sábado, 1 de agosto de 2015

Carta de um missionário que se prepara para morrer



Em 1995, fui enviado como missionário pela Igreja, por meio dos Padres de São Columbano, às Filipinas. Não sei exatamente como fui escolhido pela Igreja para ser missionário e, como tal, enviado a evangelizar os filipinos, mas sempre tive a mais firme convicção de que sê-lo foi o principal fio do tecido da minha vida como sacerdotee como homem.
 
Há 7 anos, diagnosticaram-me câncer de cólon. Este câncer é bastante aterrador, tanto que até me perguntei se a minha vida como missionário havia chegado ao seu fim, mas, depois de uma cirurgia e quimioterapia, fiquei livre para voltar ao meu trabalho, tanto de evangelizar como de ser evangelizado pelos filipinos, já que isso era o que estava acontecendo.
 
No entanto, depois de um ano, surgiu um novo câncer nos pulmões, e fiz mais 5 anos de quimioterapia, durante os quais tive a oportunidade de continuar como um missionário muito feliz e produtivo. Foi assim até julho de 2002, quando tive de voltar a Omaha para fazer radioterapia e uma nova quimioterapia.
 
Enquanto isso, cumpri 75 anos de vida, mas a quimioterapia minou minhas forças, e os filipinos me perguntavam, pelo telefone e por carta, quando é que eu "voltaria para casa". Meu corpo e meu médico me disseram que não seria tão cedo. Mas eu achava que, de fato, voltaria. Afinal de contas, eu era um missionário e minha vocação era para a vida inteira. Como sacerdote e como homem, eu não conhecia outra vida nem queria nenhuma outra.
 
Então, meu último tratamento com quimioterapia não surtiu efeito, e o câncer estava crescendo novamente. Não estou particularmente assustado com esta notícia, mas me entristece. Continuo sendo um missionário quando já não posso estar com aqueles com quem passei a vida inteira?
 
Agora, posso dedicar mais tempo à oração e à meditação da Palavra de Deus, mas não sei se rezo melhor do que antes. Tenho mais tempo para recordar com grande alegria as centenas de pessoas que me chamaram de "padre", "pai". Seu amor me sustentou durante tanto tempo!
 
Sempre considerei que um sacerdote precisa ser um homem de oração para ser digno de qualquer coisa, e um sacerdote missionário, mais ainda que os outros.
 
Ainda que minha oração seja pobre, percebi que, por enquanto, é a única maneira que tenho de ser missionário, e me comprometo a continuar fazendo isso enquanto tiver forças.
 
Talvez eu possa aplicar a mim mesmo o que preguei a tantos idosos e outros doentes: que estes momentos podem ser mais produtivos que qualquer outro momento de uma longa carreira missionária.
 
(O Pe. Jim McCaslim faleceu no dia 16 de setembro daquele ano)

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