pagamento. (HAWKE, 1985,
p. 23).
Com o
“New Zealand Settlement Acts” de 1863, o governo podia simplesmente expropriar
as terras dos Maoris (WINEGARD, 2011, p. 28).
Os maoris
eram o povo autóctone. Formavam várias tribos, eram belicosos e praticavam
canibalismo contra os vencidos nas guerras locais e também contra europeus.
Outros hábitos selvagens foram relatados, como o infanticídio generalizado.
Os
maoris, quando tiveram contato com armas de fogo comercializadas com os
primeiros europeus que chegaram à Nova Zelândia, travaram uma guerra sangrenta
uns contra os outros, a “musket war”.
Guerra
esta que não deixou de ser interessante para os ingleses, pois assim podiam
conquistar o local mais facilmente.
Os
ingleses, também, travaram várias guerras contra os maoris, houve vários
massacres. A população autóctone decresceu sensivelmente, para menos da metade
do que havia antes da colonização.
A Nova
Zelândia era, em meados, do século XIX, uma colônia longínqua e pobre. Em 1845,
segundo o “Dublin University Magazine”,
a Nova Zelândia era “a mais recente, a mais remota e a menos civilizada das
colônias inglesas”.(PHILLIPS, 2008).
A
organização social era muito deficiente (McCARTHY, 2005, p. 168)
Muitos
irlandeses emigraram para a Nova Zelândia, e como era regra, enfrentaram
preconceito, já desde a partida, pois a “New Zealand Company” não considerava
os iletrados como imigrantes desejados.[15] Na
Nova Zelândia, as rixas entre os irlandeses e os outros colonos eram comuns.
A Nova
Zelândia tinha uma economia eminentemente agrária. Alcançou riqueza econômica
em meados do século XX, em boa parte devido ao “boom econômico da lã”.
Conseguiu
a independência pacificamente da Inglaterra em 1907, época na qual contava com
aproximadamente um milhão de habitantes. Como na Austrália, a transição foi
pacífica e a Inglaterra manteve sua influência.
4.11 – CANADÁ (1670-1870)
4.11.1 – INÍCIO E O “CANADÁ FRANCÊS”
Os
primeiros europeus a colonizarem o atual Canadá foram os franceses, processo
iniciado no final do séc. XVI e começo do séc. XVII. A colônia era conhecida
como Nova França (abordaremos sua história no tópico da Colonização francesa).
Chegaram a incluir os atuais Quebec e Ontario.
A Nova
França passou ao domínio britânico em 1763, em decorrência do desfecho da
Guerra dos Sete Anos. No tratado de Paris acordou-se a cessão dos territórios e
a obrigação por parte dos ingleses de respeitarem o direito e língua franceses,
o que foi respeitado.
4.11.2 – “HUDSON BAY COMPANY” E “CANADÁ INGLÊS”
A “Hudson
Bay Company” foi fundada em 1670.
O
objetivo da companhia era o comércio de peles, até então dominado pelos
franceses. Com o passar dos tempos tiveram a supremacia do comércio e quase
monopólio.
Durante
séculos boa parte do Canadá só teve um produto de destaque, as peles.
A
Companhia exercia de fato o governo de quase 40% do futuro país, até o século
XIX.
O
primeiro governador instituído pela companhia foi Ruperto do Reno, nobre e
bucaneiro no Caribe.
A
economia era escravocrata e havia tráfico de escravos indígenas. Houve vários
abusos contra os índios e pequenos massacres, mas nada comparado ao que
aconteceu nas “Treze Colônias” ou na Austrália.
A razão
era porque os índios eram úteis para o comércio de peles (FERGUSON, 2003) por
isso não foram eliminados.
O apogeu
da companhia foi com George Simpson, traficante de escravos e racista que
acreditava na supremacia da raça branca (BOWN, 2009, p. 208).
Designava
os nativos como raça de selvagens e os embebedava para obter favores (BOWN,
2009, p. 215).
Governou
como um tirano e desde que os lucros fruíssem ele tinha plena liberdade para
fazer o que quisesse (BOWN, 2009, p. 220).
Simpson
colocou no comando do leste do Canadá, McLoughlin.
Os dois
governaram com mão de ferro impondo um rígido código contra os índios. A
Justiça era aplicada não de acordo com as leis britânicas, mas de acordo com
interesses comerciais (BOWN, 2009, p. 226)
Houve
também a North West Company que também atuou no comércio de peles. Esta
companhia passou a concorrer com a Hudson Company e houve até escaramuças entre
elas.
O
confronto mais sangrento foi a “Batalha dos Sete Carvalhos” que deixou dezenas
de mortos. William McGillivray, diretor, e outros acionistas da North West
foram presos.
Devido à
violência, o governo, com sede em Montreal, forçou as companhias a se fundirem.
4.11. 3 - FUSÃO E NASCIMENTO DO CANADÁ
Em
1867 foi formada a Confederação do Canadá, com quatro províncias: Ontario,
Quebec, Nova Scotia e New Brunswick, a maioria deste território inicial havia
sido colonizado pela França.
