Introdução
Parece-me praticamente impossível encontrar um
católico que jamais tenha sido chamado, direta ou indiretamente, de idólatra. O
católico caminha pelas ruas e alamedas de sua cidade e, de forma repentina,
surge alguém diante dele com uma Bíblia na mão citando Êxodo, Salmos ou Isaías
em suas respectivas passagens onde há uma condenação explícita do culto de
imagens. Aliás, diga-se en passant, este católico que é interpelado ao
caminhar pelas vias de seu município pode se considerar um verdadeiro
afortunado, pois os menos felizes são molestados em suas próprias casas em dias
nos quais tudo o que desejam é ter um momento de paz com a família.
Um pouco mais adiante retornaremos aos textos
bíblicos mencionados e aí teremos a oportunidade de explicá-los um pouco
melhor.
Pois bem, ao ser interpelado, o católico pouco
acostumado às Sagradas Letras e desconhecedor da Tradição e dos ensinamentos da
Igreja é facilmente induzido a crer que durante toda sua vida fora enganado e, o
que é bem pior, a Igreja tem conduzido ao erro não apenas ele, mas todas as
gerações de cristãos que existiram nestes últimos vinte séculos. Percebe-se que
aqui o "deus" em que os protestantes dizem acreditar se torna o "deus
sonolento", semelhante ao falso deus dos profetas de Baal quando do confronto
com o profeta Elias (cf. 1 Reis 18, 20ss), uma vez que este deus permitiu que a
raça humana ficasse séculos e séculos imersa no erro até que surgisse “o”
profeta, “o” ungido, “o” pastor.
Porém, nós católicos estamos cientes que
servimos a um Deus vivo e que não dorme e nem tira cochilinhos multisseculares.
Sabemos que Nosso Senhor está com a Sua Igreja desde sempre e estará ao seu lado
até o fim dos tempos (cf. Mt 28, 20). Ele jamais a abandonou e sempre está
presente, conduzindo-a para a pátria gloriosa que Ele tem preparado para ela.
Assim, Ele não permitiria que a Sua puríssima noiva, a Igreja, caísse no mais
abominável pecado que é a idolatria. Logo, é evidente que o culto das imagens
nada tem que ver com idolatria (palavra, aliás, que muitos protestantes nem
sabem o que significa), pois isso seria trair o próprio Deus, que por nós fora
imolado no madeiro.
Devo acrescentar que acusar os católicos de
idolatria é uma calúnia infame e covarde. Com isso, os protestantes alegam que
nós adoramos outros “deuses” e que apenas eles, os protestantes, conhecem o Deus
verdadeiro. Ora, meus caros amigos protestantes, saibam vocês que muito
antes de qualquer seita protestante existir, a Igreja Católica, em seu trabalho
missionário de séculos, já anunciava que há apenas um único Deus, que fez o céu
e a terra, e que além d’Ele não há outro. Aliás, é isso que declaramos
quando rezamos no Credo:
Credo in unum Deum, Patrem
omnipoténtem, Factórem cæli et terræ, Visibílium ómnium et invisibílium
Creio em um só
Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da
terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Assim,
caro amigo católico, jamais aceite ser chamado de idólatra, pois com isso, os
adversários da verdadeira fé querem insinuar que adoramos e servimos a demônios.
É este o grande “respeito” que os inimigos da Igreja têm para com ela e para com
seus filhos.
Feitas tais considerações, passemos a questão
principal.
A importância e a utilidade das
imagens
Mas então, qual seria o papel das imagens na
vida cristã?
Lúcio Navarro, nos parágrafos 380 e 381 de sua
obra "Legítima Interpretação da Bíblia", nos lembra, antes de qualquer coisa,
que
(...) o culto das imagens NÃO É OBRIGATÓRIO
neste sentido de que alguém, para salvar-se, tenha que possuir imagens ou
prestar-lhes culto, nem também no sentido de que sem elas nós não nos pudéssemos
nos dirigir aos seus protótipos. A Igreja poderia, até, proibir o uso das
imagens em alguma região onde êste [sic] culto estivesse sendo mal interpretado
e não houvesse possibilidade de ser bem compreendido (destaques do
autor).
Ou seja, nada obriga que um católico tenha
alguma imagem em sua casa. Ademais, a salvação não depende do culto das imagens,
como muitos dos nossos irmãos separados pensam. É bem lembrado ainda, que a
Igreja pode vetar a utilização de imagens caso esteja havendo algum tipo de
abuso por parte dos membros de determinada comunidade. No entanto, prossegue
Navarro:
O que é obrigatório, sim, é reconhecerem os
católicos a legitimidade do culto das sagradas imagens e que elas são dignas de
todo o nosso respeito e veneração.
