sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Testemunho - Porque me tornei Católico por ROBERT IAN WILLIAMS


"Como você pôde fazer isto? É serio mesmo a sua conversão? Você agora idolatra Maria? Como você pode contar os seus segredos mais íntimos a outro homem na confissão? Por que você se converteu? Como você pode aceitar ensinamentos que não se encontram na Bíblia?"

     Estas são algumas perguntas que tenho recebido desde que fui recepcionado na Igreja Católica. À medida que vão passando os anos, têm se tornado mais freqüentes desde que decidi colocar os fatos no papel para informar os curiosos. Espero que este pequeno resumo ajude os católicos a entender a mentalidade "evangélica" e também ajude os evangélicos a pensar um pouco sobre o problema central que jaz no coração deste assunto: a autoridade.

      Minha filiação à Igreja Católica não foi uma conversão paulina, como a ocorrida no caminho de Damasco. Embora seja certo que Deus pode fazer coisas assim, meu caminho para a fé romana foi uma experiência educativa e gradual. A conversão é, em suma, um assunto espiritual, porém, muitos fatores podem contribuir para que ocorra. Meu desagrado pela confusão em que se encontra a cristandede evangélica foi o ponto de partida. Creio que foi a graça de Deus que me permitiu discernir a debilidade desse sistema religioso.

      Mas antes que a minha insatisfação se fizesse sentir, estava eu muito feliz no Cristianismo evangélico. Confiava em Cristo, acreditava que os meus pecados seriam perdoados e pensava que conhecia os Evangelhos e o Novo Testamento. Pensava também que todas as demais religiões estavam erradas e via a Igreja Católica como uma igreja apóstata, cheia de corrupção medieval, que obscurecia o Evangelho para a ruína das almas. Estava convencido que a Palavra de Deus na Bíblia era a única autoridade para o crente (Sola Scriptura) e que eu era justificado apenas por minha fé e nada mais que a minha fé (Sola Fide). Estes eram para mim os principais lemas da batalha da Reforma. Quando encontrava algum católico, ia logo mostrando a "verdade" e tentava levá-los ao conhecimento de Cristo. Eu era tão anticatólico que me negava a orar na capela existente na universidade onde dava aula. Sabia que a União Evangélica Cristã buscava converter os católicos e pensava, então, que todo assunto católico era nada mais que pura hipocrisia.

     Porém, a graça de Deus começava a operar em meu coração. Tudo começou com o tema do batismo. Os cristãos evangélicos estão bastante divididos a este respeito. Alguns aceitam o batismo de crianças e outros crêem que o batismo é apenas para o crente adulto. Estudei os fatos e não encontrei nenhuma referência explícita ao batismo de crianças no Novo Testamento; assim, decidi investigar quanto tinha sido inserida esta prática entre os cristãos. Será que poderia remontar aos tempos dos Apóstolos ou tinha se infiltrado na Igreja durante os primeiros séculos? Ao seu tempo, descobrí que o batismo de crianças era claramente apoiado pelo registro histórico. Se tivesse sido uma inovação, deveria então existir algum protesto contra a sua introdução na Igreja. Não pude encontrar nem um só grupo cristão anterior ao século XVI que rejeitasse o batismo das crianças. E até descobrí que estes primeiros cristãos batistas apenas aspergiam a cabeça do adulto ao batizá-lo. Achei que a imersão (que também era um ponto importante para alguns evangélicos) não tinha sido iniciado até o século XVII. Descobrí, então, que as igrejas batistas eram frágeis quanto ao rigor e a continuidade histórica.

     Assim, rejeitei o batismo "apenas para adultos". Para mim, isto era uma parte crucial da verdade e comecei a tentar convencer os evangélicos batistas agora que tinha conhecimento do erro de suas crenças. Alguns me disseram que eu estava obcecado por um assunto de importância secundária. Isto me chocou! Como poderia um mandamento solene de Jesus Cristo ser considerado como de importância secundária? Fiquei assombrado quando o renomado líder evangélico Martyn Lloyd-Jones, em seu livro "What Is an Evangelical?" ("O que é um Evangélico?") comentou sobre o assunto da desunião das igrejas evangélicas, dizendo: "Outro assunto que devemos pôr na mesma categoria é a idade e o modo do batismo: a idade do candidato e o modo de administrar o rito do batismo. Devo pôr, então, na categoria das coisas que não são essenciais porque não se pode provar nem um nem outro usando apenas as Escrituras. Lí livros sobre o tema durante 44 anos e creio que sei menos agora do que sabia no começo. Portanto, enquanto afirmo - junto com todos nós - que creio no batismo, porque é evidentemente uma ordem de Deus, não devemos nos separar no que tange à idade do candidato e ao modo de administrá-lo".

    Aqui temos um homem que, crendo na autoridade da Bíblia como única condutora do crente, não pôde estabelecer o padrão bíblico para o Batismo. Isto é o que eu chamo de "aprender e não chegar ao conhecimento da verdade". Ironicamente, na mesma obra, Lloyd-Jones ensina a suficiência da Escritura e que o Evangelicalismo é muito mais claro em sua lógica que o Catolicismo! Isto me fez olhar para outras discordâncias que existem entre os evangélicos. Se fossem apenas assuntos secundários, não haveria a necessidade de criar denominações separadas, cada qual esgrimando diferentes teorias para o retorno do Senhor, para o significado da Ceia do Senhor, se o crente pode ou não pode perder a sua salvação, ou as disputas sobre os dons carismáticos. A lista é longa.

      A minha formação acadêmica é a de historiador e, como tal, me concentrei na História da Igreja. Não pude deixar de me assobrar quando vi que não podia encontrar nem um só registro do cristianismo evangélico na Igreja anterior ao século XVI. Nem mesmo os valdenses e os seguidores de Wyclif tinham idéia da salvação apenas pela fé. Ambos os grupos participavam dos sacramentos da Igreja Católica e passaram como movimentos de reforma dentro da Igreja e não como igrejas separadas. Nenhum dos Padres da Igreja pregou a salvação somente pela fé. O próprio Wyclif morreu enquanto participava de uma missa, sem ter sido batizado como crente e contente com seu batismo católico que recebera quando criança!

     A teoria de que a conversão do imperador romano Constantino no século IV deu início à corrupção da Igreja é ainda mais inacreditável.
Descobrí que a Igreja primitiva cria no batismo das crianças, na regeneração pelo batismo, nos bispos, na sucessão apostólica, na presença de Cristo na Eucaristia, no sacerdócio sacrificial, nas orações pelos falecidos e de um papel todo especial do bispo de Roma. Tudo isto se encontra claramente séculos antes de Constantino.
      Nas palavras do Cardeal Newman, "quem adentra na História, deixa de ser protestante". Não pude achar um só registro dos evangélicos bíblicos, um grupinho de fiéis que se apegaram às crenças que caracterizam os evangélicos de hoje: somente a Bíblia e justificação apenas pela fé. O tratamento evangélico para a História da Igreja é superficial: nos fala de pessoas como Ambrósio, Agostinho e Atanásio como se fossem cristãos que apenas empregavam a Bíblia, ignorando completamente o contexto católico em que eles viveram. Classifico isto como intelectualmente desonesto.
Descobrí que a história dos evangélicos está assentada sobre mitos. A Igreja Católica - me afirmavam - tinha queimado as cópias da Bíblia.
Pelo contrário, comprovei que a Igreja Católica preservou a Bíblia, definindo o seu cânon e só queimou e proibiu a leitura das edições que eram traduções inexatas e heréticas. Por exemplo, Bíblias como a tradução de Tyndale, que ostentava notas de rodapé atacando a Igreja e o Papa. Também descobrí versões traduzidas para os idiomas vernáculos vários anos antes da reforma alemã. Os Evangelhos foram traduzidos para o anglo-saxão muito antes que o idioma inglês fosse formado!
       Também descobrí que o famoso "Livro dos Mártires", de John Fox, um católico apóstata do século XVI, era impreciso. Muitos dos "martires" durante o reinado de Maria Tudor eram anti-ortodoxos, tendo sido queimados durante o reinado da rainha Isabel, que era protestante. De fato, Fox apoiou um regime que torturou e assassinou católicos que apenas queriam viver na fé dos seus antepassados. Apoiou também um regime que queimou cristãos evangélicos como os batistas! Foram cristãos protestantes os que perseguiram os pais do Puritanismo na Inglaterra do século XIX e esse grupo, por sua vez, já estabelecido na América, passou a perseguir os seus próprios companheiros de fé.

       Eu tinha aceito a falsa idéia perpetuada por Lloyd-Jones e outros mestres evangélicos, que os católicos crêem na revelação contínua.
Descobrí que, muito pelo contrário, a doutrina católica ensina que a revelação pública terminou com o que receberam os Apóstolos e que a fé foi entregue de uma vez aos santos. É dever da Igreja, como "coluna e fundamento da verdade" (1Timóteo 3,15), a interpretação e o discernimento do depósito original da fé. A Igreja Católica não inventou a transubstanciação no século XII, nem inventou o dogma trinitário no século IV.
       Como evangélico, fiquei perplexo ao me encontrar na mesma situação dos Testemunhas de Jeová que afirmam que a palavra "Trindade" não se encontra na Bíblia. Eu imaginava que a doutrina estivesse ali e o termo simplesmente a definia. Porém, acabava tendo por problema o fato de não poder usar este argumento para discutir a questão do Purgatório com um católico. Eu acabava respondendo que o caso do Purgatória não podia ser definido claramente. Mas esta era uma resposta bastante deficiente pois era subjetivamente evangélica. Além disso, Lutero, Calvino, Wesley e uma certa quantidade de outros reformistas "enxergavam" o batismo das crianças, enquanto que Spurgeon, Billy Graham e muitos outros não o encontravam na Bíblia. O ensinamento católico era mais lógico: Deus estabeleceu uma Igreja como árbitro final e não pode ela ser culpada pela confusão. O desenvolvimento da doutrina é como a revelação de um filme fotográfico: a imagem está no filme, mas à medida que o tempo e as circunstâncias mudam, a imagem se torna mais visível.