Em 1870 o
território da Hudson Bay Company tornou-se parte do Canadá numa transação com a
Inglaterra.
Bown
(2009, p. 236): “O Canadá nasce desta monumental transação comercial entre a
companhia e o governo colonial”.
O
processo terminou com união da Columbia Britânica em 1871.
4.11. 4 – RACISMO E EUGENIA
A partir
de 1857, começaram a surgir uma série de leis, que na prática transformavam os
índios em cidadãos de segunda classe.
Em 1876
foi o começo de uma série de “Indian acts” que discriminatórios contra os
indígenas. Estas leis, por exemplo, proibiam os índios de beberem bebidas
alcoólicas, de jogar, disciplinavam como seriam as vendas das colheitas e até
mesmo limitavam o direito de ir e vir. Houve, como na África do Sul, a “lei do
passe”[16]
Muitos
indígenas foram na prática aprisionados em reservas e as crianças eram educadas
em escolas residências. Em 1928 surgiram leis eugênicas de esterilização
forçada contra eles.
Na
imigração também havia muito racismo. Chineses, por exemplo, tinham de pagar
uma taxa especial para poderem imigrar.
Em 1942,
canadenses oriundos do Japão foram enviados para campos internos e tiveram suas
propriedades confiscadas.
Apenas na
década de 1960, as últimas leis racistas foram abolidas.
4.12- ÁFRICA AUSTRAL (SÉC. XIX)
A
exploração da África Austral foi feita por duas companhias, a Britsh South
Africa Company (BSAC) fundada em 1889 e a The Beers fundada em
1880. Estas duas companhias passam pela figura de Cecil Rhodes.
Rhodes
era um megalomaníaco racista. Foi primeiro-ministro da Colônia do Cabo e homem
forte da Rodésia (BOWN, 2009, p. 271) e, ao mesmo tempo, era diretor das companhias,
misturando poder público e privado. Vivia pelo amor ao poder e não por
princípios, foi influenciado pelo darwinismo social, no qual uma raça (a dele,
óbvio) deveria dominar as outras.
A BSAC
explorou e fundou o que seria Rodésia (o nome era homenagem a Rhodes), atuais
Zimbábue e Zâmbia. Era uma companhia fraudulenta.
Interessado
nas terras e em umas possíveis minas de ouro, Rhodes enganou o rei da região da
Rodésia, Lobengula, e o fez assinar um contrato de concessão que implicava em
muito mais coisas que Rhodes havia dito (FERGUSON, 2003, p. 241).
Houve um
conflito entre Lubengula e Rhodes. Os mercenários de Rhodes usaram as
metralhadores “maxim” e exterminaram rapidamente 1.500 guerreiros africanos
(FERGUSON, 2003, p. 242)[17]
A The
Beers foi destinada a explorar diamantes.
Os
diamantes foram descobertos em Kimberley, onde havia mais de cem empresas
dedicadas à extração.
Lord
Rothschild financiou fusões e aquisições até que a The Beers conquistasse o
monopólio, com Rhodes como diretor (FERGUSON, 2003, p. 240)
Nestas
minas da The Beers, os trabalhadores eram negros submetidos a condições
similares a de escravos, virtualmente prisioneiros da companhia (BOWN, 2009, p.
260)
Rhodes
foi acusado no parlamento inglês de ser um “pedreiro de impérios que sempre foi
um mero empresário posando de patriota, e o chefe de uma quadrilha de astutos
financistas hebreus com quem ele dividia os lucros” (FERGUSON, 2003, p. 297)
Não era
somente contra os africanos que a Inglaterra cometeu abusos. Na guerra contra
os boers (brancos descendentes dos colonos holandeses), os ingleses fizeram uma
campanha de terra arrasada e criaram um campo de concentração, no qual quase
30.000 boeres morreram, a maioria crianças por desnutrição e más condições
sanitárias (FERGUSON, 2003, p. 293)
O caso
foi tão abjeto que gerou protestos dentro e fora da Inglaterra.
A
Inglaterra estabeleceu na África do Sul, dando continuidade à segregação racial
feita pelos holandeses, a lei do passe para os africanos, que obrigava os
negros a ficaram apartados dos brancos, só podendo ir aos locais dos brancos
mediante permissão. Isto também foi feito no Kenya, Rodésia e Niassalândia (JAMES,
1994, p. 295).
4.13 EGITO, SUDÃO E NIGÉRIA
O
Egito foi controlado pelos Otomanos. O vice-rei que mandava tinha o título de
quedive.
A
Inglaterra, devido á localização estratégica do Egito, acabou mandando no
queduvato. A França também exerceu alguma influência e construiu o canal de
Suez.
No Sudão,
a Inglaterra impôs seu jugo com força. Em uma batalha em Ondurmã, por exemplo,
pelo menos 10 mil africanos morreram rapidamente.
Um dos
objetivos do megalomaníaco Rhodes era fazer uma ferrovia ligando o Cairo ao
Cabo, coisa que nunca foi feita.