Devemos, pois, ter a obrigação de reconhecermos
que as imagens são legítimas, já que elas falam, por si só, verdades que
necessitariam de muitas e muitas linhas para serem expressas. Para o homem
iletrado (o qual, segundo muitos protestantes, já está condenado porque não pode
ler a Bíblia), as imagens contam aquilo que ele não é capaz de ler. Ao entrar em
uma Igreja Católica, a pessoa poderá visualizar rapidamente toda a história da
salvação. Contemplará Nosso Senhor crucificado por nossos pecados; fitará cenas
importantes da vida de Cristo e de seus apóstolos, como a gloriosa Ressurreição
e Pentecostes; verá as imagens que representam tantos cristãos que viveram uma
vida virtuosa e de verdadeiro amor a Nosso Senhor, amor este muitas vezes
expresso através do sangue derramado; entre outras cenas. Tudo isso servirá de
inspiração para uma vida mais santa para aquele que contempla as imagens
sacras. Contempla-se a imagem, mas enxerga-se o modelo que ela
representa. Por isso são as imagens dignas de respeito e veneração. Elas não
são dignas de tal respeito por elas mesmas, devido a alguma propriedade mágica
que elas possuam. Elas são dignas deste respeito devido às pessoas e aos
acontecimentos que elas representam. Assim, complementa Lúcio
Navarro:
É o que acontece com as imagens de Nosso Senhor
Jesus Cristo, de Maria SS.ª e dos santos nas nossas igrejas. Sem que ninguém
precise fazer um sermão, elas estão continuamente RELEMBRANDO seus protótipos,
EVOCANDO A RECORDÃÇÃO daqueles que não devemos jamais esquecer, para copiarmos a
santidade de suas vidas (destaques do autor).
Eu particularmente me divirto muito quando vejo
um protestante atacar violentamente as imagens sacras, mas verter lágrimas ao
assistir a filmes que retratam a Paixão de Nosso Senhor. Acaso não seria um
filme também uma imagem? Aliás, um filme é uma sucessão gigantesca de
imagens! Será que alguém quando chora ao assistir, por exemplo, ao filme "A
Paixão de Cristo", chora por causa do rolo do filme, ou por causa daquilo que o
filme está mostrando? E ali no filme não estão representados Jesus, Maria, e os
apóstolos? Da mesma forma fazemos nós católicos há séculos, veneramos o que a
imagem representa e não a imagem pela imagem.Vejam que bela exposição faz Lúcio
Navarro nesta passagem acerca do uso de imagens na Igreja
primitiva:
Já S. Gregório Nazianzeno (do século IV) falava
de ua [sic] mulher pecadora que se converteu ao contemplar a imagem do mártir S.
Polemon (Carmen de vita sua L Iª secção IIª v. 800 segs.) e S. Gregório de Nissa
(também do século IV) declarava que jamais viu o quadro do sacrifício de Isaque,
sem que as lágrimas lhe viessem aos olhos, de modo que Basílio, bispo de Ancira,
presente ao 2ª Concílio de Nicéia, comentava: "Muitas vêzes êste Padre tinha
lido a história e não tinha chorado, mas, quando viu a pintura, chorou". E outro
Padre presente ao mesmo Concílio acrescentava: "Se a pintura produz um tal
efeito em seu mestre, como não será útil aos ignorantes e aos simples!"
Compreende-se, portanto, muito bem, que quando Sereno, bispo de Marselha, temendo que se interpretasse mal o culto das imagens, quis proibi-las, o Papa S. Gregório Magno (do século VI) que foi notável também pela sua grande cultura, o tenha repreendido, dizendo: "Aquilo que para os letrados é a escrita, é a pintura a ser vista pelos rudes, porque nela, mesmo os ignorantes vêem o que devem imitar; nela lêem os que não conhecem as letras" (Epístolas LIX, 105).
Daí muitos
dizerem que as imagens nada mais representam do que a "Bíblia dos pobres". No
mais, devemos convir que é muito mais marcante "ver" uma cena do que apenas
lê-la ou ouvir falar sobre ela. Na verdade, uma coisa complementa a outra e
ambas servem para a solidificação de nossa Fé.
