sábado, 29 de março de 2014

São Damião Molokai

                

Trata-se, agora, de cada um por si construir

uma capela no próprio coração,

onde Nosso Senhor possa permanecer.


Início

Na Bíblia há um testemunho dramático do medo que as pessoas tinham dos leprosos: “Quem for declarado leproso deverá andar com as roupas rasgadas e despenteado, com a barba coberta e gritando: “Impuro! Impuro! Ficará impuro enquanto durar sua doença. Viverá separado e morará fora do acampamento(Levídico 13, 4546).

Em 1863, Damião zarpou do porto de Bremerhaven para dirigir-se ao Havaí. Tinha vinte e três anos e ainda não era sacerdote. Era forte, corajoso e cheio de alegria de viver. Enfrentou o oceano Atlântico e o oceano Pacífico para ir cuidar dos leprosos na ilha de Molokai.(p.5).

Josef de Veus-Wouters nasceu em Tremeloo, uma cidadezinha ao norte de Bruxelas, na Bélgica, em 1840. Fazia apenas dez anos que a Bélgica se tornara um reino independente…Josef nasceu no território que tinha pertencido aos Países Baixos, portanto de língua flamenga.(p.5)

Josef, que todos chamavam carinhosamente de Jef, era sadio, forte e sempre alegre. Tinha duas irmãs, Aléssia e Paulina, e um irmão alguns anos mais velho que ele. Quando Jef completou doze anos, o irmão Augusto entrou para a Ordem Religiosa dos Padres do Sagrado Coração.(p.5).

…Com freqüência ia até uma construtora e ajudava os pedreiros no canteiro de obras. Transportava nos ombros baldes de argamassa.(p.5)

Em 1858, com dezoito anos voltou para a região de língua flamenga e entrou também para a Ordem dos Padres do Sagrado Coração, recebendo o nome de Damião.(p.8)

Os superiores mandaram Damião estudar na célebre universidade católica de Lovaina, uma cidade belga de língua flamenga.

Fato marcante

Quando completou vinte e um anos, aconteceu um fato que mudou a sua vida. Um bispo do Havaí, de passagem por Paris, fez uma palestra aos estudantes do colégio: falou dos problemas daquelas ilhas perdidas no oceano Pacífico, falou sobretudo dos doentes de lepra, confinados numa ilha chamada Molokai.(p.10).

Pedido para ir ao Havaí

Damião..escreveu uma carta comovente ao superior geral da Ordem do Sagrado Coração, pedindo para ir ao Havaí mesmo antes de ser ordenado sacerdote. O superior geral, inspirado por Deus, concedeu-lhe a permissão. Assim, em novembro de 1863, Damião, junto com outros cinco religiosos e dez irmãs..para o Havaí.(p.11).

Havaí

Em 1865, o governo local, para evitar a disseminação da lepra, decidiu isolar os doentes na ilha de Molokai.(p.12).

Missão

Damião foi designado para a missão de Puno, no sul da ilha. No mês de maio do mesmo ano, foi ordenado sacerdote…Por nove anos padre Damião ficou na ilha Havaí, onde aprendeu a língua o kanako. Em 1873 o bispo da ilha de Maui, dom Maigret, pediu aos missionários do Havaí voluntários para cuidar dos leprosos confinados em Molokai. Damião, junto com outros três sacerdotes, apresentou-se ao bispo. Ele, comovido, por tanta generosidade, disse: – Vocês vão se revezar em turnos, um por vez.l Não posso permitir que os quatro fiquem naquele inferno. O primeiro será você, padre Damião. No dia 11 de maio de 1873, Damião, junto com cinqüenta leprosos, chegou a Kalaupapa. Começava o desafio entre Damião, que tinha trinta e três anos;(p.13).

Aproximou-se também uma mulher com um menino nos braços. Tinha os lábios consumidos pela lepra…disse…Aloha! Bem-vindo, padre. Quanto tempo vai ficar conosco?

Damião olhou para o menino já coberto de manchas amarelas. Depois disse à mulher: -Ficarei com vocês para sempre.(p.14).

Realidade difícil em Molokai

Damião entrou numa cabana da aldeia que parecia mais cuidada do que as outras. Morava lá o leprosos que na tarde anterior, no cais, tinha posto no pescoço de Damião o colar de flores. Damião perguntou-lhe em kanako? –Como se chama?….Eu sou Iolani…O hospital era uma cabana um pouco maior que as outras. Amontoados em cima de esteiras e folhas de palmeira, estavam deitados leprosos na fase terminal da doença…..Mas como é possível tudo isto?