Na
Nigéria, George Goldie, filho de contrabandistas da ilha de Man, foi mercenário
na África e inspirado em Rhodes assumiu a “Niger company”, criada para o
monopólio do comércio e conquistas de terras.
O que ele
não conseguia pela via pacífica, com contratos que enganavam os chefes de
tribos locais, conseguia pela força, no caso, com a metralhadora “maxim”.
(FERGUSON, 2003, p. 245). Fez guerra contra os Bida, Fulani, Ilorin, bombardeou
vilas etc.
4.14 O APOGEU E O FIM DO IMPÉRIO BRITÂNICO
No começo
do século XX, o Império Britânico conheceu seu apogeu, pelo menos formalmente.
Dominava, na época, 25% das terras do globo e tinha 440 milhões de habitantes
(25% da população da Terra) (FERGUSON, 2003, p. 256).
Porém,
nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha já era mais rica (FERGUSON,
2003, p. 3001).
A
Inglaterra saiu vencedora da Primeira Guerra Mundial e obteve da Alemanha quase
todas as colônias desta.
Mas
igualmente, embora ainda fosse o “maior império”, no período entre guerras, os
Estados Unidos e a Alemanha tinham uma produção industrial maior que a inglesa
(JAMES, 1994, p. 457).
Era um
Império mais de fachada do que real e se distanciava cada vez mais da força que
teve no século XIX.
Na
Segunda Guerra Mundial, a Inglaterra lutou vigorosamente contra o nazismo e
várias colônias participaram dos esforços de guerra.
Os
japoneses, na Segunda Guerra Mundial, conquistaram vários territórios no
Oriente, nas vésperas e no decorrer da guerra. Alguns dos domínios britânicos
caíram na mão dos japoneses. O Império do Sol nascente era muito cruel contra
os vencidos (FERGUSON, 2003, p.350)
O
tratamento dado pelos japoneses aos britânicos foi brutal (FERGUSON, 2003, p.
354). E os ingleses puderam sofrer na pele, sob o jugo nipônico, o que fizeram
contra os índios, irlandeses, negros etc.
No final
da Segunda Guerra, a Inglaterra estava endividada e crescia cada vez mais o
movimento separatista em quase todas as suas colônias.
Aos
poucos, foi dada a elas a independência e na década de 1970, só restavam
algumas ilhas e alguns portos.
O Império
Britânico acabara.
O fim
dele não foi tão traumático como em Portugal, talvez porque tenha sido apenas
um “grande negócio comercial”.
4.15-
PONTOS POSITIVOS DA COLONIZAÇÃO BRITÃNICA
Apesar
de todos os abusos que a Inglaterra cometeu em seus territórios houve pontos
positivos:
1)
Liberdade para a Igreja Católica. Salvo algumas exceções, entre elas, algumas
colônias americanas, a Inglaterra não perseguia os missionários católicos, assim
houve missões na Índia, no Sri Lanka, na África etc.
2) Para
os autóctones que não foram exterminados e apartados do convívio completo com
os europeus, houve um importante acréscimo de civilidade. Afinal muitos povos
que tiveram contato com a Inglaterra eram tão selvagens que qualquer traço de
civilização já ajudava.
3) A
Inglaterra procurou estabelecer nos locais um mínimo de instituições
administrativas e poder de polícia, que faziam com que os locais pudessem
formar uma sociedade minimamente organizada.
4.16.- CONCLUSÃO
A
história real do Império Britânico está muito distante do mito liberal e das
visões românticas sobre ele.
Nas
colônias, o monopólio era a regra, principalmente feito por meio das
famigeradas companhias majestáticas.
As
colônias inglesas eram de “povoamento” apenas na imaginação dos ingênuos.
A
Revolução Industrial foi horrorosa e distante de qualquer princípio civilizado.
O racismo
inglês era de rigor, feito contra os irlandeses e contra todos os povos não
brancos. Por onde andou a Inglaterra ela instalou as versões locais do
“apartheid”.
Praticou
o extermínio.
A
Inglaterra foi “recordista” em tipos de escravidão: a negra, a indígena, a
branca (principalmente com os irlandeses) a dos condenados, a temporária, a das
crianças (tanto na Revolução Industrial quanto na Virginia), e a “disfarçada”
com os “coolies” e “blackbirds”.
A
Inglaterra recusou combater a fome na Irlanda (séc. XIX), local que era unido à
Inglaterra, como a Escócia do século XIX, e por meio da Companhia das Índias
Ocidentais provocou indiretamente a fome na Índia, uma das maiores dos últimos
séculos.
A
Inglaterra foi a “rainha da pirataria” com os infames corsários.
Disseminou
a eugenia, o malthusianismo e o darwinismo (anexo).
No século
XX, é bem verdade que a Inglaterra lutou valorosamente contra os nazistas.
Porém, no pós-guerra, junto com os Estados Unidos, cedeu a Europa Oriental para
a União Soviética e traiu a resistência polonesa.