As imagens e a Bíblia
E aquelas passagens na Bíblia que condenam com
veemência o culto das imagens?
Vamos a elas!
(Todos os destaques nas citações bíblicas são
meus)
Primeiro a
mais famosa:
Diz o Senhor em Êxodo 20, 4 – 5a:
Não farás para ti imagem esculpida de nada que
se assemelhe ao que existe lá em cima nos céus, ou embaixo na terra, ou nas
águas que estão debaixo da terra. Não te prostrarás diante
desses deuses e não os servirás, porque eu, o Senhor teu Deus, sou
um Deus ciumento (...)
É
importante termos em mente que, neste contexto, o povo judeu tinha acabado de
sair do Egito, onde a idolatria grassava livremente. Caso se fizesse uma imagem
de qualquer coisa, o prolongado contato cultural entre hebreus e egípcios
poderia fazer com aqueles adotassem as práticas pagãs destes. Por isso a
proibição de Deus naquele momento foi tão resoluta. Obviamente, conforme os anos
iam passando e o povo judeu fosse consolidando a sua fé, esta proibição
tornar-se-ia cada vez mais despropositada.
Observemos, ainda, que neste trecho do livro do Êxodo, Deus
proíbe a manufatura de qualquer tipo de imagem que represente alguma divindade.
Tanto que o próprio Deus adverte: “Não te prostrarás diante
desses deuses”. Assim, o que fica vetado explicitamente é a
fabricação e o culto de imagens que representem divindades inventadas pelos
homens e que roubam a glória do único Deus.
Ora,
qualquer católico, por mais inculto que possa ser, sabe muito bem que as imagens
não representam “deuses”, mas sim cenas da vida do próprio Cristo ou de pessoas
que foram fiéis ao Senhor e que são dignas de nossa mais sincera devoção, mas
não de nossa adoração.
Sabemos
que antes da chegada de Nosso Senhor, praticamente todos os homens da face da
terra haviam se esquecido do Deus verdadeiro e passaram a criar falsos deuses e
a se prostrar diante deles, rendendo-lhes um culto de adoração,
de latria (adoração) que só se deve a Deus. Por isso, tornaram-se tais
homens cegos, surdos e mudos para a verdade revelada.
A este
respeito, a Sagrada Escritura exorta no Salmo 115 (113 B), do verso 3 ao
8:
O nosso
Deus está no céu
e faz tudo
o que deseja.
Os ídolos deles são prata e ouro,
obra de
mãos humanas:
têm boca,
mas não falam;
têm olhos,
mas não vêem;
têm
ouvidos, mas não ouvem;
têm nariz,
mas não cheiram
têm mãos,
mas não tocam;
têm pés,
mas não andam;
não há um
murmúrio em sua garganta.
Os que os
fazem ficam como eles,
todos
aqueles que neles confiam.
Aqui,
novamente, a Bíblia faz menção a ídolos, isto é, a outros deuses. A Bíblia não
está dizendo que não se pode fazer nenhuma imagem de nada.
Diz ainda o profeta Isaias em 44, 9 –
20:
Os fabricantes de ídolos nada são
e suas preciosas obras nada valem; para confusão deles, suas testemunhas não
sabem ver nem compreender. Aquele que quer modelar um deus, funde
uma estátua que não servirá para nada. Seus fiéis ficarão decepcionados e seus
operários são apenas homens. Que todos se congreguem e compareçam. Ficarão
assustados e decepcionados. O ferreiro manipula o formão e trabalha no forno;
talha o ídolo com golpes de martelo; modela-o com mão vigorosa;
mas tem fome, sente-se esgotado, tem sede, está extenuado. O escultor em madeira
estica o cordel, traça o esquema a lápis, desbasta a imagem com o cinzel, mede-a
com o compasso; dá-lhe forma humana, fá-la um belo tipo de homem, para colocá-la
numa casa. Vai cortar madeira, apanha um roble ou um carvalho que tinham deixado
crescer entre as árvores da floresta que o Senhor havia plantado, e que a chuva
havia feito crescer. Depois faz com a madeira um fogo, e leva-o para se aquecer;
queima-a também para cozer o pão; enfim serve-se dela para fabricar um ídolo
diante do qual se prosterna. Queima a metade de sua madeira, sobre a brasa assa
a carne, come esse assado até fartar-se. Então aquece-se e diz: Como é bom
sentir o calor e admirar a chama! Com a sobra faz um deus,
umídolo diante do qual se prostra para adorá-lo e orar
dizendo: Salva-me, tu és meu deus. Falta bom senso e juízo a essa
gente; têm os olhos tão fechados que não vêem, seus corações não podem
compreender. Ninguém reflete nem tem bom senso e inteligência para se dizer:
Queimei metade, cozi pão sobre a brasa, aí assei a carne que comi e iria eu
fazer do resto um ídolo miserável? Prostrar-me-ia diante de um
pedaço de madeira? Este homem se nutre de cinzas, seu coração desabusado o
desencaminha, ele não consegue salvar-se nem dizer: Não será um logro o que
tenho nas mãos?