      Não pude encontrar um só texto que afirmasse que apenas a Bíblia era suficiente. A famosa passagem que afirma que a Escritura é útil (2Timóteo 3,16) significa claramente que é um apoio, não que seja suficiente. Assim como é útil para mim beber água regularmente, mas não é suficiente como a alimentação completa. Não pude encontrar um só versículo que ensinasse que a Palavra de Deus deveria ser exclusivamente a palavra escrita. Mas encontrei Jesus honrando as tradições da fé judaica de sua comunidade, que não se encontravam na Escritura; sua condenação das falsas interpretações das tradições feitas pelos fariseus não era uma condenação da tradição em si mesma, já que a Igreja que Ele fundou sobre os Apóstolos aceitou tanto as tradições escritas [Escrituras] quanto as orais.

       Nesse momento decidi reexaminar a minha crença em Cristo. Seria possível alguém ter sido enganado? Seria possível que Cristo fosse um falso Messias? Depois de todos os judeus O terem negado, poderia o povo mais brilhante e durador do mundo ter se equivocado? Portanto, comecei a ler apologética judaica contrária ao Cristianismo, que centrava seus ataques principalmente afirmando que as profecias sobre o Messias não tinham se cumprido; afirma ainda que Jesus nunca declarou ser Deus e que os seguidores gentios acrescentaram "conceitos pagãos" como o nascimento virginal e a Encarnação. Isto me fascinava porque se parecia muito com as acusações que os anticatólicos fazem, dizendo que essas mesmas coisas são acréscimos pagãos. Passei a ver isto como a culminância lógica da teoria evangélica: se o Paganismo contaminou o Cristianismo, então como pode um ensinamento divino e permanente ser comparável à incorruptível Torah? Outro livro anticristão me levou ainda mais para essa direção ao me questionar: se a religião de Cristo é a verdade, por que existem tantas igrejas cristãs diferentes? Assim enxerga o Cristianismo o intelectual judeu: como um fracasso.

      Então voltei novamente a observar Cristo. Não poderia rejeitar sua divindade. Poderia ver que o Novo Testamento ensinava que Ele é Deus e isto não era um acréscimo pagão. O judaísmo moderno não é igual ao judaísmo da época de Nosso Senhor; é algo que se desenvolveu com o tempo e que também se dividiu em seitas. Inclusive, dentro do judaísmo ortodoxo há interpretações rabínicas que estão em conflito. Continuei me apegando fervorosamente à minha crença no Cristianismo "apenas com a Bíblia". A forma de vida e a comunidade evangélicas são muito acolhedoras e, para mim, os cultos católicos pareciam frios quando comparados. Ao mesmo tempo, me desiludia cada vez mais da apologética anticatólica. Livros como "Catolicismo Romano", de Loraine Boettner (um clássico anticatólico), apresentavam grosseiras distorções da realidade da doutrina e história [católicas]. Lembro-me de ter lido um livro evangélico que ridicularizava a doutrina católica da intenção sacramental. Na verdade, ridicularizava uma má representação dessa doutrina. A interpretação evangélica clássica dos textos petrinos cruciais, como Mateus 16, fundamenta-se em uma visão defeituosa e, então, eu já podia vê-la claramente. O jogo de palavras entre "Petros" e "petra" era periférico, uma vez que Nosso Senhor falava aramaico. A maioria dos eruditos evangélicos de hoje aceita a visão de que Pedro é a pedra e que recebeu as chaves da autoridade de uma maneira especial, pois assim como os antigos reis de Israel delegavam suas chaves de autoridade ao seu principal ministro ou vizir, Jesus designou Pedro como seu representante ou vigário. As chaves, em qualquer cultura civilizada, representam poder. Me dei conta que distorciam os escritos dos Padres da Igreja para fazê-los harmonizar com seus argumentos anticatólicos.

     Há algumas pessoas que propõem a idéia de que os Padres da Igreja estão em desacordo com a idéia de Pedro ser a pedra de que fala Mateus 16. Um exame cuidadoso dos escritos patrísticos revela que se referem a diversos aspectos e significados das Escrituras; assim como uma casa é construída sobre uma série de alicerces, os escritores patrísticos observam os diferentes sentidos da Escritura sem se contradizer em absoluto.
Ao contrário do que anunciava o mito evangélico, encontrei aí evidência histórica abundante para a presença de Pedro em Roma e o estabelecimento de seu Bispado.
     Ao ouvir Nosso Senhor dizer [a Pedro] que a carne e o sangue não lhe tinham revelado sua divindade, podemos ver o dom de Deus que é o Papado em sua forma embrionária. Me surpreendeu encontrar, já desde o século I (quando o Apóstolo João ainda vivia), que o bispo de Roma escrevesse à igreja de Corinto, instruindo e advertindo seus membros que, se não considerassem o seu conselho, estariam em grave perigo. Com o passar dos séculos, a evidência do Papado aumenta. Então descobrí que havia respostas razoáveis para as objeções evangélicas. Lembro-me muito bem do comentário que lí em um "livro de visitas" de certa igreja anglicana; foi escrito, obviamente, por um visitante católico e dizia: "Onde está Pedro, aí está a Igreja". Essas palavras que ficaram gravadas na minha mente, eram as palavras de Ambrósio, proferidas no século IV. A igreja angligana pode ter conservado os edifícios católicos erguidos antes da Reforma, porém, certamente, não conservou a antiga fé. Apesar de sua "cara de Catolicismo", a igreja anglicana do século XIX é protestante. Isso se manifesta na ordenação de mulheres e outras aberrações que nela tomaram forma.
O papel de Pedro chegou a estar tão claro para mim, que nem sequer conseguia considerar a pretensão das igrejas ortodoxas orientais de ser a verdadeira Igreja de Cristo. Nessas igrejas (ou, melhor dizendo, nessas comunhões) pude apreciar uma formosa liturgia, mas também uma falta de clareza magisterial. Por exemplo, até a década de 1930, as igrejas cristãs rejeitaram claramente a anticoncepção como uma coisa instrinsicamente imoral. Em 1930, a igreja anglicana a aprovou e outras [igrejas] a seguiram a partir de então. Isso inclui os ortodoxos, que também aceitam o divórico e as segundas núpcias. Apenas a Igreja Católica manteve uma posição firme nesses assuntos e isso sob o custo de perder a Inglaterra no século XVI.
      Os ortodoxos abandonaram o sucessor de Pedro para se apegar ao poder imperial de Constantinopla. Depositando sua confinça nos príncipes, colheram finalmente um fracasso. Enquanto todas estas coisas me indicavam, sem sombra de dúvidas, que a pedra da Igreja Católica era firme, o liberalismo de algumas pessoas dentro da Igreja me pertubava. Então, ao ler a parábola da casa construída sobre a pedra, me dei conta que a chuva e o vento a ferem também. Os excêntricos e os dissidentes, porém, não podem demolir a casa; podem tirar-lhe pedaços da pedra, mas não a pode destruir. Assim foi que descobrí, pararalelamente ao que ocorreu com Nosso Senhor, que a oposição se concentra em três áreas principais. Durante o ministério terrestre [de Jesus], as autoridades religiosas se horrorizaram diante:

1. Das suas declarações de ser Deus;
2. Do fato de que perdoava os pecados; e
3. De sua declaração que, para ter a vida eterna, deve-se comer de Seu Corpo e Sangue. 
 
   Tudo isto continua sendo a razão de uma oposição virulenta entre os evangélicos. Lembro-me muito bem que, quando era evangélico, ironizava o ensinamento católico da confissão a um sacerdote, da crença na transubstanciação, na Missa, na infalibilidade do papa e da Igreja. Lembro-me de ter refutado, afirmando que apenas Deus poderia ser infalível.
Meu exame cuidadoso das Escrituras me mostrou também que a doutrina católica sobre Maria se fundamenta na Palavra de Deus e não é importada do Paganismo.
      O fato de os pagãos terem cultuado deusas não invalida a crença em Maria, assim como o fato de os pagãos terem realizado sacrifícios não invalida os sacrifícios ordenados na Bíblia. Pude perceber que os católicos não a adoram mais que os anglicanos adoram a Oliver Cromwell, quando estes colocam flores aos pés de sua estátua nos dias comemorativos.
A doutrina católica da comunhão dos santos chegou a ser para mim uma verdade estabelecida. Se "a oração do justo tem muito poder" então aqueles que morreram no Senhor, sendo espíritos perfeitos de homens justos, devem possuir um valor superlativo para nós.
       Isto é ilustrado perfeitamente em Apocalipse 5, em que os 24 anciãos representam os santos que oferecem suas orações a Deus. Antes de ingressar na Igreja Católica, uma das últimas linhas de resistência evangélicas é levantar as vidas de certos católicos que são bastante desastrosas. Essa objeção me foi dissipada ao ler Ronald Knox. Knox foi criado em um ambiente profundamente evangélico e logo se converteu ao Catolicismo. Uma vez disse que se ele esquecesse o guarda-chuva na entrada de um templo metodista, ao retornar encontrá-lo-ia ainda ali; porém, não seria possível assegurar que o mesmo ocorreria em um templo católico. Os metodistas usaram muitas vezes esta frase a seu favor; contudo, na realidade, é um testemunho contrário a eles. Cristo veio para salvar os pecadores e a rede da Igreja foi lançada para pescar todos os homens. A Igreja não é um clube para leitores da Bíblia de classe média; a Igreja de Jesus Cristo é uma poção misturada e o erro dos reformistas foi acreditar que a Igreja deve ser composta 100% pelos eleitos de Deus.

    Nosso Senhor disse claramente que "muitos são chamados, mas poucos os escolhidos". Ainda que seja certo que conheci alguns católicos bastante desviados da fé, também é certo que a grande maioria dos católicos são pessoas de bem que querem viver a vida em conformidade com os ensinamentos da Igreja. O fato de muitos católicos desobedecerem os ensinamentos da Igreja só confirma as palavras de Nosso Senhor: "A quem mais se dá, mais lhe será exigido". São os católicos os que terão um juízo mais severo, iniciado pela Casa de Deus, quando o Senhor, no fim dos tempos, separar o trigo do joio. 
 