Outro
fato esquecido é que os aliados, a Inglaterra incluída, enviaram, às vezes,
pela força, os exilados soviéticos e europeus orientais, que estavam na Europa
Ocidental acampados ou refugiados, para a área de influência soviética. (JUDT,
2006, p. 30-31)
Como
resultado, um em cada cinco repatriado foi morto ou enviado para os “gulags”.
(JUDT, 2006, p. 30-31)
No
decreto britânico de crimes de guerra excluía os que não fossem da Alemanha
nazista. Ou seja, para a Inglaterra não existiram crimes de guerra perpetrados
pela União Soviética stalinista.
[1] “Plantation”
é um tipo de sistema agrícola (uma plantação) baseado em uma monocultura de
exportação mediante a utilização de latifúndios e mão de obra escrava,
Wikipedia, verbete plantation.
[2] Esta
sinagoga foi fundada por judeus que fugiram do Recife reconquistado por Portugal.
[3] Ele doou para a cidade de Boston o prédio
que leva seu nome: Faneuil Hall. Esta edificação foi palco de eventos importantes
para os Estados Unidos e é conhecido também como “berço da liberdade”.
[4] Existe
uma “lenda” que na Nova Inglaterra não houve escravidão importante, o que é
desmentido pelos fatos.
[5] Quaker
significa em inglês tremer, também.
[6] O
famoso caso de Pocahontas.
[10] No
Brasil, por exemplo, as Santas Casas surgiram logo depois do início da
colonização. A de Olinda data de 1539, quatro anos depois de sua fundação.
[11] Uma
curiosidade: a bandeira dos Estados Unidos foi inspirada na bandeira da BEIC. A
versão “grand union flag”, de 1776, é praticamente idêntica a da BEIC.
[12] Wikipedia,
verbete ópio.
[13]http://www.preservearticles.com/2011090412852/essay-on-poverty-and-famines-in-india-under-the-british-rule.html
[14] Darwin,
que viajou à Austrália, elogiou o massacre, ver anexo.
[15] http://www.teara.govt.nz/en/irish/page-2
[16] http://www.tolerance.cz/courses/papers/hutchin.htm
[17] Os
mercenários de Rhodes compuseram até um “hino oficial”, numa das estrofes:
“Quando os dez mandamentos eles entenderem bem/vocês devem sumir com o chefe
deles e anexar a terra/se eles equivocados exigirem satisfação/dê-lhes um outro
sermão com uma maxim (metralhadora). (FERGUSON, 2003, p. 243).
Império
Colonial Holandês. Parte 3 de Impérios Coloniais, por Marcelo Andrade
Autor: Marcelo Andrade
5-
IMPÉRIO COLONIAL HOLANDÊS
5.1-
INTRODUÇÃO
A
República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos ou somente
“Províncias Unidas” foram os antepassados dos atuais Países Baixos e da
Bélgica.
Eram
formados pelas províncias de Frísia, Groninger, Güeldres, Holanda, Overijssel, Utrecht e Zelândia.
Como a
Holanda era a região mais importante, o local era conhecido apenas com este
nome e seus habitantes eram denominados como: holandeses, batavos, flamengos ou
neerdelandeses.
Usaremos
neste trabalho apenas o nome “Holanda”.
Durante
boa parte de sua existência, a Holanda pertenceu ao Império Sacro Romano
Germânico, depois passou a ser controlada pela Espanha. Na “Guerra dos 80 anos”
(1568-1648) lutou pela sua independência e no decorrer deste conflito já era
quase independente e possuía governo próprio.
O local
foi o destino de muitos judeus que se evadiram da Península Ibérica e contava
com muitos protestantes calvinistas, já que a região aderiu à Reforma.
Tinha a
fama de ser desorganizada e corrupta. O líder da República era conhecido como
“Stadtholder”.
Supostamente
havia liberdade religiosa e de “expressão”.
Menos
para os católicos.
Os
holandeses construíram seu Império Colonial a partir do começo do século XVII
lutando principalmente contra Portugal, Espanha e Inglaterra.
A guerra
contra Portugal foi a Luso-Holandesa (1595-1663) e se destacou entre as outras
porque com o resultado dela, a Holanda se apossou de vários entrepostos
lucrativos e de vários portos estratégicos que antes pertenciam a Portugal.
Jan Huygen van Linschoten e Cornelis de Houtman, foram
dois espiões holandeses que moraram em Portugal e levaram informações e
segredos para a Holanda, no final do século XVI (LANDES, 1998, p.140). Com
estas informações, a Holanda passou a conhecer os segredos dos mares
portugueses e ficou pronta para a batalha e a rapinagem.
A
finalidade dos holandeses nas suas colônias pode ser resumida pelas palavras do
poeta holandês Joost Van Den Vondel que, criticando seus conterrâneos, disse:
“para
onde o lucro nos levar, para qualquer mar ou oceano, pelo amor ao ganho, nós
vamos explorar os portos de todo o mundo” (LANDES, 1998, p.137).
Os
holandeses fundaram duas companhias para gerir seu império colonial: a
Companhia das Índias Ocidentais (WIC) e a Companhia das Índias Orientais (VOC).