Novamente,
a Sagrada Escritura condena os ídolos, os deuses falsos que os homens adoravam
antes da chegada de Nosso Senhor.
Mas será
que Deus proíbe a manufatura de qualquer imagem que seja?
Nossos irmãos separados concordam conosco em
pelo menos um ponto: Deus não pode mentir e em Sua Palavra não pode haver
contradição. Então, vamos continuar a ler a Bíblia. Vamos abri-la em Êxodo 25,
17 – 19, assim diz o Senhor:
Farás também um propiciatório de ouro puro, com
dois côvados e meio de comprimento e um côvado e meio de largura. Farás
dois querubins de ouro, de ouro batido os farás, nas duas extremidades do
propiciatório; faze-me um dos querubins numa extremidade e o outro na outra:
farás os querubins formando um só corpo com o propiciatório, nas duas
extremidades.
Mas, o que
é isso? O mesmo Deus que no capítulo 20 do mesmo livro do Êxodo tinha proibido
que se fizessem imagens, agora exige que se construam dois querubins para serem
colocados sobre a Arca da Aliança! Será que poderíamos chamar os judeus de
idólatras caso se prostrassem diante dos querubins? É evidente que não. Neste
caso, os judeus não estariam adorando os anjos, mas sim rendendo glória ao
Senhor através da imagem daqueles anjos.
Continuemos com a Bíblia, agora em 1 Reis 6, 23
– 29:
Fez no santuário dois querubins de pau de
oliveira, que tinham dez côvados de altura. Cada uma das asas dos querubins
tinha cinco côvados, o que fazia dez côvados da extremidade de uma asa à
extremidade da outra. O segundo querubim tinha também dez côvados; os dois
tinham a mesma forma e as mesmas dimensões. Um e outro tinham dez côvados de
altura. Salomão pô-los no fundo do templo, no santuário. Tinham as
asas estendidas, de sorte que uma asa do primeiro tocava uma das paredes e uma
asa do segundo tocava a outra parede, enquanto as outras duas asas se
encontravam no meio do santuário. Revestiu também de ouro os
querubins. Mandou esculpir em relevo em todas as paredes da casa,
ao redor, no santuário como no templo, querubins, palmas e flores
abertas.
No trecho
acima, que descreve algumas características do Templo de Salomão, vemos o
próprio Salomão fazer duas imagens enormes de dois querubins e ainda por cima
colocá-las no santuário do templo e as cobrir de ouro! Seria isso um indício de
idolatria aos anjos? É óbvio que não! O próprio Deus se encarregou de determinar
como deveria ser o seu templo, e Ele não faria absolutamente nada para induzir
as pessoas ao erro. Contudo, através da imagem dos anjos, às quais se devia a
mais profunda veneração, dava-se glória a Deus e proclamava-se a Sua
majestade.