      Comecei a perceber que, tal como os fariseus do tempo de Jesus, os evangélicos tinham um ponto de vista superficial sobre a adoração de Jesus. Isto pode soar um pouco duro, mas de fato muitos cristãos "bíblicos" acumularam uma série de regras que condenam comportamentos certamente inofensivos, como se fossem anticristãos. Primeiro, se favorece a opinião de que ingerir algo é pecado e logo se ensina que Jesus bebeu apenas suco de uva, e que o vinho do milagre de Caná não tinha teor alcóolico. A outro pode parecer que dançar é abominável. Pode-se escrever uma longa lista de costumes semelhantes. Há evangélicos que pensam que fumar é evidência de que alguém não é crente, mas Spurgeon, comentarista batista do século XIX, fumava. Outros não jogam na loteria, mas investem seu dinheiro na bolsa. É quase impossível criar um estereótipo do crente evangélico, mas é possível dizer com segurança que a grande maioria aceita a anticoncepção. Pagam o dízimo de seu ganho a Deus (o evangelismo não custa barato a ninguém), mas não de seus corpos. Todo o sistema da "Sola Scriptura" é subjetivo. Foi-me contada uma história sobre uma senhora a quem alguém perguntou se acreditava realmente que ela e seu empregado eram os únicos cristãos, ao que ela respondeu: "Bom... Não estou muito segura se Jaime é".
Não estou sozinho, pois nos últimos anos muitos evangélicos tradicionais converteram-se à fé católica.
     E o fizeram ainda que o caminho para a Igreja estivesse bloqueado por falsas representações semeadas pela oposição. Isto é seguramente uma graça de Deus, pois sempre haverá oposição para aqueles que quiserem cumprir perfeitamente as palavras de Nosso Senhor. A oposição provém das forças do secularismo, do materialismo, do modernismo e de outras filosofias. Tudo isto rejeita os ensinamentos que são peculiares à Igreja Católica.
A Igreja é a pedra pequena predita pelo profeta Daniel, que destruirá a falsa imagem. É a semente que cresce até se tornar uma forte árvore. É o caminho que Isaías profetizou e que os homens não poderão deixar de encontrar. É a casa erguida sobre a rocha.
     O Cardeal Herbert Vaughan (1832-1903) resumiu com palavras muito sábias o que usarei como corolário:

     "É prática comum dos opositores da Igreja Católica tentar frear as almas apresentando-lhes uma multidão de dificuldades e objeções contra as doutrinas da Igreja. Sobre isto, podemos dizer duas coisas: Primeiro, seria muito fácil examinar esta lista de dificuldades e publicar um exame das mesmas, o que já foi feito por doutos católicos em grandes obras. Porém, é óbvio que para contender com tais problemas, deveria ser um teólogo ou passar toda a vida pesquisando, já que é necessário refutar todas as acusações. Por outro lado, temos as obras dos escritores anticatólicos, escritas para cegar ou confundir o caminho. Obras compostas por calúnias, citações adulteradas e uma mistura cuidadosamente dosificada de erro e verdade. Tais [obras] tentam, ao mesmo tempo, golpear e alienar tanto no sentido moral quanto no sentido intelectual. Se não conseguem total êxito assim, ao menos semeam perplexidade, ansiedade e o retardamento no caminho da busca de Deus. Porém, ao invés de ingressar em um labirinto cheio de dificuldades e quebra-cabeças de objeções, a via mais curta e satisfatória deverá ser eleita. Primeiro, encontrar o divino mestre, o pastor supremo, o vigário de Cristo. Concentre todas as suas faculdades mentais e morais na cabeça terrestre da Igreja de Deus. Essa é a chave para resolver esta situação".
        Publicado originalmente em inglês na revista "This Rock" Vol. 9, nº 3 em março de 1998. Robert Ian Williams, oriundo de Gales, é professor em Londres e publicou uma série de curtos tratados sobre a fé católica e sua história.

Tradução: Carlos Martins Nabeto.

Minha conversão ao catolicismo - William Bottazzini Rezende (Ex-protestante)


Minha conversão ao catolicismo
 (William Bottazzini Rezende)

     Vivi por cerca de 22 anos (com breves interrupções) submerso em um oceano de confusão protestante. Ao nascer tornei-me cristão através do batismo na Santa Igreja Católica. Contudo, algum tempo depois, ainda sendo carregado no colo, passei a frequentar "cultos" protestantes de uma denominação batista de minha cidade. Ademais, praticamente todos os meus parentes maternos são protestantes. Posso afirmar que era um protestante dedicado. Lia as Sagradas Escrituras com atenção tendo aprendido inclusive o grego e o hebraico, pois em meu íntimo tudo o que eu queria era estar próximo de Nosso Senhor. Todavia, era um aleijado espiritual tentando correr. Por desconhecer a Sagrada Tradição, imaginava poder conhecer Cristo tão somente pela Bíblia.

     Por muitas vezes era impiedoso em palavras no que se referia à Santa Igreja e à Nossa Senhora. Por ter sido guiado por cegos ao longo de toda minha vida, tornei-me cego tal qual os que me conduziam e não enxergava o colossal abismo em que eu estava por precipitar-me. Conforme os anos passavam, tive contato com autores e obras que me despertaram inquietações em questões relativas à minha fé. Os líderes espirituais ao quais estava eu submetido não possuíam "know-how" necessário para apaziguar meu ânimo sedento por explicações que fossem ao menos razoáveis.

     Então comecei a perceber como estava enredado em mentiras e ilusões. Percebi que a "religião" em que fui criado era um misto de sentimentalismo e interpretações distorcidas da Bíblia. Quando me dei conta, pude perceber que o meu "cristianismo particular" não passava de uma mera crendice folclórica desprovida de razão.
      Devo confessar que, por um estranho paradoxo, quando, ainda em meio protestante, comecei a analisar alguns fatos históricos, passei a perceber que a Igreja não era "A Grande Meretriz" como até então havia sido ensinado. Descobri o papel fundamental que a mesma desempenhou na divulgação da Boa-Nova. Ora, tal trabalho evangelizador ao longo dos séculos custou caro à Igreja. Nosso mártires são testemunhos históricos irrefutáveis de tais acontecimentos. Mesmo assim, sofria eu, como muitos, de um orgulho patológico que eu posso denominar como "prostentantite severa", onde adimitir algum acerto da Igreja era um crime hediondo.
      Pois bem, a soma do meu orgulho com a falta de resposta (e as inúmeras contradições) dos "pastores" me levaram a procurar a Verdade em várias denominações e religiões, passando inclusive pelo espiritismo, e, finalmente, caí no ateísmo. Afinal, tornou-me enfadonho a moral protestante que oscila entre o "Puritanismo Absoluto" e o "Liberalismo Total" com muita facilidade. Outro fato que me incomodava era que cada líder protestante se considerava "O Escolhido" e execrava os demais que também se consideravam como tal. Isso para não mencionar os que escolhiam títulos nada humildes para si como "Bispo" ou até mesmo "Apóstolo". O sujeito acorda um belo dia e se denomina "uma autoridade inspirada por Deus".

    Mas, felizmente, percebi que o ateísmo era um outro absurdo e minhas dúvidas persistiam. Até então nunca tinha ouvido um católico expor sua posição religiosa com clareza. Afinal, padecemos de um mal chamado "Católico-não-praticante" que infesta nossa cultura do "tô nem aí". Até que um dia comecei a dar aulas de italiano para um padre de minha cidade (que também é o prior do Mosteiro de São Bento de Pouso Alegre) : Dom Bento. Aos poucos, Dom Bento (hoje, meu grande amigo pessoal), foi me ajudando a elucidar pontos que para mim permaneciam obscuros.

      Contudo, eu ainda não tinha coragem de fazer perguntas que eu considerava invasivas (como todo protestante, eu queria "tirar satisfações" a respeito das imagens, de Maria ser a Mãe de Deus, da autoridade papal etc.) Foi aí que através de um site de buscas cheguei acidentalmente à Montfort e na parte destinada à Apologética li a resposta do professor Orlando Fedeli a um tal de "Saul". Todas as minhas armas contra a Igreja, eram praticamente as mesmas que "Saul" possuía. Ao terminar, eu não tive outra escolha: humildemente reconheci que estava errado e que tinha sido enganado por toda minha vida. A verdade se descortinou diante dos meus olhos e tudo fez sentido.
      A partir deste momento, passei a amar a Igreja de todo meu coração! Dom Bento, foi meu tutor espiritual e o responsável pela minha profissão de fé e pela minha Primeira Comunhão. Ah como é bom tomar parte no sacrifício da Santa Missa! Aliás, a primeira Missa a que assisti foi celebrada no rito tridentino (este rito é celebrado com frequência no mosteiro de minha cidade). Pela misericórdia de Deus, minha esposa, também ex-protestante, se converteu à verdadeira fé.
      Em relação à Santa Igreja tudo o que posso dizer é: eis a bela noiva e fora dela não há salvação! O Noivo só possui uma única noiva, ora esta é a própria Igreja que herdou toda a tradição dos Apostólos e que foi fundada na Pedra.

   Agradeço profundamente a todos aqueles que contribuíram para minha conversão, em especial a Dom Bento e ao saudoso professor Orlando Fedeli e demais amigos da Montfort.


Testemunho Ex-protestante: Rivanda Marcelino Brasil

         
 
         Em outubro de 1970, eu, Rivanda Marcelino Brasil Campos, nasci numa família católica, simples, sem conhecimentos sobre a doutrina da Igreja, mas católica. Em fevereiro de 1972, com um ano e quatro meses de idade, fui batizada. Anos após, recebi o sacramento da Eucaristia e, algum tempo depois, ainda no início da adolescência, o sacramento do Crisma. Cresci sendo levada, aos domingos e demais dias santos, às Missas da Igreja Católica Apostólica Romana. E assim, continuei o hábito dos meus pais, frequentando às Missas. Aos dezessete anos de idade, passei a frequentar um grupo de jovens da renovação carismática da Igreja São José de Taguatinga Norte, cidade do Distrito Federal, próxima à capital Brasília. Mas eu estava sem amparo, ficando um tanto desmotivada e encarando a Missa como algo repetitivo e sem sentido. Não confessei isso a ninguém e, certamente, foi aí que eu errei. Jovem e sem o conhecimento firme da doutrina católica, acabei aceitando explicações vindas do protestantismo. Fui, sem meus pais saberem, a cultos em igrejas protestantes. E assim, acabei sucumbindo, sem procurar nenhuma resposta dentro da doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana para as dúvidas que me afligiam e aceitei, sem nenhuma avaliação, as “verdades” que o protestantismo me oferecia e que eu nem sabia que tinham por base a Sola Fide e a Sola Scriptura.
 