Iolani disse: -Padre, você está no inferno. Vá embora enquanto é tempo.(p.17).

Damião fez enterro de vários mortos(obras de misericórdia)

Nos primeiros seis anos de permanência em Kalaupapa, Damião construiria mil e seiscentos caixões e cavaria outraqs tantas covas para dar uma sepultura digna aos mortos.(p.22).

Divulgação da situação de Molokai

No outono de 1873, Damião foi até Honolulu…dirigiu-se à redação de um jornal local e descreveu a situação dramática de Kalawao….Do Havaí as notícias do inferno de Kalaupapa sacudiram o mundo todo. Começou a chegar a Honolulu ajuda humanitária. 

Milagre Vivo

Damião..numa carta ao bispo Maigret, escreveu: “Vivi muito tempo debaixo de uma árvore. Mais tarde os brancos de Honolulu ajudaram-me e pude construir uma cabana de onde estou escrevendo estas linhas. Estou aqui há seis meses, rodeado de leprosos. Ainda não contraí a doença. (p.23).

Rotina do sacerdócio em Molokai

Damião construiu uma igrejinha de alvenaria, com torre e sino. A igrejinha estava sempre limpa e o altar sempre enfeitado com flores frescas. Toda manhã Damião celebrava a missa, depois começava sua caminhada de uma para outra cabana da aldeia. Cuidava dos doentes, confessava-os, dava-lhes a Unção dos Enfermos….Todas as semanas Damião ia até o cais para receber os doentes que desembarcavam. Um dia desceu do bareco um homem branco. Damião foi-lhe ao encontro e apertou-lhe a mão: – Sou Damião de Molokai, o padre daqui. – Quem não conhece o apóstolo dos leprosos?-disse sorrindo o homem branco. – Em todo o mundo, hoje, fala-se de você. Eu sou Williamson, médico. Cuidei de leprosos. No entanto, também contraí a doença. Mas ainda tenho forças. Vim dar-lhe uma mão, se quiser.(p.23-24).

O último domingo de Janeiro é o Dia mundial dos doentes de lepra. O pensamento dirige-se espontaneamente ao Padre Damião de Veuster, que deu a vida por estes irmãos e irmãs, e que no passado mês de Outubro proclamei santo. À sua celeste protecção confio todas as pessoas que infelizmente ainda hoje sofrem devido a esta doença, assim como os agentes de saúde e os voluntários que se prodigalizam para que possa existir um mundo sem a lepra. Saúdo em particular a Associação italiana “Amigos de Raoul Follereau”.

O doutor Williamson revelou-se uma ajuda muito valiosa para Damião. O médico tomava conta dos doentes mais graves, enquanto Damião cuidava de todos os outros. Em 1883, Desde que Damião pusera os pés na penísula de kalaupapa, já se tinham passado dez anos. Ele tinha então quarenta e três anos….uma noite…descobriu nos ombros algumas pequenas manchas amarelas….pôs-se de joelhos e disse: “Aloha! Bem-vinda, irmã lepra! Agora posso dizer que sou verdadeiramente o irmão dos leprosos. Damião não contou nada a ninguém.(p.26).

Damião continuava a trabalhar com a mesma energia dos seus primeiros dias em Molokai. Jogava com as crianças e brincava com os velhos.(p.28).

No dia 15 de abril de 1889, aos quarenta e nove anos, depois de dezesseis passados em Molokai, Damião morria, como uma criança muito cansada, dominada pelo sono.
Biografia pelo Vaticano

PAPA BENTO XVI

ANGELUS

Praça de São Pedro

Domingo, 31 de Janeiro de 2010

Hoje, em Molokai, não há mais leprosos. A ilha é meta cobiçada de turismo. Diante do parlamento de Honolulu há uma estátua cinza, que representa Damião….A grande estátua está sempre coberta de colares e flores frescas. São o símbolo da alegria e do amor. O símbolo da vitória de Damião sobre a lepra.(p.31).

Fonte: Damião de Molokai. Giuseppino de Roma. Editora Paulinas. 2001.
Biografia por Enzo Santangelo

Aos 19 anos de idade 

Lembra padre Damião que, com 19 anos de idade, foi acolhido na Congregação como irmão leigo. Mas ele queria ser padre. Rezou, rezou bastante. Rezou até esfolar os joelhos, diante do quadro de Francisco Xavier. Rezou para ser missionário. E foi atendido. (p.31)

Um jovem missionário

A âncora é jogada com uns gritos dos marinheiros, ruidosamente cai na água, levantando jatos de água, até atingir os tripulantes e molhando os passageiros que estão olhando curiosos as manobras de ancoragem.