Ainda ao descrever o templo, o primeiro livro
dos Reis em 7, 23 – 51 nos informa que:
Hirão fez também o mar de bronze, que tinha dez
côvados de uma borda à outra, perfeitamente redondo, e com altura de cinco
côvados; sua circunferência media-se com um fio de trinta côvados. Por baixo de
sua borda havia coloquíntidas em número de dez por côvado; elas rodeavam o mar,
dispostas em duas ordens, formando com o mar uma só peça. Este apoiava-se
sobre doze bois, dos quais três olhavam para o norte, três para o
ocidente, três para o sul e três para o oriente. O mar repousava sobre eles, e
suas ancas estavam para o lado de dentro. A espessura do mar era de um palmo;
sua borda assemelhava-se à de um copo em forma de lírio; sua capacidade era de
dois mil batos. Fez também duas bases de bronze, tendo cada uma quatro côvados
de comprimento, quatro de largura e três de altura. Eis como eram feitas essas
bases: eram formadas de painéis e enquadradas de molduras. Nos painéis
enquadrados de molduras, havia leões, bois e querubins, assim como
nas travessas igualmente. Por cima e por baixo dos leões e dos bois pendiam
grinaldas em forma de festões. Cada base tinha quatro rodas de bronze, com seus
eixos de bronze, e nos quatro cantos havia suportes fundidos que sustinham a
bacia, os quais estavam por baixo das grinaldas. A abertura para a bacia era no
interior dos suportes, e os ultrapassava de um côvado de altura; era cilíndrica
e seu diâmetro era de um côvado e meio; e era também ornada de
esculturas. Os painéis eram quadrados e não redondos. Debaixo destes
estavam as quatro rodas, cujos eixos eram fixados à base. Cada roda tinha um
côvado e meio de altura, e era feita como as de um carro. Eixos, cambas, raios e
cubos, tudo era fundido. Nos quatro ângulos de cada base encontravam-se quatro
suportes que faziam parte da mesma base. A parte superior da base era de forma
circular, tendo meio côvado de altura; seus esteios formavam com os painéis uma
só peça. Nas placas dos seus esteios e dos painéis assim como no espaço livre
entre estas, esculpiu querubins, leões, palmas e grinaldas
circulares. Desse modo fez as dez bases, todas do mesmo molde, da mesma
dimensão e modelo. Fez também dez bacias de bronze, contendo cada uma quarenta
batos. Cada uma tinha quatro côvados e repousava sobre um dos dez pedestais. Pôs
cinco pedestais do lado direito do templo e cinco do lado esquerdo. O mar foi
colocado do lado direito do edifício, para o sudoeste. Hirão fez também
caldeirões, pás e bacias. Hirão concluiu, pois, toda a obra que o rei
Salomão lhe mandara fazer para o templo do Senhor: duas colunas, dois
capitéis esféricos para o alto das colunas, duas redes para cobrir os capitéis
esféricos que estão sobre as colunas; quatrocentas romãs para as redes, duas
fileiras de romãs para cada rede, para cobrir os dois capitéis esféricos que
estão no alto das colunas; dez pedestais e dez bacias sobre os pedestais; o mar,
único, com os doze bois por baixo do mar; os caldeirões, pás e
bacias. Todos esses objetos que Hirão fez por ordem do rei Salomão para o
templo do Senhor, eram de bronze polido. O rei mandou-os fundir na
planície do Jordão, numa terra argilosa, entre Socot e Sartã. Era tão
grande o número desses objetos, que Salomão não pesou o bronze. Salomão
mandou ainda fabricar todos os utensílios que estariam no templo do Senhor: o
altar de ouro, a mesa de ouro sobre a qual se colocavam os pães de proposição;
os candelabros de ouro fino, cinco à direita e cinco à esquerda, diante do
santuário, com as flores, as lâmpadas e as espevitadeiras de ouro, os copos, as
facas, as bacias, as colheres e os cinzeiros de ouro fino, e os gonzos de ouro
para os batentes da porta do santuário, o Santo dos Santos, e da porta do
templo, o Santo. Assim foram concluídos todos os trabalhos empreendidos pelo rei
Salomão para o templo do Senhor. E Salomão mandou então que se trouxesse tudo o
que Davi, seu pai, tinha consagrado: a prata, o ouro e os utensílios, e
colocou-os nas reservas do templo do Senhor.
Vejam que maravilha que não devia ser o Templo de Salomão dedicado ao Senhor! Tudo ali falava de Deus e proclamava a Sua glória! Daí o belo uso que se fazia das imagens, as quais eram tão veneradas a ponto de entrarem na constituição do Templo. Vejam, elas não eram veneradas por elas mesmas ou porque representavam algum deus estranho, mas devido ao fato de que todas elas, de uma forma ou de outra, apontavam para a grandeza infinita do Senhor.
Outra passagem bíblica sobre as imagens podemos
encontrar em Números 21, 4 – 9:
Partiram do monte Hor na direção do mar
Vermelho, para contornar a terra de Edom. Mas o povo perdeu a coragem no
caminho, e começou a murmurar contra Deus e contra Moisés: “Por que, diziam
eles, nos tirastes do Egito, para morrermos no deserto onde não há pão nem água?
Estamos enfastiados deste miserável alimento.” Então o Senhor enviou contra o
povo serpentes ardentes, que morderam e mataram muitos. O povo veio a Moisés e
disse-lhe: “Pecamos, murmurando contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que
afaste de nós essas serpentes.” Moisés intercedeu pelo povo, e o Senhor
disse a Moisés: “Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo
o que for mordido, olhando para ela, será salvo.” Moisés fez, pois, uma serpente
de bronze, e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e
olhava para a serpente de bronze, conservava a vida.