       Aos dezoito anos, em 1989, conheci um jovem batista, ao voltar do trabalho para casa. Era o Gabriel Campos. Na mesma noite, acordei ao cair da cama e ter sonhado me casando com aquele rapaz que acabara de conhecer. Fiquei um tanto assustada com aquilo, mas não dei importância. Semanas depois e por acaso, tornamos a nos encontrar. Iniciamos um namoro, que desembocou num casamento, em maio de 1990, na Igreja Batista Alvorada de Taguatinga. Ressalto que não frequentávamos essa igreja, mas nos “casamos” lá, pois eu ainda estava a visitar várias igrejas protestantes. E assim ficamos durante muito tempo. Após um ano e sete meses, fiquei grávida e nosso filho nasceu oito meses depois. Tempos depois, passamos a frequentar a Igreja Batista Monte Horebe, na qual fui “batizada”. E lá estava eu com minhas novas dúvidas. Afinal, por que tinha de ser batizada novamente, se nunca deixara de crer em Jesus como meu Senhor e Salvador? Por que só a fé salva? E as obras? Na verdade, eu não me pronunciava, mas sempre considerei inaceitável ler na Epístola de São Tiago 2,24 que a justificação ocorre pelas obras e não somente pela fé e continuar dizendo que a salvação viria somente pela fé. O tempo foi passando, mudamos de residência e fomos frequentando outras igrejas protestantes. Nunca entendi o porquê de tantas divisões, mas também não me esforçava ou não queria, seriamente, buscar a resposta. Acabamos por frequentar cada vez menos e começamos a observar cada vez mais o fenômeno das divisões que não paravam e não param nas igrejas protestantes, a teologia da prosperidade e mais recentemente os grupos que abominam a reunião em igreja e o sacerdócio, mesmo possuindo estes um líder espiritual e um local para se reunirem. Mas guardávamos a crença protestante e ir para a Igreja Católica era algo, simplesmente, não cogitado.
 
      Ocorre que Gabriel sempre gostou de ler diversos temas e a Igreja Católica Apostólica Romana era um destes. No início, leituras sem o intento de pesquisar, de buscar respostas para nossas dúvidas escondidas em algum recôndito da alma, mas essas mesmas leituras foram gerando questões, que por algum tempo foram deixadas de lado, mas como um rio mal represado, acabaram por inundar nossa alma e necessitavam de respostas honestas. Assim, Gabriel começou a dividir comigo suas dúvidas. Confesso que cada vez que ele me trazia uma informação ou uma dúvida, eu ouvia, mas não queria dar importância àquilo. Eu percebia que havia pertinência naquelas dúvidas e isso me preocupava. Num certo dia, ele apareceu com um livro chamado Todos os caminhos levam à Roma, escrito pelo ex-pastor calvinista Scott Hahn e sua esposa Kimberly. Eu não queria saber daquilo. Eu nunca havia ouvido falar de um protestante convertido à Igreja Católica! Por acaso, existiria explicação para a Igreja Católica Apostólica Romana? Mesmo que existisse, eu não queria tomar conhecimento. Eu queria, mesmo sem ter isso de forma clara, permanecer na minha ignorância. Mas a história de conversão daquele ex-pastor me parecia por demais interessante para que eu me negasse à leitura. Eu tinha que satisfazer minha curiosidade. Sinceramente, não esperava encontrar naquele livro nada que pudesse abalar minhas convicções protestantes sobre a Igreja Católica. Mas alguns trechos desse livro me fizeram pensar. E um desses trechos foi o seguinte: “Bom, doutor Gerstner, tanto protestantes como católicos estão de acordo em que Deus deve ter tornado infalível Pedro pelo menos em duas ocasiões: quando escreveu a Primeira e a Segunda Epístola de Pedro, por exemplo. Ora, se Deus o pode tornar infalível para ensinar com autoridade por escrito, porque é que não podia preservá-lo do erro ao ensinar com autoridade em pessoa? Do mesmo modo, se Deus pode fazer isso com Pedro e com os outros apóstolos que escreveram a Escritura, porque não podia fazer o mesmo com os seus sucessores, especialmente ao prever a anarquia a que se chegaria se não o fizesse? Por outro lado, como podemos estar seguros de que os vinte e sete livros do Novo Testamento são em si mesmos a infalível Palavra de Deus se foram Papas falíveis e concílios falíveis que nos deram essa lista?”
     Naquele livro, vi, de certo modo, eu e Gabriel vivendo um momento semelhante. Obviamente que a bagagem de conhecimento do casal Hahn está a anos luz de distância da nossa. Estão muito adiante.
 
     Em meados de setembro de 2013, Gabriel me convidou para irmos à Missa na Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, uma igreja que fica a uns dez minutos de nossa casa, se formos de carro. Disse que não queria ir, mas não me incomodava que ele fosse lá matar sua curiosidade. Ele me perguntou, ao sair: E se eu me tornar católico, o que você fará? Na verdade, eu sabia que ele já estava convencido de suas descobertas, só queria confirmar suas certezas. Então respondi: Olha, você está com um pouco mais de sorte que o Scott Hahn, pois como já fui católica, não tenho toda aquela aversão que a Kimberly teve e que era totalmente compreensível considerando o passado dela. Vou respeitar sua decisão, quero que você se sinta bem com Jesus e com suas convicções, mas não quero ser pressionada e nem quero você tentando me convencer. Antes que entrasse no carro e se dirigisse à Igreja, perguntei a ele se não ficaria perdido durante a missa, pois não sabia as orações, quando ajoelhar, o que responder, e ele me disse que já havia lido um pequeno livro que explicava cada ato da missa. E assim, foi e voltou certo de que a Igreja Católica Apostólica Romana é a Igreja de Cristo. Na verdade, ele já estava convencido disto, após leituras dos primeiros padres da Igreja, aulas do Pe. Paulo Ricardo e escritos do Scott Hahn e do Papa Bento XVI, tudo em consonância com a Bíblia. Mas, mesmo assim, eu não esperava que ele tomasse essa decisão tão rápido. Eu estava com um certo medo. Eu não queria tomar conhecimento das respostas lógicas para a veneração e intercessão de Maria e de todos os santos, para a infalibilidade papal, para a formação do cânon da Bíblia e da própria Eucaristia e demais sacramentos. Ocorre que essas respostas me incomodavam, movimentavam algo dentro de mim, me causavam desconforto. Mas a cada dúvida, me era dada uma resposta, nos livros, nas aulas do Pe. Paulo Ricardo, no Catecismo da Igreja Católica, na sua tradição e na Bíblia. Eu poderia, simplesmente, não aceitar. E por muitas vezes, eu voltava a ler ou a assistir aos vídeos para verificar se não havia algum ponto falho, algo inaceitável, mas não encontrei. O fato é que as explicações se mostravam cada vez mais óbvias. Algumas pessoas devem ter concluído que meu retorno à Igreja Católica Apostólica Romana se deu por uma comodidade de acompanhar meu marido, mas não foi para agradá-lo que aceitei as explicações para minhas dúvidas, pois sempre respeitamos muito o momento um do outro. Vi que eram respostas verdadeiras e que eu não podia mais ignorá-las. Passei a acessar vários vídeos e textos do Pe. Paulo Ricardo (https://padrepauloricardo.org/). Fiquei tão sedenta, que acabei por fazer minha assinatura no site para acessar as aulas restritas aos assinantes. Em meados de janeiro de 2014, meu marido assumiu sua conversão aos amigos por meio do facebook, pois assim, não teria de ficar repetindo a mesma história. O mais difícil foi revelar à família dele, que tem longa tradição batista. Após o comunicado, percebemos o silêncio e também o distanciamento. Alguns conhecidos mais exaltados proferiram expressões grosseiras para nos descrever, outros deram gargalhadas, pois pensaram que estávamos contando uma piada. Fazer o quê? Vamos deixando nas mãos Deus.
 
    Com minhas limitações, sigo lendo e ouvindo e aprendendo, cada vez mais, sobre a Igreja Católica Apostólica Romana. Aquela mesma Igreja, que Cristo deixou sob os cuidados de Pedro e sob a promessa de que as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Termino esse testemunho afirmando que Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra e em Jesus Cristo, seu Único Filho e nosso Senhor, que foi concebido pelo Poder do Espírito Santo. Nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu a mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, está sentado à direita de Deus Pai Todo- Poderoso, de onde há de vir e julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressureição da carne, na vida eterna. Amém.
 

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Sacerdote americano enfrenta o seu juízo pessoal, é sentenciado ao Inferno, mas é salvo pela intercessão da Virgem Maria


Tradução: Blog Católicos Tradicionais


O Padre Steven Scheier foi ordenado sacerdote no ano de 1973. Era um sacerdote diocesano e foi enviado à paróquia do Sagrado Coração na cidade de Fredonia, ao sudoeste do Kansas.

Não amava sua vida de sacerdote.

Durante doze anos se preocupou mais com o que os demais pensavam dele, que do seu ministério sacerdotal. Se preocupou com o seu prestígio como sacerdote, especialmente diante dos seus companheiros de ministério. Não assistia à direção espiritual com outros sacerdotes, ou se o fazia, focava em coisas superficiais, como que para se sair de seu compromisso. Não fazia as orações do breviário nem as que devem fazer todos os sacerdotes. Para ele, a Missa não tinha um significado especial. Caiu em sucessivas negligências em seu labor pastoral e se dedicou a muitas atividades no âmbito social, em detrimento dos fieis de sua paróquia. Fugiu do sofrimento próprio de sua missão e se portou de maneira covarde diante deste sofrimento.
Faltou aos mandamentos. Se confessava com regularidade, mas não apropriadamente. Não tinha propósito de emenda, nem verdadeira dor pelos seus pecados. Tomava a confissão como um "seguro contra o inferno". Suas confissões não o conduziram a uma verdadeira mudança de vida. Se confessava quando queria, porque pensava  que teria tempo suficiente. Ele sabia que não estava fazendo o que devia, que não era o sacerdote que devia ser, mas não mudou a sua forma de proceder. Os fieis, sem embargo, consideravam que ele era um bom sacerdote.

