"Nosso nosso século retornaram os mártires, muitas vezes desconhecidos, quase 'militi ignoti' da grande causa de Deus" (Tertio millenio advenient n. 37).
Quero escrever sobre números, uma vez que é isto que importa hoje em dia. O primeiro número que quero escrever é 860.000: "O escritor e diplomata israelense Pinchas Lapide estimou que 860 mil judeus foram salvos [do regime nazista] com a intervenção católica" (1).
Quero agora escrever 800. É o número de sacerdotes católicos mortos entre 1955 e 1995 em diversas partes do mundo (2).
Agora quero escrever 5.300. É o número dos que foram martirizados no México quando desencadeou-se o regime anticatólico de 1917 (3).
Na Espanha, entre 1931 e 1939 [durante a guerra civil espanhola] existem outros números: 2.000 igrejas destruídas, 6.000 sacerdotes assassinados, bens móveis e imóveis confiscados (4).
Agora quero escrever 9.000. É a soma dos 6.000 missionários estrangeiros presos, expulsos ou assassinados com os 3.000 sacerdotes, leigos ou religiosos chineses condenados ou deportados a partir de 1949 na instauração do comunismo chinês (5).
Na União Soviética (URSS) "a vida religiosa católica foi, em poucos anos, quase completamente aniquilada [...]. Com a guerra de 1939 a 1945 [...] 70 milhões de católicos [dos países anexados e da própria Rússia] sofreram uma duríssima perseguição. Em 1929 foi expulso o último bispo católico. [...] Em 1937 foram fechadas [pelo sistema de governo soviético] 1.100 igrejas ortodoxas, 240 igrejas católicas, 61 protestantes, 110 mesquitas [...]. As igrejas ortodoxas que em 1913 eram 80.729 foram reduzidas a 3.900 [...]. Essas medidas encontraram a oposição do povo, que respondeu com grandes procissões para defender as igrejas e os mosteiros. [...] Em 1922 fala-se de 8.100 vítimas (2.691 sacerdotes, 1.962 monges, 3.447 monjas, 150 bispos deportados para a Sibéria)" (6).
Outro número que é interessante: Na Albânia "depois de seis anos de governo comunista, a Igreja Católica estava quase completamente aniquilada [...]. Dos seis bispos, restava um. Dos 94 sacerdotes seculares, dezessete foram mortos, 39 presos, 3 obrigados a buscar asilo no exterior, onze convocados às armas, dez mortos de morte natural ou seguida de maus-tratos [...] Além disso, foram fechados ou requisitados todos os seminários, noviciados, conventos, escolas, asilos e todas as obras da Igreja Católica" (7).
Resolvi escrever estes números inexatos e que não contam os assassinatos de católicos, ortodoxos e protestantes das duas últimas décadas. Tenho um único intuito: mostrar que a Igreja permanece viva. Ela a ninguém incomodaria se não estivesse viva! Ademais, os apelos dos Santos Padres a que nos entreguemos de corpo e alma à obra da evangelização é para que o mundo, conquistado pelo Evangelho, se convença de seus erros e assim trilhe caminhos diferentes do passado. Não penso que o mundo venha a pedir perdão à Igreja por tê-la feito sofrer tal agrura. Nenhum filho ingrato o faz para com sua mãe. Com os governos e sistemas hostis que nos governam não é diferente. Os números da perseguição podem aumentar no mesmo passo que os do IBGE diminuem para a percentagem de católicos no Brasil, porque para ser perseguido em nossos dias basta professar a fé viva e incondicional em Jesus Cristo e em suas leis e mandamentos. Concluo afirmando que a Igreja não faz o papel de vítima de um psicodrama. Ela é protagonista de sua história guiada pelo Espírito de Deus. A Igreja não tem necessidade de se auto-afirmar incensando os erros do passado e cultivando-os numa memória mórbida da própria sorte. Ela afirma-se propondo um mundo novo aos olhos contemporâneos sem esquecer-se de quem é e sem apegar-se aos muitos flagelos que sofreu na história. Porém, penso ser um dever de justiça dar a cada um o que lhe é devido. Incautos há que cobram a Igreja sob a pecha de "obscurantista; má; perseguidora e assassina" em um período da história sem, contudo, conhecê-la ou ao menos citar dados e fontes. O texto supra tem um tom apologético. Ele intenciona dar a César o que é de César: Nas mãos de sistemas iníquos repousa o sangue de Abel que clama aos céus por justiça!
(1) cf. ZAGHENI, G. A Idade Contemporânea. Curso de História da Igreja IV. São Paulo, Paulus: 1999. Pg. 323.
(2) (3) (4) (5) cf. Idem. pg. 394.
(6) cf. Idem. pg. 395-396
(7) cf. Idem. pg 398-399
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