O mesmo
Deus que havia impugnado a fabricação de imagens, agora manda fazer a imagem de
uma serpente! E ainda tem mais! Para que se fosse curado das mordidas viperinas,
fazia-se mister olhar para a imagem da serpente! É claro que também neste caso,
como em todos os outros encontrados na Bíblia, não se trata da imagem de um
“deus”, mas sim de uma imagem que nos remete imediatamente ao Criador. Este tipo
de imagem é permitida por Deus.
D. Estevão Bettencourt, em seu livro “Católicos
Perguntam”, bem lembra, na página 8, que os próprios judeus não se furtaram a
fabricação de imagens, dado que bem compreenderam que a proibição do Senhor
estava relacionada à idolatria, ao culto de falsos deuses, e não às imagens em
geral. Comenta D. Estevão:
Vide o caso, por exemplo, da famosa sinagoga de Dura-Êuropos, na Babilônia, na qual estavam representados Moisés diante da sarça ardente, o sacrifício de Abraão, a saída do Egito e a visão de Ezequiel.
Aqui está uma imagem das paredes do interior da sinagoga citada por D. Estevão:
Paredes da Sinagoga de Dura-Êuropos repletas de imagens com
temas bíblicos
Se por
acaso houvesse uma proibição generalizada de se fazer qualquer tipo imagem,
seríamos impedidos de fazer qualquer coisa. Vejamos: todos temos imaginação,
correto? Percebam que as quatro primeiras letras da palavra imaginação
são imag. Ou seja, esta palavra está estreitamente atrelada ao
vocábulo imagem. Na verdade, as ações humanas pautam-se em
imaginação, em idéias. O carpinteiro forma em sua mente a imagem da
cadeira. A seguir, partindo daquela imagem que carrega em sua imaginação, ele
constrói a cadeira de acordo com a imagem da cadeira que possuía em sua mente.
Deste modo, se Deus proibisse qualquer tipo de imagem, deveria proibir também
que usássemos nossa imaginação, que é uma grande geradora de imagens. Mas isso é
absurdo! Pois foi o próprio Deus quem nos deu a capacidade intelectiva.
Vemos,
pois, o quanto é disparatado alegar que Deus proíbe o uso de todas as
imagens.
Caso assim
fosse, a proibição de imagens deveria estender-se não apenas à estatuária, mas
também à fotografia, à pintura, ao desenho e ao cinema, pois estes nada mais são
do que imagens sob modalidades distintas. Percebemos, pois, que muitos de nossos
irmãos separados iniciariam uma grande guerra contra todos os artistas do mundo
e de todos os tempos, em especial, claro, contra aqueles que trabalham com a
Arte Sacra.
Mas o
que é idolatria, afinal?
Tenhamos,
pois, em mente uma clara distinção teológica (e não uma baseada em
dicionários escolares) entre idolatria e veneração.
Idolatria: Culto de latria devido apenas a
Deus.
Veneração: Culto de doulia que devemos a tudo o
que é sagrado, a tudo que nos remete a Deus. Poderíamos dizer que se trata de um
profundo respeito a tudo que contribui para a nossa salvação.
Para negar
esta distinção, os protestantes fazem as observações mais esdrúxulas. Afirmam
eles: “Na prática não é o que acontece. Quando um católico está fazendo suas
‘rezas’ para um santo, ele não sabe a distinção
entre doulia e latria. Logo, esta distinção é artificial e faz com
que muitos prestem um culto idolátrico (conscientemente ou não) a uma certa
imagem disfarçado de um culto de veneração”. Portanto, para alguns protestantes,
se alguém está fazendo mal uso de algo, este algo deve ser sumariamente
extirpado.
Vejamos
que, com este raciocínio, eles põem em xeque a credibilidade da própria Bíblia.
A Bíblia tem sido alvo de terríveis interpretações distorcidas que tem causado
uma série de conflitos e divisões. Logo, a Bíblia não é algo bom, assim, que se
arranquem as Bíblias dos cristãos e do mundo! E não me venha mostrar diferenças
entre esta ou aquela maneira de se fazer exegese bíblica, no final ninguém vai
saber a diferença mesmo e a Bíblia continuará causando confusão. Estas
distinções seriam, pois, artificiais.