O dia do seu acidente

No dia 18 de outubro de 1985 foi a Wichita, mais ou menos a 130 ou 140 kms de distância. Fez uma viagem pela estrada 86 (rota 86), a única estrada acessível entre Fredonia e Wichita. Era uma estrada montanhosa e perigosa, sem sarjetas e de alto tráfego. Foi ver a um sacerdote sobre algo que havia sucedido na paróquia de Wichita. Saiu pela manhã e regressou pela tarde. Na viagem de regresso, enquanto ultrapassava a um caminhão, se viu envolvido em um acidente de frente com uma caminhoneta que levava consigo três pessoas que residiam em Houston, Texas. Foi lançado fora do veículo, sofreu lacerações na cabeça e o couro cabeludo se desprendeu no lado direito. O lado direito do cérebro foi cortado parcialmente e muitas células foram esmagadas. Ficou praticamente inconsciente. Uma enfermeira que estava a um veículo atrás do dele, o ajudou imediatamente. Viu que tinha o pescoço ferido. Foi atendido em estado de emergência e levado de ambulância a um pequeno hospital próximo. Um médico lhe suturou o couro cabeludo que estava rasgado. Todos pensavam que não iria sobreviver. Aparafusaram na frente e por trás da cabeça, lhe colocaram um rígido revestimento para evitar movimentos e o levaram em um helicóptero a outro hospital em Wichita.

Não se atreveram a operá-lo devido à gravidade da lesão.

Sofreu fratura de tipo C2, ou seja, a segunda vértebra cervical (é o mesmo tipo de lesão que ocorre nas pessoas que morrem enforcadas). Quando esta vértebra se rompe, a pessoa se asfixia. Se lhe houvessem movido a cabeça no lugar do acidente, ele teria morrido. Foi colocado em tração e os doutores lhe davam 15% de chance de probabilidade de vida. Permaneceu em cuidados intensivos até o mês de novembro. Esteve baixo tratamento de morfina e tração. Quando souberam do acidente, os membros de sua paróquia e de outras regiões vizinhas se puseram em oração por ele. E se recuperou de maneira surpreendente e rápida.

No dia 2 de dezembro lhe deram alta do hospital. Não esperavam que ele sobreviveria. Lhe disseram que, apesar de sobreviver, pensavam que iria ficar paralisado do pescoço para baixo, usando um respirador, olhando para o teto pelo resto de sua vida e sem voltar a falar.

Uma revelação que lhe abriu o entendimento

No mês de abril lhe retiraram os aparatos que o mantinha imobilizado. Ao regressar a sua paróquia, uma vez em que celebrava a Missa durante a semana, justamente neste dia foi o Evangelho de São Lucas, capítulo 13, versículos 6 e seguintes, sobre o dono da Vinha, que ordenara ao vinhador cortar uma figueira que não dava fruta há três anos. O vinhador intercede ante o Dono da vinha e lhe propõe pagar e cuidar dela por mais um ano para ver se daria fruto, ou se não, poderia cortá-la. De repente, enquanto se encontrava lendo esta passagem, a página tornou-se luminosa, aumentou e se aproximou a ele. Sentiu um grande choque e terminou a Missa como pôde. Depois teve que sentar-se e tomar algo para acalmar-se.

Chegou o momento do seu juízo

Neste momento recordou uma conversa que teve ocorreu um pouco depois do acidente. Ele não viu a ninguém, mas escutou as vozes. Nesta conversa, o padre Steven se encontrou na presença de Deus. Ao sentir o amor puro de Deus na pessoa de Jesus, o Padre Steven se sentiu realmente um pecador, mas o Senhor lhe disse: "Eu te amo, aproxima-te". O Padre Steven se viu enfrentando o seu juízo particular, no que foram postos em evidência muitos pecados mortais que não conseguiu confessar, porque havia deixado tudo isto para mais tarde. Sentiu o Amor Justo de Deus quando o Senhor Jesus lhe disse: "Tua sentença é o Inferno por toda a eternidade".

O Padre Steven contestou: "Sim, Senhor, eu sei". Porque sabia toda a verdade de sua vida e isto não foi surpresa para ele. Comprovou que Deus nos conhece perfeitamente por dentro e por fora, e que não se deixa levar por aparências ou simples opiniões. Também soube que diante de Deus não valem desculpas, nem pretextos nem justificações.

Então, o Padre Steven escutou uma voz feminina:

"Filho, por favor, podes perdoar sua vida e sua alma imortal?", o Senhor contestou: "Ele foi sacerdote por doze anos para si mesmo e não para Mim. Deixemos que ele colha o castigo que merece".

A voz feminina replicou:

"Mas Filho, se lhe damos graças especiais, então vejamos se dá frutos; se não, seja feita a Tua Vontade". O Padre Steven sentiu o Amor Misericordioso de Deus quando o Senhor contestou: "Mãe, [ele] é teu."


O Padre Steven não sentia devoção especial pela Virgem, e à partir deste momento começou a tê-la sempre presente em sua mente e em seu coração. Se deu conta que lhe tomará toda a vida ser o sacerdote que deve ser. Com o tempo, o Padre Steven ingressou em uma comunidade contemplativa, não de clausura, que ora e intercede pelos sacerdotes. Deus lhe deu uma oportunidade a sua alma e a sua vida física, corporal, e não há um dia em que não pense no que lhe aconteceu. Agora é muito mais consciente que antes dos seus pecados.

Alguns ensinamentos que podemos aprender da experiência do Padre Stevens:

1.     Há duas maneiras de crer: Com a cabeça (ou seja, intelectualmente) ou com o coração. Durante muitos anos o Padre Steven creu com a cabeça, ou seja, intelectualmente, em Deus, no Céu e nos santos. Para ele, não eram seres vivos, senão representações ou personagens imaginários.
2.     O Inferno existe, e os sacerdotes não esão isentos dele, portanto, se faltam aos mandamentos, estão expostos a ele. Os sacerdotes têm que dar conta de mais coisas que os fieis, posto que têm maiores responsabilidades em sua missão. "A quem muito foi dado, muito será cobrado".
3.     Deus nos ajuda a conhecer-nos a nós mesmos para que nos emendamos de nossos erros e corrijamos nosso caminho. Temos que estar receptivos e cooperar com a Graça de Deus.
4.     Deus nunca disse "NÃO" à Virgem Maria. Nós não conhecemos nem apreciamos a importância, a graça e o poder que Deus há dado à Santíssima Virgem.
5.     Quando um foge dos sofrimentos e das cruzes próprias de sua vida e de sua missão, depois aparecerão cruzes ainda maiores, onde queria que uma pessoa vá. Mas quando as abraçamos, Deus adoça os sofrimentos e as cruzes pessoais.
6.     O amor de Deus é maior que a sua Justiça, o que não quer dizer que Ele não será justo em seu juízo. Não há que ter medo de dizer as coisas como elas são. Pode acontecer que não sejas mais populas que os demais, mas, "é necessário por Deus primeiro antes dos homens".
7.     Podem morrer milhões de pessoas em um mesmo instante, mas o juízo é pessoal e uma pessoa o enfrenta só. Recorda que tua salvação depende de tuas ações: a forma de como hás vivido e amado.
8.     Nossa verdadeira casa está no Céu. Aqui, no mundo, somos peregrinos a caminho de nossa pátria celestial.
Notas:
O Padre Steven sofreu anteriormente outros dois acidentes de trânsito, o segundo foi um pouco mais sério que o primeiro. Sentia que ia ocorrer outro muito mais grave, e finalmente ocorreu. Ele sabia que eram advertências para a sua mudança de vida, mas não quis fazer caso. Finalmente, Deus lhe deu uma nova oportunidade para que fosse testemunha de Seu Amor e de Sua Misericórdia.

 Fonte:
(EWTN / Madre Angélica en vivo)
http://www.pildorasdefe.net/post/testimonios/IHS.php?id2=Sacerdote-enfrenta-su-juicio-personal-y-es-condenado-al-infierno-Regreso-por-intercesion-de-Maria


Para o Tempo do Natal

Mensagem de Natal do Papa Francisco 


Quinta-feira, 25 de dezembro de 2014 às 12h06

FELIZ NATAL
      O Natal costuma ser sempre uma ruidosa festa; entretanto se faz necessário o silêncio, para que se consiga ouvir a voz do Amor.
     Natal é você, quando se dispõe, todos os dias, a renascer e deixar que Deus penetre em sua alma.
     O pinheiro de Natal é você, quando com sua força, resiste aos ventos e dificuldades da vida.
       Você é a decoração de Natal, quando suas virtudes são cores que enfeitam sua vida.
      Você é o sino de Natal, quando chama, congrega, reúne.
   A luz de Natal é você quando com uma vida de bondade, paciência, alegria e generosidade consegue ser luz a iluminar o caminho dos outros.
     Você é o anjo do Natal quando consegue entoar e cantar sua mensagem de paz, justiça e de amor.
     A estrela-guia do Natal é você, quando consegue levar alguém, ao encontro do Senhor.
  Você será os Reis Magos quando conseguir dar, de presente, o melhor de si, indistintamente a todos.
     A música de Natal é você, quando consegue também sua harmonia interior.
    O presente de Natal é você, quando consegue comportar-se como verdadeiro amigo e irmão de qualquer ser humano.
    O cartão de Natal é você, quando a bondade está escrita no gesto de amor, de suas mãos.
    Você será os “votos de Feliz Natal” quando perdoar, restabelecendo de novo, a paz, mesmo a custo de seu próprio sacrifício.
     A ceia de Natal é você, quando sacia de pão e esperança, qualquer carente ao seu lado.