A
primeira explorou pontos da costa ocidental da África e partes da América. A
segunda explorou a África do Sul, pontos da África oriental e vastas partes da
Ásia.
As duas
companhias fizeram de tudo para enriquecer a Holanda e o seus acionistas,
valendo-se de expedientes lícitos e ilícitos.
Outra
coisa unia as duas companhias e a Holanda: o ódio ao Catolicismo.
Podemos
dividir a colonização holandesa em dois períodos: um que vai grosso
modo de 1600 a 1800 e
outro que vai de 1800 até meados do século XX.
O final
do século XVIII e começo do século XIX são marcados pelo fim das duas
companhias majestáticas e por uma guerra contra a Inglaterra que fez a Holanda
perder muitas colônias.
5.2 COMPANHIA DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS
(WIC)
5.2.1- CARACTERÍSTICAS GERAIS
A
Companhia das Índias Ocidentais foi constituída principalmente por calvinistas
em 1621, com dois objetivos: pirataria e produtividade (BOWN, 2009, p. 72). Os
judeus também eram acionistas.
“Nas
contas desta empresa de pirataria havia um item oficialmente intitulado:
‘lucros e perdas por flibustaria e pilhagem marítima’” (ATTALI, 2002, p.324)
Em 15
anos (entre os anos 1612-1627), os navios da famigerada “Companhia das Índias
Ocidentais”, holandesa, capturaram 540 embarcações dos espanhóis. (ATTALI,
2002, p. 324)
A WIC
conquistou dos portugueses São Jorge da Mina, na costa africana, e durante um
tempo ocuparam Luanda, em Angola, e o Nordeste brasileiro.
A
companhia fundou Nova Amsterdã, a futura Nova York, mais tarde trocada pelo
Suriname (ver tópico da “Treze Colônias”) e conquistou algumas ilhas do Caribe
dos espanhóis, as futuras Antilhas Holandesas.
Um dos
objetivos, também, da companhia era o comércio de escravos. Durante um tempo
tiveram o monopólio deste tráfico, fornecendo com exclusividade para as
colônias da América Espanhola, o “asiento” (KOOT, 2011).
Tornou-se
uma companhia riquíssima e a principal fonte de renda dos judeus de Amsterdã
provinha dela (ATTALI, 2002, p.324).
5.2.2 – O NORDESTE DO BRASIL FLAMENGO (1630-1654)
O
nordeste brasileiro, no século XVII, era bastante rico (GRUZINSKI, 2006). Por
isso, a WIC se interessou por ele.
Olinda,
na descrição do Frei Manuel Calado:
Era
aquela república antes da chegada dos holandeses a mais deliciosa, próspera,
abundante, e não sei se me adiantarei muito se disser a mais rica de quantas
ultramarinas o Reino de Portugal tem debaixo de sua coroa e cetro. O ouro e a
prata eram sem número, e quase não se estimava: o açúcar tanto que não havia
embarcações para o carregar, que com entrarem cada dia, e saírem de seu porto
grandes frotas de naus, navios, e caravelas.[1]
O mesmo frade,
condenado os abusos em decorrência do fausto na cidade, disse que “de Olinda a
Olanda não há mais que a mudança de um i em a e esta vila de Olinda se há
de mudar em Olanda”
Inicialmente,
a Companhia investiu contra Salvador, então capital da colônia, em 1624. Após
deterem o controle da cidade por um ano, foram expulsos dela em 1625 por uma
expedição luso-espanhola conhecida como “Jornada dos Vassalos”
Em 1630
atacaram Olinda e Recife. No auge do poder chegaram até o Maranhão, dominando grosso
modo, desde o litoral norte da Bahia até o Ceará.
Estabeleceram
sua capital onde é hoje a cidade de Recife.
Após a
conquista, impuseram um regime de perseguições e abusos contra a população
local.
Olinda
foi incendiada.
Os
proprietários que se recusaram a aceitar os invasores tiveram seus bens
confiscados e vendidos em hasta pública. Assim, em 1637, na paróquia de Goiana,
vários engenhos foram confiscados e vendidos a holandeses (PEREIRA, 2004, p.59)
Mesmo
para os que aceitaram os invasores, em muitos casos, os holandeses confiscaram
metade de sua colheita e carros de bois e vacas leiteiras.
A
Companhia reorganizou a administrativamente região. Cada município passou a ser
governado pelos “comendores”.
A justiça
era formada pelos “escabinos” composto por holandeses e portugueses aliados.
Era completamente corrupta:
A justiça
era a que os flamengos queriam e de quem mais dinheiro tinha para dar (PEREIRA,
2004, p. 60) e a função de polícia era exercida pelos “escultetos” (skouts) que
exploravam o povo.
O próprio
Maurício de Nassau reconheceu, no seu testamento político:
“Não há
nada que os portugueses odeiem mais que as extorsões quotidianas praticadas
pelos escultetos nas províncias sob a cor de dinheiro e com as quais esfolam o
povo, muito além da contribuição devida por este” (CASTRO, 1943, p. 186).