Fica,
pois, evidente o quão contraditório torna-se o raciocínio protestante. E se
outrora o feitiço virava-se contra o feiticeiro, agora o protestantismo volta-se
contra o protestante.
Contudo, o que a própria Igreja nos ensina
acerca da idolatria? Leiamos os parágrafos 2112 - 2114 do Catecismo da Igreja
Católica (todos os sublinhados e negritos são meus):
O primeiro mandamento condena
o politeísmo. Exige que o homem não acredite em outros deuses afora
Deus, que não adore outras divindades afora a única. A escritura
lembra constantemente esta rejeição de “ídolos, ouro e prata, obras das mãos dos
homens”, os quais “têm boca e não falam, têm olhos e não vêem...”. Esses ídolos
vão tornar as pessoas vãs: “Como eles serão os que o fabricaram e quem quer que
ponha neles a sua fé” (Sl 115, 4 - 5.8). Deus, pelo contrário, é o “Deus vivo”
(Jo 3, 10) que faz viver e intervém na história.
A idolatria não diz respeito somente aos
falsos cultos do paganismo. Ela é uma tentação constante da fé. Consiste em
divinizar o que não é Deus. Existe idolatria quando o homem presta honra
e veneração a uma criatura em lugar de Deus, quer se trate de deuses ou de
demônios (por exemplo, o satanismo), do poder, do prazer, da raça, dos
antepassados, do Estado, do dinheiro etc. “Não podeis servir ao Deus e ao
dinheiro”, diz Jesus (Mt 6, 24). Numerosos mártires morreram por não adorar “a
Besta”, recusando-se até a simular seu culto. A idolatria nega o senhorio
exclusivo de Deus; é, portanto, incompatível com a comunhão
divina.
A vida humana unifica-se na adoração ao Único.
O mandamento de adorar o único Senhor simplifica o homem e o livra de uma
dispersão infinita. A idolatria é uma perversão do sentimento religiosos
inato do homem. O idólatra é aquele que “refere a qualquer coisa que não
seja Deus a sua indestrutível noção de Deus”.
Portanto,
existem várias modalidades de idolatria. Não se necessita de uma imagem para se
tornar um idólatra. Muitos têm como seus deuses e salvadores coisas como o
dinheiro, o sexo, a família, o emprego, os estudos e outros. Para se tornar um
idólatra, basta colocar qualquer coisa no lugar de Deus. Pasmem vocês, meus
caros, muitos hoje idolatram nada mais nada menos que a Bíblia! Colocaram um
livro no lugar de Deus e acham que a salvação só é possível através da
Bíblia.
Logo, pelo
simples fato de que muitos fazem mal uso da Bíblia, devemos tirá-la de nosso
meio? É certo que isso não faz sentido. O abuso não tolhe o
uso.
As imagens entre
protestantes
Dado que o
lema “a união faz a força” não se aplica aos protestantes, cabe lembrar que
felizmente alguns ramos do protestantismo, como o luteranismo e o anglicanismo,
compreendem o uso salutar das imagens sacras e as utilizam em suas igrejas e
rituais. E vejam vocês que estamos falando dos ramos mais tradicionais do
protestantismo...
Recomendamos o seguinte artigo: Martinho Lutero sobre os crucifixos, imagens de Santos e o sinal da cruz
Recomendamos o seguinte artigo: Martinho Lutero sobre os crucifixos, imagens de Santos e o sinal da cruz
É possível encontrar imagens feitas pelas mais diversas denominações: batistas, congregacionalistas, adventistas, quadrangulares, etc. Vemos que também neste aspecto os protestantes não se entendem...
As imagens nas catacumbas dos cristãos
primitivos
A imagem
que abre este post é uma representação da Virgem Maria e do Menino Jesus
e estampa uma das catacumbas onde os cristãos primitivos se escondiam para fugir
das autoridades romanas. Vemos que desde o princípio a Igreja tem profunda
veneração pelas passagens bíblicas e por aqueles que tanto amaram a Nosso
Senhor.
Vejamos
como, desde o princípio, os cristãos ornamentavam seus lugares de culto com
imagens de santos e/ou de temas bíblicos. As imagens possuem indiscutíveis
valores pedagógicos e estéticos para a casa do Senhor.