Papa Francisco

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

DOE MEDULA ÓSSEA RAFAEL FRONER

VOCÊ AMIGO E IRMÃO DO BLOG BAIXADACATOLICA, PARTICIPE CONOSCO DESSA CAMPANHA DE AMOR

DOE VIDA, DOE ESPERANÇA, DOE AMOR.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Arqueologia - As Catacumbas Cristãs de Roma

PAPA SÃO SISTO - SÉCULO I

Duas cidades têm o privilégio de exercer, sobretudo sobre um coração católico, um atrativo incomparável e de dar ao espírito grandes esclarecimentos quando suas investigações o levam rumo à teologia e à história: eu quero dizer Jerusalém e Roma. Elas são como os dois olhos brilhantes do mundo nos quais se reflete o céu; elas são dois santuários particularmente escolhidos sobre nossa terra e como os dois pólos do mundo histórico; elas são os pontos de apoio misteriosos onde a misericórdia divina depositou a alavanca que suspende o mundo e o fez sair da velha órbita da servidão para conduzi-lo em uma via nova, a via do céu. São as duas cidades da aliança, os dois palcos das maravilhas de Deus. Uma proclama a história da Redenção; a outra resume a história da Igreja. Elas são como a mãe e a filha, intimamente e inseparavelmente ligadas uma à outra. Sua fisionomia e sua história levam o selo indelével deste parentesco. A colina eternamente memorável de Jerusalém foi testemunha do sacrifício três vezes santo do Homem-Deus; consagrada pelo sangue divino, ela tornou-se o altar da salvação. As colinas de Roma viram o martírio de um milhão de membros ilustres do Cristo, e, pelas torrentes de sangue que as inundaram e consagraram, elas se tornaram como o altar-mor da Igreja universal. O corpo de Jesus Cristo foi, após o sacrifício supremo, sepultado em uma escavação rochosa no pé do Gólgota. Os corpos daqueles que deram a Deus o testemunho de seu sangue foram sepultados sob o solo da cidade das sete colinas, nas rochas cavernosas das Catacumbas. O corpo do Senhor repousou três dias na gruta silenciosa e ressuscitou após este período. A Igreja romana, corpo místico do Cristo, se confiou durante três séculos à discrição da necrópole subterrânea e se levantou em seguida para fazer ondular sobre o universo o estandarte triunfal da cruz. Enfim, após a ressurreição, cada uma dessas duas sepulturas permaneceu gloriosa e abençoada. Os selos miraculosamente quebrados do Santo Sepulcro, em Jerusalém, a caverna privada de seu tesouro e só contendendo o sudário dobrado, tornou-se o testamento eterno e o testemunho sempre invencível do grande mistério da Redenção. As Catacumbas reabertas de Roma, com seus tesouros de despojos santos e de relíquias preciosas, monumentos de todo tipo, são um testemunho irrefutável em favor da Igreja primitiva, um legado precioso para as gerações mais distantes. Elas são de algum modo os arquivos do cristianismo, o berço da história eclesiástica. Nas galerias e nos arcosolia, nas paredes e nas abóbadas, se desenrolam em cores vivas e frescas os símbolos da fé e do amor  tais como os representavam na Igreja apostólica. Após vários anos de estudos especiais, e encorajados pelo concurso benevolente do cavalheiro de Rossi, tão profundamente versado na arqueologia das Catacumbas, tentaremos introduzir e guiar o leitor na Roma subterrânea. Veremos que, se a Igreja tira desta mina tão fecunda o ouro das relíquias preciosas do qual ela decora os altares do mundo inteiro, a erudição católica não é menos exitosa ao extrair dai, felizmente, os diamantes dos quais ela aperfeiçoa e enriquece a ciência da fé.

           As Catacumbas em geral – Sua importância histórica

 batismo Infantil

Consideraremos, em uma primeira parte, certos dogmas cristãos que tem mais especialmente relação com a finalidade das Catacumbas, e, em uma segunda parte, outros pontos particulares da doutrina, que tiram desses monumentos uma confirmação radiante.  O que são as Catacumbas? Qual foi sua finalidade? Essas questões preliminares necessitam de uma resposta curta.  Transportai-vos, pelo pensamento, na cidade eterna, em Roma, nos dias de seu antigo esplendor, no segundo ou no terceiro século da era cristã. Ela é a dominadora orgulhosa do mundo, com seus duzentos milhões de cidadãos, quase todos pagãos. Do meio de seu céu azul, o sol atira sobre ela seus raios flamejantes e parece querer alourar esta multidão de templos, de pórticos, de colunatas, de palácios, de basílicas, de mausoléus, de termas, de teatros e jardins magníficos. Todos os tesouros da terra, todas as maravilhas da arte parecem se encontrarem nessa bacia gigantesca aonde vieram se derramar todos os despojos do mundo.  Contudo, esta superabundância de ouro e de mármore, esse luxo grandioso e arrebatador são apenas um verniz brilhante sobre uma imensa tumba. Ainda que mestra do mundo, a cidade é a escrava decaída, vergonhosa e desonrada da superstição e do vício. O inimigo do gênero humano se encarnou de algum modo nela e aí reina, como em uma cidadela inexpugnável, cercado tanto de vassalos quanto de estátuas dos deuses sobre os templos e os terraços dos palácios. Roma, centro do poder político que governa o universo, tornou-se o centro da depravação moral e de todos os vícios. Ela atraía para si as forças vitais de todos os territórios, os transformava em venenos e os reenviava assim transformados até as extremidades da terra. Se a humanidade tivesse sido condenada a perecer, o príncipe do mundo não poderia ter escolhido um quartel general mais favorável para sua obra de destruição. Se, ao contrário, ela tivesse de ser salva, seria aí também que a divina misericórdia deveria engajar a luta contra o mal. Ora, é precisamente aí que ela se abre. No território de Roma, sob as verdes pradarias do campo silencioso, trabalhavam misteriosamente, no fundo das alamedas subterrâneas, algumas centenas de braços cheios de atividade e de energia, cujo alvião formava, em um solo avermelhado, um imenso e inextricável labirinto de galerias. Eram os soldados do Cristo que, empreendendo o cerco da metrópole do paganismo, lhe faziam um cinto de catacumbas, como para apertá-la por um vasto sistema de fortalezas. É nesses campos trinchados que eles se exercitavam e se preparavam ao combate; é daí que eles partiam, animados por um santo entusiasmo, para as lutas do martírio. Uma vez a vitória obtida e a palma colhida, eles reconduziam como troféus, às Catacumbas, os corpos dos heróis cristãos. Depositavam com eles, na mesma sepultura, as insignes e os instrumentos do martírio, como eles tinham sepultado outrora os guerreiros com suas armas. Contudo, cada gota de seu sangue era a semente de um novo exército de soldados cristãos, até no dia em que o estandarte da cruz, plantado pelo imperador Constantino, ondulou sobre o Capitólio e que Roma tornou-se o centro vivo de um mundo renovado, o coração que derramou torrentes da fé e do amor de Deus em todas as veias da humanidade.
Plano das Catacumbas

Eucaristia - SÉCULO I

Oferecemos uma idéia da importância histórica das Catacumbas; tentamos descrevê-las. Os cemitérios subterrâneos de Roma, que receberam o nome de Catacumbas apenas a partir do século dezesseis, são exclusivamente de origem cristã. Sua extensão compreende uma zona de duas milhas em torno da cidade, e forma assim uma imensa, silenciosa e santa necrópole. Cavadas nas propriedades de algumas famílias patrícias que tinham abraçado a fé, elas gozavam, sobretudo durante os dois primeiros séculos, da proteção da lei romana, que declarava invioláveis os lugares religiosos. Para melhor designá-las, lhes davam os nomes de seus proprietários cristãos ou dos mártires ilustres que aí eram enterrados.

Loculus, Catacumba de São Calixto

Elas são no total de vinte e seis (26), correspondendo aos vinte e seis títulos ou paróquias de Roma; e, se acrescentarmos aí algumas catacumbas pequenas, posteriores a Constantino, chegaremos a um total de quarenta, que formam uma rede subterrânea de ruas sepulcrais. Constituídas regularmente e perpendicularmente em um terreno de formação plutônica, resistente, (…), essas ruas se cruzam infinitamente e formam, geralmente, séries de andares sobrepostos, que chegam algumas vezes até cinco. Nessas alamedas, conhecidas ordinariamente sob o nome de galerias, aplicaram, ao longo das paredes, desde o chão até o alto, cortes horizontais. São os nichos sepulcrais, os loculi, nos quais, semelhantes aos passageiros que se entregam ao sono embalados por balanços do navio, repousam os mortos cristãos, frequentemente até quatorze colocados uns sobre os outros, sem distinção de posição, idade nem de sexo. Cada polegar do nicho, cada metro quadrado da parede é usado com economia; mas cada um, criança ou adulto, tem sua tumba cavada na rocha, e onde ninguém tinha sido enterrado. As galerias, entre uma altura de sete a quinze pés, são tão estreitas, que freqüentemente uma pessoa basta para ocupar a largura. Mas seu comprimento é tamanho que, se pudéssemos reuni-las todas juntas, extremo a extremo, teríamos perto de trezentas léguas de caminho a percorrer, e passaríamos ao lado de quatro a seis milhões tumbas.

Esse trabalho de escavação e de corte das galerias sepulcrais e das loculi, assim como dos cortes mais espaçosos das capelas, era confiado à uma corporação ou confraria de verdadeiros imitadores de Tobias, aos fossores, coveiros, que eram preparados para sua vocação por um tipo de ordenação ou de bênção eclesiástica.

As Catacumbas de Roma – Destinação e finalidade das Catacumbas

Cinco Santos - Igreja Primitiva
Esforcemo-nos, depois desta curta descrição, em descobrir para qual fim estas Catacumbas foram cavadas. Sua destinação original e primeira sai claramente do nome que elas levavam na antiguidade cristã. Elas eram chamadas cemitérios, coemeterium, ou seja, lugar de descanso, dormitório. Elas tinham então servido primitivamente de lugar de sepultura aos cristãos de Roma. Tão logo eles consideraram seus corpos como os membros do Cristo, como os templos do Espírito Santo e vasos de eleição, eles não quiseram nem queimá-los sobre uma fogueira, segundo o costume pagão então em vigor, nem expô-los para serem desonrados pelos infiéis. Ademais, como eles estavam destinados para resplandecer um dia cheios de magnificência e de luz na glória divina, eles os deitavam como uma semente no campo abençoado; ou ainda, segundo a palavra mais expressiva dos primeiros cristãos, eles os depositavam aí, como se deposita, para conservá-lo, um tesouro em lugar seguro. Estes não eram mortos, eram homens adormecidos: ademais, o lugar de sua sepultura se chamava um dormitório, onde eles descansam dos trabalhos da jornada, até que venha a aurora e que o som do trompete os desperte.