Em uma
feita, um esculteto multou uma mulher pobre por não ter sido servido de água
por ela (PEREIRA, 2004, p.62)
Maurício
de Nassau foi feito governador pela WIC (1637-1644). Sua fama de “bom
administrador” não resiste aos fatos.
Ele
tinha, na realidade, um contrato de comissão pelo qual recebia uma porcentagem
de toda a riqueza produzida (e roubada) no Nordeste brasileiro (CASTRO, 1943).
Não passava de um mercenário a serviço da WIC.
O famoso
governante não coibiu os abusos, perseguiu os católicos e estabeleceu um
“passaporte” interno para circulação de luso-brasileiros em determinadas áreas.
É verdade
que construiu pontes e promoveu as artes, mas nada de extraordinário. Foi
acusado de corrupção pela WIC e teve de voltar para a Holanda a fim de ser
processado.
A WIC não
trouxe somente protestantes, mas também muitos judeus. Nos feriados judaicos
não funcionava o comércio de escravos.
A
religião católica foi intensamente perseguida durante o domínio flamengo. Os
padres foram expulsos de Recife, não se podiam construir igrejas e muitas delas
foram saqueadas, profanadas e queimadas.
O Capitão
André Pereira Temudo, por exemplo, morreu no átrio da Igreja da Misericórdia,
em Olinda, defendendo a cidade da profanação e dos ultrajes perpetrados pelos
invasores criminosos[2].
Esta
perseguição religiosa culminou nos massacres de Uruaçu e Cunhaú, em 1645. Jacob
Rabbi, judeu alemão, contratado da Companhia das Índias, praticava assaltos e
morticínios no atual estado do Rio Grande do Norte.
Em
Cunhaú(1645), ele liderou a chacina em uma igreja durante a missa, na
qual o padre André foi morto a punhaladas.
Em
Uruaçu, três meses depois, Jacob Rabbi liderou o massacre, no qual até crianças
foram assassinadas. Mateus Moreira, um dos mártires, teve o coração arrancado
pelas costas[3].
Os
luso-brasileiros, cansados de tanta exploração, rebelaram-se fazendo a “Guerra
da Luz Divina”. Destacaram-se nesta guerra, os heróis João Fernandes Vieira,
Vidal de Negreiros, Felipe Camarão, Henrique Dias e Dias Cardoso.
Em 1654,
depois da capitulação do “Campo do Taborda” os invasores holandeses, os judeus
aliados e a WIC foram embora para sempre.
5.2.3- ANTILHAS HOLANDESAS E SURINAME (SÉC XVII e XVIII)
Curaçao
foi tomada dos espanhóis em 1634. Os índios aliados dos espanhóis foram
expulsos da ilha e dirigiram-se para a Venezuela. Curaçao foi um importante
centro de tráfico de escravos e de pirataria.
Para
explorar o Suriname, foi formada uma companhia de nome “Society of Suriname”
composta pela WIC, pela cidade de Amsterdã e pela família Van Aerssen van
Sommelsdijck.
O
objetivo era formar uma “plantation” de açúcar.
Muitos
judeus foram para lá e tornaram-se uma casta de privilegiados (VINK, 2010) A
cor de pele, como era regra em muitos locais, determinava o status social
(VINK, 2010, p.18) e havia até relatórios coloniais classificadores de cor de
pele. (VINK, 2010, p.142).
5.2.4- COSTA OCIDENTAL DA ÁFRICA (SÉC XVII)
Para
garantir o tráfico de escravos, a WIC tomou alguns portos portugueses na costa
ocidental africana.
São Jorge
da Mina foi tomada em 1637, Shama em 1640, São Tomé, Benguela e Luanda caíram
em 1641 e Axim em 1642.
Luanda,
Benguela e São Tomé foram reconquistados por Salvador de Sá e Benevides que
partiu do Brasil.
5.3 – COMPANHIA DAS ÍNDIAS ORIENTAIS (VOC)
5.3.1- CARACTERÍSTICAS GERAIS
A
Companhia das Índias Orientais (VOC) foi fundada em 1602, era uma
megacorporação monopolista com poderes de declarar guerra, negociar contratos
com outras nações, cunhar moedas, estabelecer colônias e poderes de polícia e
do Judiciário. Contava com um exército de mercenários para manter seu poder.
Foi a
Companhia mais poderosa do mundo no século XVII, mais que muitas nações.
Empreendeu
luta contra Portugal, dentro do contexto da Guerra Luso-holandesa, buscando
roubar de Portugal os entrepostos lucrativos no Oriente.
A
Companhia era mais um sindicato de pirataria que uma empresa capitalista (BOWN,
2009, p.28).
A VOC
chegou a ser conhecida como “Vergaan onder Corrupitie”, que significa “perecida
pela corrupção” ( LANDES, 1998, p. 146).
Na ânsia
de lucros, empobreceu várias sociedades, queimou plantações para elevar os
preços das especiarias e realocou populações inteiras (BOWN, 2009, p. 52).