-Somente o nome desta ilha provoca-me calafrios – fala preocupada a senhora de antes, bem-vestida, com chapéu, luvas, enquanto abre uma sobrinha colorida, na direção de um passageiro.

-Desde muito…faço esta rota e nuca vi ninguém desembarcar aqui em Molokai…Talvez, alguém queira descer agora. Tudo pode ser, não acha?

-Quem é aquele louco – pergunta aflita e curiosa, ao mesmo tempo, a senhora da sombrinha – que vai querer entrar naquela podridão?

Eu, Damião de Vauster! E assim dizendo aparece um rosto sorrindo…

É um jovem, missionário, que pertence à Congregação dos Sagrados Corações. Veste uma batina branca, uma faixa aperta-lhe os rins e no peito estão desenhados, em vermelho, dois corações.

-Um frei? Pois é! Somente um frei pode fazer isso.

-É verdade! O senhor tem razão – responde sorrindo o padre Damião – somente um frei…

-Leproso? É claro, com certeza – fala um senhor de compridos bigodes às pessoas curiosas que estão olhando para o padre – é leproso!

-Não – responde, sacudindo a cabeça, o padre Damião – Ainda não sou leproso!

Então – pergunta admirada a senhora da sombrinha – por que o senhor vai para lá?

Pois é – responde-lhe sorrindo o padre, apontando para a ilha de Molokai -, vou porque lá vivem eles, os meus irmãos.

-Boa viagem para todos! – despede-se o padre com a mesma euforia de sempre.

-Boa sorte, para o senhor também – respondem em coro os passageiros, visivelmente emocionados…Atrás dele segue o capitão que, quase com pena pergunta:

-É obrigado a fazer isso padre?

-Sim! – responde o padre, olhando para o mar – sou obrigado a fazer isso.

-Mas é desumano! Eu penso que os seus superiores…

-Um momento – interrompe o padre Damião, olhando para atrás, para o capitão, levantando o braço com solenidade -, não são os meus superiores a obrigar-me a vir para Molokai, mas foi esta batina. Quando a vesti, sabia o que iria encontrar na minha vida religiosa.

Então, boa sorte, padre! – e, assim dizendo, aperta-lhe emocionado a mão.

-Virá visitar-me em Molokai, capitão?

-Eu acho que o senhor não vai agüentar por muito tempo. Descer naquela ilha significa condenar-se para toda vida.

-Ou talvez – acrescenta o padre Damião – signifique salvar-se por muito mais tempo.

-Lá na ilha de molokai? (pergunta o capitão)

-Não, mas lá em cima, no céu, capitão. (responde padre Damião) (p.13-16)

Tinha sempre palavras de elogio

Para seus colaboradores tinha sempre palavras de elogio! “Construindo esta capela- dizia-lhes – vocês fizeram um trabalho fantástico. Trata-se, agora, de cada um por si construir uma capela no próprio coração, onde Nosso Senhor possa permanecer. (p.34)

Era otimista e cheio de esperança quando ia realizar a missão

Seja como for, procuremos realizar a nossa nobre missão com o mesmo espírito. Por toda parte há infelizes a consolar, ignorantes a instruir e pecadores a converter. Tentemos cada dia unir-nos em Jesus e rezar um pelo outro, quando celebramos a Sagrada Eucaristia. (p.34)


Quanto mais cansado me sinto no domingo, tanto mais feliz estou, principalmente se me foi dada a graça de reconduzir para o aprisco do Senhor uma ou outra ovelha perdida. (p.38)

Não tinha vaidades, especialmente quando era para salvar uma alma

O padre Damião procura, então, fazer primeiro uma visita a Clayton. Tem ouvido falar muito mal dele: é um homem violento, bruto..sem religião…

Padre Damião…prefere usar de mansidão, para conquistar o coração de Clayton…

-Boa tarde!

A saudação do padre Damião faz virar, maravilhado, Clayton, mergulhado no jogo de dardos com seus amigos. É já noite e nenhum dos leprosos, nessa hora, ousa importuná-lo…Ninguém naquela ilha, costuma saudar com tanta educação e cortesia, como saúda o padre Damião.

-Boa Tarde! – responde Clayton…

-Clayton –e você?

-Sou eu! – Clayton retoma seu tom áspero – o que você quer?