Maria e o Menino Jesus no Colo

Transportemo-nos um instante em um destes subterrâneos. Uma carroça atrelada a dois cavalos acaba de entrar sob a abóbada escura de uma pedreira de areia, de uma arenária abandonada. É a carroça dos mortos, auxiliar indispensável durante os dias tão difíceis da perseguição. Os fossores, revestidos com os hábitos de sua ordem, esperam o recém chegado com impaciência, e com uma mão trémula, descarregam o corpo. Este corpo não foi mergulhado no cal, para escondê-lo dos pagãos, como acontecia algumas vezes. Os fiéis, vigias dos mortos, o pegaram, completamente sangrento, no próprio lugar da execução, e se apressaram em levar seu espólio precioso ao tesouro da Igreja. Um coveiro, já branqueado pela idade, precede e ilumina os carregadores. Ele os conduz em um canto da arenária onde uma escada secreta abre-lhes o caminho da necrópole cristã. Aí, o bispo e os fiéis saúdam, por cantos solenes, o despojo do herói, e o cortejo fúnebre se coloca em marcha. Nestes corredores silenciosos, ressoa, suave como o canto dos bem-aventurados, a salmodia divina, e seus sons misteriosos repercutem através das galerias. As chamas carregadas pelos acólitos, se refletindo sobre estas muralhas avermelhadas pelo tufo litoide, formam milhares de estrelas que cintilam subitamente e se apagam imediatamente, enquanto que os sepulcros, cujas filas se prolongam indefinidamente de cada lado, formam com seus habitantes pacíficos uma cerca de honra para o novo concidadão que faz aí sua entrada. Os tijolos amarelados e as placas de mármore branco que fecham a entrada das tumbas, brilham sob os reflexos móveis da luz, como distintivos de ouro e de prata que seriam incrustados ou encaixados na púrpura. Eles parecem se movimentar! A luz os torna expressivos; ela  faz deles como emblemas transparentes, e mais de uma inscrição comovente, mais de um símbolo cheio de frescor e de delicadeza, executado sem arte pela mão inábil do coveiro, anuncia a paz do céu, a esperança inabalável, a confiança jovial, e parece ser, por assim dizer, uma resposta aos versículos salmodiados pelo coro que passa. Tudo, em torno destas placas de mármore, parece selar no morteiro, como guirlandas de honra, sinais expressivos da memória e da afeição imortais. Aqui, há uma moeda, ou uma concha, ou um camafeu que atinge o olhar; ali, é uma pedra cintilante ou um fragmento de cristal encaixado no ouro. Mais adiante, marcas de cera, representando a forma da planta do pé e cobertas de divisas cristãs, emolduram a fina tabuleta que cobre a tumba. Quando é um mártir que mora no loculus silencioso, a mais invejável das joias assinala aí sua presença: um frasco de vidro, de argila ou de ónix, contendo o sangue precioso do mártir, e na frente uma lâmpada acesa. O cortejo fúnebre já percorreu várias galerias. Assim que ele penetra em uma nova alameda, uma lâmpada, sentinela discreta que vigia sem ruído no fundo de seu nicho, parece saudá-lo. Logo esta lâmpada é decorada com um ornamento emblemático; logo ela toma a forma de uma pomba, de um peixe ou de um barco. Ela une alegremente sua luz fraca com o brilho das velas.

Nesse meio tempo chegamos ao espaço reservado ao defunto. Desta vez, não é uma simples abertura em uma destas longas ruas sepulcrais. Para honrar o mártir, os fossores lhe prepararam uma grande escavação, um arcosolium. Isso é um tipo de sarcófago esculpido no tufo e coroado por um nicho em abóbada rebaixada.


Eucaristia - Ultima Ceia

Os necróforos ou carregadores se detém e depositam no solo seu precioso fardo. Como aquele de Jesus, este corpo está embalsamado com aromas preciosos e envolvido em uma mortalha.

O serviço deposita em sua fronte vitoriosa uma coroa de louros, e o pontífice conclui a bênção. Piedosos lábios ainda cobrem de beijos o santo despojo; depois o introduzem na abertura preparada. Ao lado, colocam um pequeno vaso cheio do sangue que foi derramado em testemunho de Jesus Cristo, e uma urna de aromas, cujo odor suave, imagem do perfume da santidade, perfuma a tumba e a cripta. Mas logo a tumba torna-se a mesa eucarística; a pedra que fecha sua abertura serve de pedra de altar; sobre ela o bispo celebra o sacrifício da nova aliança, sacrifício ofertado à glória do Altíssimo, em honra do bem-aventurado que acaba de receber a coroa celeste.

Consagradas, sobretudo, para a sepultura dos cristãos, que são irmãos e irmãs em Jesus Cristo, as Catacumbas receberam ademais, pela força das coisas, outra destinação. Nos dias da perseguição, elas tornaram-se a morada temporária do Papa, do clero e de alguns leigos de distinção, particularmente designados pelo ódio dos tiranos. Elas foram também o lugar de reunião dos fiéis para a celebração do culto.

Esta última destinação tornou insuficientes as câmaras sepulcrais de algumas famílias e os arcosolia dos mártires. Eles fizeram então escavações em forma de capelas mais ricamente decoradas, com um arcosoliumou um altar livre situado sobre um sarcófago. Ao lado ou por trás encontrava-se a sé episcopal, e ao longo da parede um banco de pedra para o clero. A credência consistia em um nicho feito no tufo ou em suportes talhados em relevo. Ao coro, compartimento no qual ficavam os homens, correspondia, regularmente, do outro lado da galeria, a capela das mulheres, que tinha vista sobre o coro. Uma passagem, luminare, feita na parte superior e dando acima da separação, levava a cada uma das duas naves a luz e o ar constantemente renovado.

Algumas vezes encontramos um terceiro espaço, sem ornamentação de nenhum tipo. Ele estava em comunicação com o presbyterium por uma abertura destinada à transmissão das palavras: é aí que se reuniam os penitentes e os catecúmenos. Nestas criptas morou por um longo tempo toda uma série de papas desde São Pedro até São Marcelo e Santo Eusébio. O santo papa Caio, sobrinho do cruel Diocleciano, permaneceu aí oito anos inteiros. É aí que eles instruíam e batizavam os fiéis, que eles ordenavam os padres e estabeleciam a disciplina eclesiástica. É daí que eles governavam todo o rebanho do Cristo, daí que eles datavam suas bulas pontificais e exerciam seu encargo pastoral e apostólico. É daí que eles enviavam os fiéis, alimentados do pão dos fortes, para o campo de batalha do martírio, e saíam, enfim, eles também, quando se tratava de ir morrer por Jesus Cristo. A santidade inseparável das tumbas e o temor de se expor aos perigos nos labirintos desconhecidos davam a estes refúgios subterrâneos toda a segurança desejada contra os inimigos do nome cristão. Assinalamos, não obstante, circunstâncias excepcionais nas quais esta necrópole deixou de ser um asilo inviolável. Assim, Santo Emerenciano foi apedrejado em uma cripta, São Cândido precipitado por um luminare. Em outro momento, todo um bando de cristãos foi enterrado vivo perto da tumba dos santos mártires Crisanto e Daria. Assim ainda, em 261, o santo papa Sisto II, celebrando os santos mistérios nas Catacumbas, em presença de um grande número de fiéis, foi morto com quatro diáconos. Pouco tempo antes, outro papa tivera o mesmo destino. Era Santo Estevão I. Em virtude de uma ordem imperial, ele foi arrastado ao templo de Marte. Ele escapou por milagre das mãos de seus carrascos e se escondeu com seu clero nas Catacumbas de São Calisto. Por muito tempo ele deu ao seu rebanho, já considerável, todos os cuidados de um bom pastor. Uma tardinha – depois de um dia quente do mês de agosto – os fiéis foram convocados, como de costume, para uma assembléia santa. Aquele que, neste momento, estivesse caminhando na via Ápia, fora dos muros, teria podido ver, de tempo em outro, ou sozinhas ou em pequenos grupos, sombras caminhar rapidamente, resvalar-se e desaparecer atrás dos murros de uma vila solitária. Eram os cristãos que, para o ofício noturno, se apressavam em penetrar no cemitério de Lucina, ramificação das Catacumbas de Calisto. A senha dada, a porta se abria diante deles, e eles percorriam silenciosamente as alamedas subterrâneas fracamente iluminadas. Ei-los chegando. As mulheres, completamente cobertas de véu, se voltam para a esquerda, dando uma saudação silenciosa às viúvas consagradas a Deus. Os homens penetram na capela da direita, da qual um clérigo guarda a entrada. Os arcos e as muralhas estão ornados com pinturas simbólicas, nas quais a luz suave das lâmpadas empresta um charme todo particular. Tudo respira a piedade e o recolhimento. No fundo, sobre o túmulo de um mártir, se levanta um altar simples, onde o diácono prepara os vasos sagrados. Os fiéis que chegam depositam no nicho mural sua oferta de pão e de vinho e esperam em pé que a ação santa comece, enquanto que o clero se coloca no presbyterium. A cena se concentra, sobretudo, na pessoa venerável de Santo Estevão, sentado sobre uma sé de mármore. Seu olhar doce de pai repousa com amor sobre seu pequeno rebanho. Ele se levanta. De sua boca de profeta saem ondas carregadas de palavras de paz e de encorajamento, que penetram os corações dos fiéis e produzem uma emoção poderosa na assembléia. O pontífice sobe então ao altar, e, virado para o povo, ele começa os santos mistérios. Que luminosidade sobrenatural ilumina sua face quando ele eleva as mãos! Que chamas maravilhosas jorram de seus olhos quando ele contempla o Cordeiro de Deus estendido diante dele! É isso o antegozo da felicidade próxima do qual o pressentimento apanhava o nobre ancião?  Escutem… ouvimos um tinido de armas… a luz das tochas já são avistadas na galeria vizinha; uma tropa se aproxima;… são os temíveis servos de César. O respiradouro ou luminare lhes conduziu o som dos cânticos e lhes revelou, por isso, o asilo dos cristãos. Eles abrem violentamente uma passagem. Mas um poder sobre-humano parece cravá-los na soleira da cripta sagrada. O Papa termina o sacrifício, reza pelos perseguidores, e os soldados só saem de seu torpor miraculoso quando Estevão volta para seu trono. Eis então que a tropa se precipita sobre ele, a espada nua, e faz uma vítima gloriosa daquele que agora mesmo oferecia o sacrifício. Eis nossa estrada aplainada. Ela nos conduziu ao fim que nos propomos ao escrever estas páginas. As Catacumbas, pilhadas e devastadas durante a invasão dos bárbaros, mais tarde cobertas de terra em conseqüência de desabamentos, caíram completamente no esquecimento e foram uma região desconhecida até o tempo (1593) de Antonio Bosio, de Malte. Com este sábio, o Cristóvão Colombo da Roma subterrânea, começaram as escavações sérias, destinadas a  despertar o interesse que se liga naturalmente às Catacumbas, e que forneceram as bases da ciência da qual elas são objeto. Mas é para nosso século, e, sobretudo, no reinado glorioso de Pio IX, que estava reservada a glória de dar a estas pesquisas uma impulsão cujos resultados ultrapassam as esperanças mais ousadas. Pio IX, este outro Dâmaso, realizou, durante quase vinte anos, e ao preço dos mais nobres sacrifícios, escavações que permitiram ao ilustre de Rossi publicar, em obras doravante clássicas, uma profusão de descobertas extremamente interessantes e de construir o edifício científico mais completo com a ajuda dos materiais conquistados. É somente após a conclusão destas obras que veremos dele o prêmio imenso para todos os ramos da ciência cristã. Esperamos, não obstante, pela análise dos resultados já adquiridos, poder contribuir, de nossa débil parte, com a apologética do catolicismo.