No final
do século XVIII, a Companhia se tornou mais corrupta e ineficiente ainda e
terminou por falir em 1799 (BOWN, 2009, p.53).
Jan Coen
foi o primeiro presidente e era um homem cruel, que detestava competição (BOWN,
2009, p. 2)
A VOC
também estabeleceu um comércio lucrativo de escravos no Oceano Índico que iam e
vinham da África e da Ásia.
5.3.2- ÍNDIA E SRI LANKA (SÉC XVII a SÉC XIX)
Na Índia,
a VOC investiu contra a costa Malabar e tomou Cochin dos portugueses (1663).
Deixaram apenas uma igreja de pé, destruíram todas as outras.
Um dos
objetivos da companhia era o monopólio da pimenta.
O
principal local da VOC era a região de Bengala, que ficou conhecida como
“Bengala Holandesa”. Tomou Calcutá e Chinsura, onde houve um assentamento
português. A região foi dilapidada e a companhia estabeleceu um comércio de
ópio.
O Sri
Lanka, a antiga Taprobana, como era conhecida pelos romanos, foi explorada
pelos portugueses, que estabeleceram uma missão lá com grande sucesso e muitas
conversões.
A VOC
conquistou o local (1656) e destruiu a missão portuguesa impondo um regime de
terror contra os católicos. A religião católica foi proibida e muitos padres
foram expulsos (MOFFETT, 2005, p.223-224). Aconteceram vários massacres.
São José
Vaz[4] vindo
de Goa, mesmo sob o risco de morte, assistiu aos perseguidos. Milagres foram
relatados.
No final
do século XVIII e começo do XIX, a Holanda perdeu todas as suas posições na
Índia e no Sri Lanka para a Inglaterra.
5.3.3 MÁLACA (1641 a 1824)
Em 1641,
Málaca caiu nas mãos da VOC, houve perseguição religiosa, o catolicismo foi
proibido e todos os padres e o bispo tiveram de fugir. Igrejas foram
destruídas, alguns católicos passaram a seguir a fé secretamente e outros
fugiram para o interior da península:
O
fanatismo calvinista, intolerante e cruel, destruiu quase todas as igrejas e
apossou-se das que lhe convinha para uso dos seus sectários, vendo-se os cristãos,
habitantes da cidade, no extremo de se refugiarem nas florestas para ali
poderem exercitar as praticas da sua religião! (op.cit. 141)[5]
Somente
no século XVIII voltou a haver alguma liberdade para os católicos.
Em 1824,
a cidade foi cedida para os ingleses.
5.3.4- INDONÉSIA E AS “ILHAS DAS ESPECIARIAS” (SÉC. XVII a
SÉC XIX)
A
Indonésia é um arquipélago de mais de treze mil ilhas. Era um grande centro de
especiarias.
Os
portugueses haviam estabelecido missões e entrepostos comerciais em várias
partes : Ilhas Banda, Amboina, Celebes, Molucas, Ternate, Timor etc.
Em
Amboina, os portugueses haviam construído um forte, algumas igrejas e uma Santa
Casa de Misericórdia. A missão, sob os cuidados dos jesuítas prosperava.
A VOC
conquistou o local. Num primeiro momento tolerou os católicos, mas numa segunda
etapa passou a persegui-los e finalmente expulsou os portugueses, os
missionários e muitos convertidos da ilha (ARITONANG e STEEBRINK, 2008, p. 35).
A ilha
era rica em cravo-da-índia, daí o interesse da VOC. Para manter o monopólio e o
preço elevado ela fazia o “hongi tochten”, a destruição sistemática de árvores
de cravo por onde encontrasse, fora de Amboina. Isto causava pânico em várias
ilhas.
Em 1623,
a Companhia das Índias inglesa se interessou pela ilha, gerando um confronto
contra os holandeses. No conflito, os holandeses mataram todos os ingleses com
requintes de crueldade.
Nas Ilhas
Banda, a VOC fez vários massacres de indígenas e deportou vários para
trabalharem como escravos na Indonésia. O objetivo era retirar toda a população
da ilha e trazer novos colonos e escravos. (BOWN, 2009, p. 46).
A VOC
diminui a produção local de noz-moscada para aumentar o preço.
Amboina,
durante muito tempo foi o “quartel general” da VOC na região. A companhia, por
onde estabeleceu seus portos e feitorias, mantinha os indígenas na
inferioridade. Os holandeses que foram para lá viviam apartados da população
local, sem miscigenação. Não havia nenhum interesse em levar os autóctones a um
nível melhor de civilização.
5.3.5- ÁFRICA DO SUL HOLANDESA (1652-1815)
Os
primeiros europeus a explorarem o litoral da África do Sul foram os
portugueses.
Porém, os
primeiros colonos europeus vieram com a Holanda. A maioria deles eram
calvinistas e uma pequena parte era de huguenotes franceses.
A VOC se
instalou na região da Cidade do Cabo. Iniciou uma colonização (1652) no local e
estabeleceu uma economia escravocrata e de exclusão social que varreria por
séculos a região.