-Bem pouco – responde calmo padre Damião, colocando no chão a sua maleta – vim dizer-lhe que vou ficar com vocês.

-De onde você foi expulso?

-Não, não sou leproso – responde com muita humildade o padre Damião…

-Pois é! Já sei o que você veio fazer aqui. Mas aviso-o de que aqui vai ser muito difícil para você colocar na cabeça desses doentes; sentimentos de fé, esperança e de paciência….ser nosso irmão, como vocês falam..?

-Sim! Vosso irmão! (responde padre Damião)

-Respeita esse nome – grita furioso Clayton. – Eu tinha um irmão…ele não se importava com a minha lepra, nem tinha medo. Você teria coragem de tocar meu braço chagado?

Assim dizendo, descobrindo seu braço direito, ergue-o para o padre Damião…O cheiro é horrível…Nunca antes tinha visto a lepra tão de perto… Clayton esta ali diante dele, com o braço levantado, desafiando a coragem do padre….

-Toma rápido sua decisão-

-Se é uma demonstração de coragem que você quer, dar-lhe-ei já! Aproxima-se com passo firme e, juntando todas as forças, agarra com as duas mãos o braço apodrecido de Clayton e o beija.

Esse não esperava tanto do padre Damião. É a primeira vez que vê alguém fazer isso. E com gesto áspero, afasta o padre…

Uma vitória brilhante de coragem que vai servir para o padre como base de igualdade com Clayton, na liderança dos leprosos de Molokai. (p.46-51)

A conversão dos leprosos

Um grande número de doentes aceita a presença de padre Damião; sua palavra, seu exemplo, seu entusiasmo, seu bom humor suscitam neles uma força nova que faz aceitar sua doença…Todos sentem-se amados. Pedem-lhe que não vá embora da ilha e que fique com eles para sempre. (p.58)

O testemunho de padre Damião convertia protestantes

Um protestante assim escrevia:

Devemos assinalar um acontecimento que fala mais alto do que mil discursos. Devemos falar de um homem, um irmão, que, espontaneamente, sem dinheiro, nem crédito, sem esperança de uma recompensa neste mundo, foi dedicar-se aos pobres leprosos de Molokai. Eis aí o verdadeiro espírito de Cristo. Eis aí um amor incompreensível para a razão humana…(p.59) (citado em Missions Catholiques, 1873, p.476)

Os leprosos todos admiram seu zelo, aceitam seus dons, sem desconfiar de segundas intenções. Sabem que seu trabalho e todo seu carinho dado aos leprosos não têm a finalidade de juntar seguidores para a sua Igreja, pois também os protestantes são bem-tratados e sem pedir-lhes nada em troca. (p.66)

Os leprosos também se animam e querem ajudar padre Damião

O trabalho é sinal de saúde e, desde que padre Damião mostrou o plano de construção da casa paroquial e a seguir um hospital e casas para leprosos, ninguém mais se considera doente grave. Todos ajudam. Fazem questão de colaborar!

Pregação aos leprosos

“Nós leprosos, somos amigos de Deus. Ele nos ama, gosta de nós…Um dia nós receberemos um corpo novo. Seremos transfigurados. (p.67)

Consolava os leprosos que chegavam na Ilha de Molokai

Todos os dias, repetia-se a mesma coisa. Os policiais acabavam de fazer uma batida em tal ou tal outra localidade, haviam levado sem piedade, ao posto de polícia, as pessoas suspeitas de lepra. Aí um médico as examinava. Com resposta afirmativa, a ordem de partida era imediatamente assinada.

…Uma pequena jangada lotada de gente: são leprosos…Pais, mães, filhos e irmãos arrancados de seus lares, de suas famílias…Padre Damião, ao ver a jangada empurrada para a praia pelas ondas altas do mar, corre para ajudar.

-Joguem a corda –…diz… o padre aos da embarcação.

Todos reunidos em volta do padre Damião… é a primeira vez que ouvem palavras de conforto e de coragem. (p.68-69)

Sofreu perseguições

Ao ouvir o grupo passar diante de sua casa, também Clayton, que não pôde resignar-se de perder a liderança da ilha, grita forte para o padre que está passando nesse momento diante da varanda:

-Hei, o que você vai fazer com toda essa gente?

Salve, Clayton. Procuro ajudá-los como puder.

-Ajudá-los para quê? – pergunta indignado Clayton – para dividir a ilha em dois partidos, o meu e o seu?