As Catacumbas de Roma – O Culto dos Santos

Cristo, Pedro e Paulo

Os monumentos que possibilitarão que façamos uma idéia exata da Igreja primitiva são os monumentos fúnebres.

Esta circunstância vai determinar a direção de nossas pesquisas. Estas pesquisas estarão naturalmente circunscritas pelo dogma que tem maior relação com a destinação das Catacumbas, a saber, a comunhão dos santos, ou seja, a Igreja triunfante, a Igreja padecente e a Igreja militante.

As almas dos mortos que morreram na graça divina estão, segundo o ensino da Igreja católica, juntas de Deus; sua morada foi estabelecida na paz do céu; elas gozam da glória e da felicidade eternas. Os túmulos das Catacumbas nos oferecem os mesmos ensinos? Iremos interrogá-los, restaurar as inscrições sepulcrais e a iconografia dos três primeiros séculos, que poderá vir em nosso socorro. Como o nosso espaço é curto, faremos apenas as citações que se justificam por sua importância dogmática.

Percorramos então os seguintes epitáfios:

“Prima, você vive na glória de Deus e na paz de N.S.J.C. VIVIS IN GLORIA DEI ET IN PACE”.
“Cheio de graça e de inocência, Severiano repousa aqui no sono da paz; sua alma foi recebida na luz do Senhor. IN LVCE DOMINI SVSCEPTVS”.

“À merecedora Saxonia: ela repousa em paz na casa eterna de Deus”.
“Lourenço nasceu para a eternidade com a idade de vinte anos; ele descansa em paz. NATVS EST IN ETERNVM”.
“Ursina – Agape – Alogia – Felicíssima – Fortunada, etc.., vivem na paz – em Deus – sempre – eternamente”.
“Hermaniscus, minha luz, vives em nosso Deus e Senhor J.C.”.
“Marciano, neófito, os céus estão abertos para ti, tu viverás na paz. CELI. TIBI. PATENT. BIBES. IN. PACE”.
Enfim:

“Alexandre não morreu; mas ele vive além dos astros; após uma brevíssima vida, ele brilha no céu. IN COELO CORVSCAT”.
Assim, aqueles que dormiram na paz de Deus, os justos repatriados, vivem eternamente. Eles foram admitidos na plenitude da luz de Deus, na casa do Senhor, na glória do Cristo. Eles nasceram para a eternidade; os céus se abriram diante deles; eles brilham aí com uma luminosidade parecida àquela dos astros. Eis a melodia ao mesmo tempo doce e forte que escapa, com um perfeito acordo, do meio dos túmulos subterrâneos, e que traz a consolação nos corações daqueles que esperam ainda o fim de seu exílio. Que protestação solene não há nesta alegre e triunfante harmonia, nesta santa confiança da Igreja apostólica, contra estas opiniões lamentáveis e pretensamente primitivas do século XVII, que não querem saber de nada da Igreja triunfante, que só admitem a entrada no céu para Jesus Cristo, e que declaram que é temerário examinar se as almas dos justos estão na felicidade; que condenam mesmo os mortos a uma espécie de dormição invencível da inteligência e da vontade, a um exílio de vários milhares de anos no vestíbulo do céu, onde eles esperam até o julgamento último a felicidade prometida!

A fé católica não se limita a esta doutrina consoladora que abre o céu às almas dos justos. Ela admite também entre o mundo terreno e o outro mundo, entre a Igreja militante e a Igreja triunfante, uma troca de relações. Todos os homens resgatados são membros de um único corpo em Jesus Cristo, formam uma sociedade, uma família imensa, unida pelo laço da caridade. Esta união espiritual ocorre por meio da oração. Os bem-aventurados nos prestam o socorro de sua intercessão e de sua assistência; do nosso lado, nós lhes pedimos este socorro na veneração e na afeição.

Festa do Ágape

Tal é a doutrina da Comunhão dos santos. Examinemos se ela se revela nas Catacumbas. Aqui, o olhar encontra, sobretudo, acima dos arcosolia, um grande número de imagens de mártires ou de fiéis mortos. Elas estão freqüentemente cercadas de símbolos do paraíso, flores, aves, palmas, e sempre na atitude da oração. Estes braços elevados, esta relação cheia de fervor diz em demasia que, lá no alto, os eleitos não são simples espectadores que se contentam em gozar, mas fiéis associados de seus irmãos ainda em luta sobre a terra.

E esta fé, que expressão poderosa não encontra nas inscrições!

“Sutius, reze por nós, afim que sejamos salvos. PETE PRO NOS (sic) VT SALVI SIMVS”.
“Augenda, vive no Senhor e intercede por nós. EPΩTA”.
“Anatolius, ore por nós. EYXOY”.
“Filho, que teu espírito descanse em Deus; interceda por tua irmã. PETAS”.
“Matronata Matrona, ore por teus pais Ela viveu um ano e cinquenta e dois dias. PETE”.
“Atticus, teu espírito vive no Bem: implore por teus pais”.
“Joviano, viva em Deus e seja nosso intercessor”.
“Sabatius, doce coração, ore e implore por teus irmãos e teus companheiros. PETE ET ROGA”.
“Aqui descansa Ancilladei. Ore pelo único filho que te sobreviveu, porque tua morada está na paz e na felicidade eternas”.
“À minha digníssima filha adotiva Felicidade, que viveu trinta e seis anos”. “Dignai-se em orar por teu esposo Celsiniano”.
“Gentiano, o fiel, em paz. Ele viveu 21 anos… em tuas orações interceda por nós, porque sabemos que está em J.C.”.
Enfim, para concluir a série dos exemplos que citamos:
“À nossa dulcíssima e trabalhadora mãe Catianilla: que ela reze por nós EYXOITO”.
É assim que os olhos e o coração dos sobreviventes atravessam o sepulcro e penetram até ao céu. É assim que o olhar e o amor procuram e encontram os eleitos, os assaltam com orações ferventes, lhes fazem participantes de suas penas com uma confiança infantil e lhes fazem piedosas recomendações. Não está aí a verdadeiro espírito católico na plenitude da caridade e na infalibilidade da certeza?

Mas, dirão alguns, estas invocações piedosas, estas orações dirigidas aos santos, não são, talvez, apenas homenagens privadas, que não supõem nem determinam um culto público, oficial, litúrgico?

A isto responderemos: A partir do momento em que se trata de uma prática litúrgica, relativa ao culto dos santos, trata-se de um princípio católico que não é legado ao arbítrio individual; não obstante, não faltam monumentos que testemunham as homenagens dadas pela Igreja aos bem-aventurados. Há nas Catacumbas dois tipos de inscrições que tem feição com o culto, ambas caracterizadas liturgicamente pela expressão ainda em uso: Em nome de… IN NOMINE.

Elas compreendem: 1º votos suplicativos em nome de Deus, do Cristo ou de Deus Cristo. Por exemplo:

“Zózimo, vive em nome do Cristo”.
“À Selia Victorina, que descansa na paz em nome do Cristo”.
Nestes casos, a invocação se dirige diretamente a Deus, único adorável, único onipotente, único dispensador das graças. Mas há também em segundo outras invocações em nome de um santo; e então a oração se dirige indiretamente a Deus, diretamente ao poder de intercessão do santo. Um túmulo, entre outros, fala assim:

“Rufa, viverá na paz do Cristo, em nome de São Pedro”.
Ou seja, por meio de sua intercessão. Sobre um cálice descoberto nas Catacumbas, se lê esta inscrição em letras douradas: “Vito, vive em nome de Lourenço”; em outro, no mesmo sentido, se lê: “Eliano, vive em Jesus Cristo e São Lourenço”, ou seja, vive na graça de Jesus Cristo, pela intercessão de São Lourenço.

O culto público dado aos santos está doravante provado pelo fato incontestável que davam aos mártires mais ilustres, por um tipo de canonização, títulos honoríficos em uso na Igreja, por exemplo: “Senhor, Poderoso intercessor diante do trono de Deus, DOMINVS, DOMNVS ou simplesmente D.”

A partir do século III já se observa o título de Santo (dominus), Sanctus. É assim que encontramos saudações no gênero destas aqui: “Senhor Pedro, Paulo, Estevão, Sisto, etc.; Senhora, Domina Basila”, etc.. Mais tarde lemos: “Ao santo mártir Máximo”; “Ao Pai onipotente, ao seu Cristo e aos santos mártires Taurinus e Herculanus, eternas ações de graças da parte de Nevius, Diaristus e Constantino”.

Não pretendemos acumular as provas epigráficas, mas buscar a luz ainda em outras partes, nas pinturas e nas imagens.

Cenas Bíblicas:

Mulher com Fluxo de Sangue

Sacrifício de Isaac

Profeta Jonas

Os Três homens da Fornalha


Ressurreição de Lázaro


Suzana Entre os Dois Anciôes


Fonte: Dom Maurus Wolter. Les Catacombes de Rome et la doctrine catholique. Paris, G. Téqui, 1872.

Tradução: Robson Carvalho