Há duas formas possíveis de representação dos reis magos na iconografia: a
histórica e a alegórica. A forma histórica foca o episódio comemorado: o relato
dos Santos Evangelhos da adoração de Nosso Senhor Jesus Cristo pelos magos do
Oriente. A representação alegórica, por outro lado, foca no significado da festa
e do episódio comemorado: a manifestação de Cristo ao mundo e seu reconhecimento
pelos povos pagãos, representados na figura dos magos.[1]
A representação
mais utilizada nos primeiros séculos da Igreja e durante a antiguidade tardia
foi a histórica. Os magos eram representados vestidos em trajes persas[2]
reverenciando o Menino Jesus, etronizado ou sentado no colo da Virgem. É assim
que o vemos representados nos túmulos dos primeiros cristãos e nos mosaicos das
basílicas.
A representação alegórica surge a partir da Alta Idade Média[3].
Nesse período, os três magos passam a representar os diversos povos, decendentes
dos três filhos de Noé. Também passam a ser representados em vestes régias
(algumas vezes eram representados como reis contemporâneos ao artista, vide a
Imagem 07 em que o rei Carlos VII da França é representado como um dos magos),
simbolizando a homenagem de todos os reis da terra ao Rei dos Reis. No
Renascimento essa representação alegórica fica mais significativa, pois cada um
dos magos é representado como uma raça ou etnia (e algumas vezes, reprsentam
também as três idades do homem): um representando os europeus, outro os
africanos e outro os povos do Oriente Médio. Há inclusive uma curiosa pintura de
cerca de 1500 (cuja autoria é geralmente atribuída ao português Vasco Fernandes
ou Grão Vasco, vide Imagem 09) em que um dos magos é representado como um índio
Tupi, o que mostra o desejo dos cristãos daquele tempo de incluir os povos do
Novo Mundo no rebanho dos fiéis de Cristo.
É importante que conheçamos esses pormenores das representações
iconográficas das cenas do Evangelho e das festas litúrgicas para podermos
penetrar melhor em seus significados. Mais do que uma ocasional visita de
importantes pessoas do Oriente, a adoração dos Magos é um sinal de que Cristo
veio para salvar a todas as nações. Por isso que enviou o sinal aos pagãos do
Oriente para que pudessem vir a conhecê-Lo e prestar-Lhe
homenagem.
Notas:
[1] Para histórico e significado da festa da
Epifania, consulte: MARTYNDALE, Cyril. Verbete "Epifanía". In:
Enciclopédia Católica. Disponível em: http://es.aciprensa.com/e/epifania.htm
[2]
Os magos eram provavelmente sacerdotes e astrólogos Medos (os medos eram um povo da pérsia). De fato, era isso que a palavra grega magoi geralmente designava. A favor desta tese estão os testemunhos da primitiva iconografia cristã que sempre os representou trajados aos moldes sacerdotais persas.
Tertuliano no século III disse que os magos seriam de estirpe régia, o que é
possível dado que os magos integraram algumas dinastias persas e durante a
dinastia dos Partos exerceram funções de conselheiros reais. Não se sabe ao
certo quantos eram, mas a tradição posterior acabou fixando o número três,
baseando-se no fato de terem sido três os presentes oferecidos a Cristo. É
provável que tenham vigiado com grande comitiva, haja vista serem pessoas de
prestígio e estarem fazendo uma viagem de longo percurso. Para mais informações
sobre os Magos, vide: DRUM, Walter. Verbete "Reyes Magos". In:
Enciclopedia Católica. Disponível em:
http://ec.aciprensa.com/m/magos.htm
[3]
Provavelmente essa nova forma de representação tenha sido fortemente
influenciada pelo alegorismo litúrgico, surgido a partir da Alta Idade Média. De
fato, a Liturgia da Igreja aplica para a solenidade da Epifania as palavras do
Profeta Isaías Omnes de Saba venient aurum et thus deferentes et laudem
Domino annuntiantes (Is 60, 6) para o Gradual e o verso do Salmista
Reges Tharsis et insulae munera offerent reges Arabum et Saba dona adducent
et adorabunt eum omnes reges terrae omnes gentes servient ei (Sl 71, 10-11)
para o Ofertório da Missa. Para maiores informações sobre o alegorismo litúrgico
vide: JUNGMANN, Josef Andreas, SJ. Missarum Solemnia - Origens,
liturgia, história e teologia da Missa Romana. São Paulo: Paulus, 2009.
pp. 102-108; RIGHETTI, Mario, OSB. Historia de la Liturgia.
Vol. I. Madrid: Biblioteca de Auctores Cristianos, 1955. pp. 55-58.
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