-Não é bem assim – responde alegre o padre – não dois partidos, Clayton, mas um só: o meu. E você vai entrar no meu. (…)

É por isso que Clayton agora procura derrubar a influência que o padre está adquirindo na ilha e sobre os leprosos, por meio de calúnias. (p.73-74)

Amava e protegia as crianças

Padre Damião sente a necessidade de que as crianças dos leprosos evitem o contágio da terrível doença. Por enquanto as crianças sadias ficam num pequeno barraco isolado dos outros.

É obrigado a permanecer para sempre na ilha de Molokai

…o Comitê proíbe ao padre Damião de sair de Molokai – para não espalhar o contágio por onde passa.

Tem que se sepultar para sempre na ilha de Molokai, sem nunca mais sair de lá. Ficar em Molokai, pensa o padre Damião, significa ser condenado a viver num grande hospital,…Embora esta proibição lhe custe muito, padre Damião aceita esta sua nova cruz. Aliás, ele já tem certeza de que não trocaria este lugar por nenhum outro lugar do mundo. (p.83)

Padre Damião fica muito chocado em saber que vai ser tratado pelo Comitê de saúde da mesma forma que os leprosos. Não se conforma. Quer correr a Honolulu para pedir a revogação da ordem, mas é impedido. O amor pelos seus leprosos é muito mais forte que as críticas e as calúnias. Não desanima. Começa a organizar o serviço de Molokai…Padre Damião sempre chefiando, encorajando, … ajeitando, aplainando, aconselhando, sorrindo para todos os que trabalham, até a obra terminar. (p.85-86)

Amava os inimigos

Sua maior cruz é Clayton, que torna muito difícil todo e qualquer trabalho de evangelização do padre. Instigador de desordem, Clayton monopoliza a superintendência da ilha de Molokai, arrastando na corrupção um punhado de leprosos,…

- Bem-vindo, Clayton! – diz o padre Damião, descendo os degraus do altar, para ir ao encontro do homem – Estou feliz em ver você na Igreja.

-Não é hora de brincar! – grita ameaçando Clayton – Desde quando chegou aqui naquele…dia…Você está continuamente atrapalhando minha vida. Eu quero que você vá embora de Molokai; você está acabando com as nossas festinhas. Aqui não há nenhuma lei e eu posso fazer o que eu quero. Vá embora daqui agora e para sempre!

-Você sabe que não posso ir embora – responde sorrindo o padre – porque o meu dever me segura aqui e é mais forte do que sua ordem.

- E se eu descarregar…as balas da minha espingardas…?

- Aí então, terei que obedecer por força maior – responde o padre, aproximando-se cada vez mais de Clayton.

De repente, sorrateiramente, um jovem leproso mais forte, joga-se nas pernas de Clayton, derrubando-o e procurando tomar a espingarda dele…

Clayton consegue levantar-se, expressando um misto de humilhação e de raiva…O padre está sorrindo satisfeito, por nada de grave ter acontecido.

-…Teria preferido que alguém tivesse atirado em mim. (responde Clayton)

-E eu ficaria sem inimigo, Clayton – reponde padre Damião, sorrindo e batendo amigavelmente no ombro do homem. E você me serve, mesmo como inimigo. (p.88-90)

A (perseguição) desse inimigo…ajudava-o a praticar a corrigir de seus defeitos, a praticar a paciência e o mandamento do perdão e do amor. (p.91)

Era muito comunicativo

Às vezes faltava à prudência recomendada pelos superiores. Ter excessiva prudência, porém, significava evitar toda e qualquer comunicação ou relacionamento com seus paroquianos leprosos. Mas o padre Damião..de caráter fortemente comunicativo, extrovertido… não tolerava prudência demasiada. (p.91)

Conseguiu a graça da confissão

Um jovem avisa o Padre Damião: “Estava pescando na praia, e de longe vi chegar um navio. Alguns botes carregados de homens e de mercadoria desembarcaram e estão chegando na praia…”

- Vamos ver então – responde Padre Damião.

A alegria do padre Damião aumenta incrivelmente chegando à praia.

-Tudo isso, padre, é para o senhor – e um marinheiro aponta para os caixotes amontoados na praia.

-Quem está enviando toda esta mercadoria? – pergunta, ansioso o padre Damião.

É um padre vestido como o senhor. Queria descer na ilha mas o capitão o proibiu.

-Empresta-me, por favor o bote? E, sem esperar resposta, padre Damião empurra o bote para o mar e rema em direção ao navio ancorado um pouco longe da costa. Mas, lá chegando, não pode subir no navio. Nem seu superior descer. É proibido!