Seguem-se
algumas imagens que se encontram nas catacumbas dos cristãos primitivos:
Interior da
Catacuma de São Marcelino e Pedro
Representação da Eucaristia na Catacumba de São
Calixto
São Paulo
Nossa
Senhora e o Menino Jesus
Bom
Pastor
Batismo
Epifania do
Senhor
Para quem
quiser saber mais acerca das práticas cristãs nas catacumbas, basta
acessar:
O
dever cívico, a família e as imagens e símbolos
Devemos
ter em mente que a vida do homem, de todas as épocas, sempre esteve (e continua
a estar) permeada de símbolos e de imagens que o remetem a valores, a momentos e
a personagens que transcendem à própria imagem ou símbolo: eles remetem, por
exemplo, diretamente à pátria ou à família de um indivíduo.
A bandeira
de um país, no fundo, é só um pedaço de pano colorido. Mas o valor da bandeira
não se encontra nela mesma, mas naquilo que ela representa e naquilo que ela
evoca: é uma imagem de nossa pátria. Ainda me lembro que na escola
tínhamos que cantar o Hino Nacional com a mão no coração e olhando para a
bandeira, tudo em um clima de mais profundo respeito. Quer uma dica para ficar
impopular? Tente rasgar uma bandeira do Brasil durante um desfile de Sete de
Setembro sob a alegação: “Gente isso aqui não é o Brasil nada! É só um pedaço de
pano! Parem de prestar homenagem a isto!”...(caso não dê certo, cogite fazer a
mesma coisa em um quartel bem no Dia da Bandeira!).
Ao andar
pelas cidades de nosso país, sempre nos deparamos com estátuas e bustos de
personagens da nossa história ou da história local. E por qual motivo estas
imagens estão lá? Porque aquelas pessoas deram uma grande contribuição ao país
ou a uma determinada região. Daí elas receberem uma imagem em sua homenagem; daí
elas serem dignas de uma espécie de veneração cívica.
Creio ser
quase impossível encontrar uma família que não possua um álbum de família, ou
pelo menos algumas fotos de momentos especiais que são guardadas com todo o
carinho. Às vezes, quando sentimos saudades das pessoas ali representadas,
choramos ao ver a foto e até mesmo “conversamos” com a foto. Imagine alguém
chegando perto de você e, arrancando a foto de sua mão, dizer: “Isto aqui não é
o seu familiar coisa nenhuma! É só um pedaço de papel!”. Duvido que você ficasse
feliz com uma atitude dessas. Porém, todos sabemos que o valor da foto não está
na foto em si, mas no que ela representa para nós.
E se
devemos ter veneração pelos símbolos e imagens que fazem referência à pátria e à
família, que são coisas passageiras, quanto mais não deveríamos zelar pelos
símbolos e imagens que nos remetem à nossa fé, que é eterna e da qual depende a
nossa salvação! Por isso que, como católicos, temos que zelar pelos objetos que
fazem alusão ao que cremos, pois todos eles falam de Deus. Aliás, os símbolos e
as imagens não são nenhuma novidade para o cristão, sempre os cultivamos desde
os primórdios (ex: a cruz, símbolo da salvação; o peixe, símbolo de Cristo; a
estrela de Belém etc.).
Quando
olhar para uma imagem, veja que a pessoa ali representada apenas foi capaz de
viver em santidade devido à graça de Deus. A pessoa nada mais fez do que
devolver para Deus dons que o próprio Deus lhe tinha concedido. Logo, aquela
pessoa representada naquela imagem não apenas falou de Deus, mas viveu em Deus.
Ela fez de sua vida uma oferta para Nosso Senhor. Ela falava de Deus com sua
vida (e não apenas com a boca) enquanto peregrinava neste mundo; agora, na
glória eterna prometida aos que amam a Deus, é a sua imagem que vemos, e,
através desta, devemos nos lembrar que aquela imagem representa alguém que
viveu, a partir de algum momento de sua vida, intensamente para Deus. Por isso,
sua vida deve nos servir de modelo. De qualquer forma, nosso pensamento, ao
olharmos para uma determinada imagem sacra, se converge invariavelmente para o
Criador.
Conclusão
Encerro
este artigo com uma singela sugestão. Quando alguém vier importunar você acerca
das imagens, simplesmente diga: “Prezado, observe atentamente esta imagem,
estude sobre a vida da pessoa que aí está representada e, assim como eu, com a
graça que vem de Deus, procure imitá-la. Tenho certeza que deste modo você
acumulará cada vez mais tesouros diante do Senhor”.
Pax Domini Sit Semper Vobiscum
Autor do texto: William Bottazzini
Disponível em: Servos
de Maria
Nenhum comentário:
Postar um comentário