Em 1659
houve violentos conflitos com os nativos, muitos foram expulsos de suas regiões,
outros foram escravizados.
Havia
intensa escravidão negra quer com os locais quer com escravos vindos de
Madagascar e da Indonésia.
No século
XVIII, criou-se a “lei do passe”, a qual inicialmente era aplicada somente aos
escravos, que só podiam se locomover de posse de um documento permissivo.
Posteriormente, a “lei do passe” se estendeu para todos os “Khoikhoi “
(nome dado aos indígenas locais).
Isto foi
o embrião do futuro “apartheid”.
Os
contatos com os africanos livres eram desestimulados. A religião católica era
proibida no local (ELPHICK e DAVENPORT, 1998, p. 195).
Em 1815,
o controle da região passou para a Inglaterra.
5.4 – O IMPÉRIO COLONIAL HOLANDÊS DEPOIS DE 1800
Após
o começo do século XIX, as colônias holandesas se reduziram à Indonésia, às
Antilhas holandesas, ao Suriname e alguns portos na costa da África que iriam
ser perdidas ao longo do século XIX.
A VOC e a
WIC foram extintas.
Na
Indonésia, a Coroa Holandesa assumiu a administração, com uso de escravidão e
de um sistema legal com duas classes de cidadãos: os europeus e os indígenas.
O país
nunca foi homogêneo nem geograficamente nem populacionalmente. Possuía várias
etnias, religiões, línguas diferentes e muitos governos locais. Bali, por
exemplo, tinha 250 governantes (MOFFETT, 2005, p. 367).
A Holanda
unificou todas as ilhas do arquipélago sob um mesmo governo colonial, tarefa
esta terminada em 1906 (MOFFETT, 2005, p. 367).
5.5 – CONCLUSÃO – HOLANDA
A
colonização da Holanda até 1800 foi eminentemente predatória e exploratória.
Fizeram perseguição sistemática contra a Igreja Católica.
Dentre os
colonizadores analisados, eles foram os piores.
Abusaram
tanto da crueldade, poder e massacres que até os ingleses ficaram chocados.
“Para os
ingleses, os holandeses formavam uma nação perversa e viciosa que tinha feito
tudo dentro do seu poder, durante os três séculos que esteve lá, mantendo os
povos sob medo e escravidão” (WITT, 2007, p.3 ).
Depois de
1800, essa colonização melhorou um pouco. A Igreja Católica pôde se instalar na
Indonésia, houve investimentos lá e pelo contato transmitiram alguma
civilização e conseguiram organizar uma nação com unidade, que antes era
completamente inexistente.
[1] http://livros01.livrosgratis.com.br/cp137308.pdf
[2] Há uma placa junto da Igreja em Olinda
fazendo menção ao fato.
[5] http://www.revista.brasil-europa.eu/127/Portugueses-em-Singapura.html
Só posso dizer algo sobre esse texto: Simplesmente fantástico e esclarecedor. Parabéns a baixada por mostrar a verdade sobre a historia.
ResponderExcluirTodos os créditos para o professor Marcelo Andrade pela grande verdade ensinada nessa matéria!
ResponderExcluirAgradeço também ao site www.montfort.org.br pelo belo trabalho de apologia e ensinamento das verdades catolicas.
Então parabéns pra eles também. Esse site me fortalece cada vez mais na fé. Vcs são uma verdadeira ferramenta contra essas seitas satânicas ditas " evangélicas" pois já vi e ouvi cada aberração proferidas por algumas delas contra a única e verdadeira Igreja de Cristo! Rezemos para que os irmãos revoltados retornem ao seio santo da Santa Madre Igreja Católica. Abraços e sempre juntos.
ExcluirVcs deveriam fazer vídeos sobre estas coisas porque muita gente tem preguiça de ler,e dane-se
ResponderExcluirjudeus sionistas,protestantes,ateus,comunistas,capitalistas,etc,se baixar a cabeça essa palhaçada
vai continuar.Certa vez meu professor de História (protestante) que por sinal uma pessoa maravilhosa
e extremamente apaixonado por história tentava nos enfiar na cabeça estes mesmos chavões,ele
demonizava os portugueses e engrandecia os ingleses,americanos,então como eu não tinha conhe
cimento eu retruquei e disse:'Mas não foram só os portugueses que exploraram o Brasil,os INGLE
SES,HOLANDESES também" daí ele ficou meio sem graça.Coitado ele aprendeu assim né?
2 Perguntas:Por que os países colonizados pelos protestantes (que eram controlados pelos judeus
sionistas) prosperaram e os colonizados pelos católicos (que também eram controlados pelos judeus
não prosperaram?
Deviam fazer um vídeo sobre isso,porque as pessoas tem muita preguiça de ler.
ResponderExcluirA aversão aos católicos começa lendo estes livros mentirosos do MEC.Leiam o livro:
Gustavo Barroso história secreta do Brasil,a verdadeira história do descobrimento do Brasil,