- Como vai padre Damião?

-Tudo bem, padre provincial! – responde do bote o padre de Molokai – e o senhor?

(…)

-Quero somente que me confesse – implora o missionário – Compreenda, padre provincial, já passou muito tempo…

-Mas que é que está querendo, padre Damião, aqui com todos estes passageiros, não é possível. Vou absolvê-lo daqui mesmo. E, assim dizendo, traça o sinal da cruz em direção do padre que está embaixo, no pequeno bote.

-Não, padre, só depois que tiver escutado a minha confissão. – aí ajoelha-se,…e começa sua confissão em voz alta. Os passageiros admirados se afastam.

-Vamos embora – exclama o capitão, para o primeiro piloto – Os dois estão visivelmente emocionados.

-Se se confessa aquele homem que é santo, o que deveríamos fazer nós mesmo que somos pecadores? – diz o capitão sacudindo a cabeça.

- Pensando nele – observa o primeiro piloto – , vemos quanto é grande a nossa covardia.

-Eu não vou esquecer nunca este momento sublime. E todas as vezes que passar diante desta ilha de Molokai, vou tirar o boné, em homenagem a este homem maravilhoso que sacrifica sua vida pelos leprosos. (p.94-97)

Padre Damião doa sua vida pelos leprosos

Padre Damião está totalmente a serviço dos leprosos. São oitocentos. Em Molokai não há médicos. Só padre Damião e um leproso branco, o Sr. Williansen que fora assistente no leprosário de Cahili.

As regras que padre Damião vivia para realizar bem seu apostolado eram evangélicas:

-bondade para todos

-terna caridade pelos necessitados

-importantes socorros concedidos aos mais enfermos e aos moribundos.

Padre Damião dizia: “É necessário vir a Molokai, para saber o que a lepra do corpo é para ter uma idéia tocante e bastante natural da lepra da alma”. (p.104)

Padre Damião também se torna um leproso

Mas padre Damião não faz tragédia por isso. Nem revela seu estado aos amigos, para não impressioná-los. Não lhe havia causado nenhuma surpresa quando, já fazia muito tempo, a dor que sentia no pé esquerdo seguida por completa insensibilidade, atormentava-o. (p.120)

(…)

Sua alegria é ter as mãos limpas e ainda não contagiadas. Isso lhe permite celebrar a santa missa. A Eucaristia continua sendo a fonte da coragem e da aceitação. (p.123)

“Sem o santo sacramento (escreve em 8-12-1887) uma situação como a minha não seria tolerável. Mas, possuindo Nosso Senhor perto de mim, estou sempre alegre e trabalho com ardor, para a felicidade dos meus caros leprosos”. (p.123)

Um sonho que se torna realidade

O sonho há muito tempo acalentado sobre a vinda das irmãs para Molokai, finalmente torna-se realidade.

As irmãs franciscanas, chefiadas pela irmã Mariana, vêm para cuidar das moças do orfanato e mais tarde também cuidarão dos meninos. (p.132)

A morte de padre Damião de Molokai

…Diante das irmãs e do padre Conrady, o moribundo esforça-se para mostrar-se alegre. A pedido das irmãs, padre Damião levanta lentamente a mão para abençoá-las.

-Vocês cuidarão mesmo dos meus meninos?

Padre Wenddellin e padre Conrardy administram-lhe o viático. Não podem segurar as lágrimas. Também o moribundo chora. Mas de alegria.

-Como Deus é bom! …Deixou me viver o tempo suficiente para ter ao meu lado dois sacerdotes que me assistam nas minhas últimas horas. E como é consolador saber que há irmãs no leprosário. Este era o meu “deixa, agora, Senhor, que teu servo morra em paz…” (Lc 2, 29). Doravante já não precisam mais de mim aqui, os leprosos estão em boas mãos. (p.139)

No seu quarto entram e saem muitos leprosos. Querem …(se despedir)… do padre Damião…Saem do quarto do moribundo, tristes…Sobre seus rostos…brilham lágrimas de emoção…

É o dia 15 de abril de 1889. Todos os moradores de Molokai o acompanham, chorando, rezando e cantando. Os leprosos perdem um pai, mas ganham um santo, o leproso santo de Molokai: Damião de Veuster. (p.142-143)

Fonte: Enzo Santangelo. Damião de Veuster: O desafio do amor. Edições Loyola. 1985.

SÃO DAMIÃO MOLOKAI, ROGAI POR NÓS

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